EDUCAÇÃO
Pré-vestibular gratuito do governo atrai quase 20 mil estudantes
Alunos da rede pública estadual utilizam programa para ampliar chances de entrar na universidade
A estudante do terceiro ano do Ensino Médio Sandrielle de Oliveira Silva, de 17 anos, tem grandes expectativas para este ano. Após ver amigos seus serem aprovados na universidade depois de participarem do programa Universidade Para Todos (UPT), ela espera ter o mesmo destino. “Tenho colegas que dizem que o programa foi um divisor de águas para eles entrarem na universidade, e acredito que será o mesmo para mim”, avalia. “As aulas são enriquecedoras, e apesar do desafio que é trabalhar e estudar, saio feliz por absorver esse conhecimento.”
Com R$ 15 milhões investidos só este ano e 19.426 beneficiados, o UPT é o pré-vestibular gratuito da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), voltado para estudantes da rede pública do Estado que estejam no terceiro ano do Ensino Médio regular ou no quarto ano da Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio, estadual ou municipal. Com aulas de segunda a sexta-feira – e atividades complementares nos fins de semana –, as ações pedagógicas do UPT abordam componentes de todas as matérias curriculares.
Sandrielle explica que os monitores são exemplares ao abordarem os conteúdos, o que “desperta meu senso crítico com uma didática diferente” da escola. “Com certeza, vou ouvir a voz deles durante o as provas do Enem e vestibular”, projeta, aos risos.
A estudante também participou do Vira Vida, projeto mantido pelo Sesi Bahia, com apoio da SEC, que promove a elevação da autoestima e da escolaridade de jovens vulneráveis. Uma participação que, segundo a estudante, a ajudou a “dar um grande salto” na vida. “Esses programas voltados à juventude tem um valor imensurável”, afirma.
Quem bem sabe disso é a bióloga Rutiléa Mendes de Morais, de 29 anos. Bióloga, mestra, doutoranda e mentora de trabalhos acadêmicos, Rutiléa participou do UPT em 2013 e recorda dos simulados, grupos de estudo e de poder contar com professores capacitados que possibilitaram que ele fosse aprovada em Nutrição na Ufba, História na Uneb e Biologia na Uesc – e escolheu esta última.
“O UPT foi fundamental em minha carreira, pois me inseriu em contextos de revisão e aprendizado de conteúdos essenciais para conquistar a tão sonhada vaga no Ensino Superior”, lembra. “O programa não apenas facilitou meu ingresso na universidade, mas também contribuiu para a minha permanência. Fui secretária de apoio escolar em 2017 e monitora de coordenação em 2018, experiências que subsidiaram a minha graduação.”
Histórias
Mães e filhos juntos no programa e na universidade, pessoas com mais de 50 anos que retornam aos estudos, cursistas aprovados em mais de uma universidade pública e ainda outros que voltam para o UPT como monitores. “Temos histórias o suficiente para escrever um livro”, afirma, orgulhosa, a coordenadora-geral do UPT, Patrícia Matos Machado, apontando que o programa dá aos estudantes da rede pública condições de ingressar no ensino superior, “dando a todos a possibilidade de construir um futuro de mais oportunidades”.
Bacharel em psicologia, pós-graduado e mestrando, Bruno Santos da Conceição, de 26 anos, foi aluno do UPT em 2015 e conta que veio de uma trajetória em que tais programas são cruciais. “Principalmente para ressignificar a minha realidade: sou um jovem preto, pobre, e o primeiro da minha família a ter o diploma de ensino superior e entrar no mestrado”, conta. “E todas essas conquistas só são possíveis porque existem políticas públicas eficazes que contemplem essa camada da sociedade que a muito tempo é esquecida e silenciada.”
A realidade, aponta o ex-aluno do UPT, é que a juventude necessita ainda de muitas outras políticas públicas eficazes para os auxiliarem na construção de um Brasil onde eles sejam participativos. “E onde não haverá limites para o alcance das mudanças que eles podem produzir com oportunidades”, acrescenta Bruno. “Sempre digo que sou resultado e estou devolvendo para a sociedade aquilo que foi investido em mim.”
Auxílio
Em 2024, o UPT está sendo executado nas federais UFRB, UFSB e UFOB, e nas estaduais Uneb, Uesc, Uefs e Uesb, sendo que nessas últimas também estão os estudantes de outro programa da SEC, o Mais Futuro, que oferece três tipos de auxílio permanência: Básico (era R$ 300 e passará a ser R$ 400), para estudantes que residem perto da universidade; Moradia (era R$ 600 e passará a ser R$ 800), para os que moram a mais de 100 km da universidade, e o Complementar, que é calculado a partir dos benefícios já recebidos.
“Esses programas afirmam a Educação Superior Pública como uma política de Estado, trazendo a inclusão social de forma justa, participativa e democrática no ensino superior público, contemplando estudantes vinculados à grupos sociais mais vulneráveis e historicamente excluídos”, explica o titular do comitê executivo do Mais Futuro, José Carlos Barreto Sodré. Ele também destaca a ajuda que o programa dá na inserção dos jovens no mundo do trabalho – em especial por meio das opções de estágio na segunda etapa do Mais Futuro.
Beneficiado do Mais Futuro e estudante de design na Uneb, Aristoteles Santos Souza, de 26 anos, está justamente nessa segunda etapa – estagia na Unidade Acadêmica de Educação a Distância, da própria Uneb. “Sou do perfil Moradia e esse auxílio tem me ajudado a ficar em Salvador, já que sou de Feira de Santana”, conta. “Imagino que para muita gente como eu, que tem uma situação financeira mais delicada e limitada, seria praticamente impossível frequentar um curso em outra cidade sem esse tipo de apoio.”
Construir para Educar’ qualifica equipamentos
Priscila Dórea e Redação
É consenso entre os especialistas que um bom local de estudo reflete na qualidade da aprendizagem dos alunos. Foi nesse contexto que o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, apresentou, na última segunda-feira (26), o projeto Construir para Educar, que vai aportar R$ 1,2 bilhão para a construção e modernização de 79 colégios estaduais por todo o estado. “Não é para o futuro, é para o agora, é para o presente”, afirmou o governador na cerimônia.
O investimento na educação baiana, o esforço para requalificar os equipamentos e ampliar as opções de ensino em tempo integral têm gerado resultados. A Bahia registrou avanços pelo terceiro ciclo consecutivo no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), chegando, em 2023, a nota de 3,7 para o ensino médio estadual – em 2019, a nota no índice era 3,2 segundo o Ministério da Educação (MEC).
Desde 2019, 84 novas escolas foram construídas, 39 foram ampliadas, 57 modernizadas e 1.581 reformadas. “Isso qualifica a sala de aula e a gente já colhe frutos agora, com o crescimento da Bahia em três ciclos consecutivos nos indicadores de aprendizagem, indicador da educação básica”, aponta a titular da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), Rowenna dos Santos Brito. “É importante a gente falar isso, porque esse projeto arquitetônico, de infraestrutura, tem diálogo direto com a permanência dos estudantes na escola, tem diálogo direto com a garantia da segurança, da proteção e do cuidado dos nossos estudantes aqui, na Bahia.”
SERVIÇO – Conheça os programas
Universidade Para Todos
Pré-vestibular gratuito que contempla estudantes da rede pública de ensino regularmente matriculados.
Órgão: Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC)
Lançamento: 2004
Mais informações: www.processoseletivoupt.educacao.ba.gov.br
Mais Futuro
Beneficia estudantes da Uneb, Uesc, Uesb e Uefs com auxílios moradia e permanência.
Órgão: Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC)
Lançamento: 2015
Mais informações: nos sites das respectivas universidades e em www.maisfuturo2.educacao.ba.gov.br
ViraVida
Educação continuada, qualificação profissional, atendimento psicossocial e outros serviços, para jovens vulneráveis de 16 a 21 anos que estejam cursando o primeiro ano ou concluído o ensino médio.
Órgãos: Serviço Social da Indústria (Sesi Bahia) e SEC
Lançamento: 2009
Mais informações: www.sesibahia.com.br
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