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Professora fortalece educação antirracista na Bahia

Ao conquistar premiação nacional, educadora empodera alunos do ensino fundamental

Publicado sábado, 29 de abril de 2023 às 05:20 h | Autor: Lívia Oliveira
Professora é premiada por trabalho com educação antirracista
Professora é premiada por trabalho com educação antirracista -

Apaixonada por lecionar, Vitalina Silva, 57, pode passar horas a fio falando dos seus alunos, das dúvidas deles, dos anseios e dos projetos que os deixam animados. Como toda professora, sente orgulho dos projetos e ambições dos estudantes do Fundamental II do Centro Educacional Maria Quitéria, em Camaçari. 

Com tanta dedicação e esforço, não é à toa que foi uma das vencedoras da segunda edição do Prêmio do Movimento LED - Luz na Educação na categoria Educadores, exibido na última quarta-feira, 26, pela Rede Globo. O prêmio garante R$ 200 mil para cada uma das seis iniciativas vencedoras.

Estudar

Nascida em Cachoeira, em 3 de dezembro de 1965, Vitalina Silva sempre carregou em si a vontade de estudar. Seus pais, Alfredo Silva e Georgina Maria, tiveram 5 mulheres e 2 homens, sendo Vitalina a penúltima filha. O pai, maquinista, trabalhava viajando e vivia contando várias histórias de lugares e pessoas que conhecia. Já a mãe era dedicada à família e não conseguia ficar parada, fazia de tudo, desde costuras, bordados, bolos e comidas especiais.

“Mas tanto ela quanto meu pai colocavam a educação como prioridade, a gente precisava estudar, como ela falava, para não ter que trabalhar na cozinha dos outros”, relembra Vitalina. Ela traçou o seu caminho para o curso de Letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Assim, teve oportunidade de fazer uma seleção para trabalhar com educação na Secretaria do Estado, e passou a trabalhar com políticas públicas educacionais. 

"Trabalhei com plano de ações articuladas, com programa de formação para gestores, comecei a fazer formação para professores no estado da Bahia. Viajei muito, comecei a viajar a Bahia toda por esse trabalho e me achei”, ainda relembra. 

Até chegar ao prêmio LED, Vitalina caminhou muito e precisou construir bastante. Nesse processo, entrou na rede de educação de Camaçari em 2010. “Estou na rede há 13 anos, não foi sempre na rede que me atentei a trabalhar com questões étnicos raciais, porque não fui formada para isso. Não fui forjada nessa luta, eu fui provocada. Em especial, quem me esforçou muito sobre isso foram as questões do meu filho, que fez pré-vestibular na Steve Biko, nas discussões que ele tinha no instituto, ele trazia para casa e eu não tinha muita resposta para dar”, a educadora explica. 

Em 2019, passou a atuar no Maria Quitéria, onde de cara já achou que era um lugar diferenciado, democrático e atento com os temas da sociedade e dinâmicas dos professores. Lá, começou a trabalhar com os alunos o racismo e também obras de autores negros da literatura de maneira mais lúdica, com teatro, podcast, criação de jornal, jogos. 

“A primeira ação que nós tivemos foi apresentar esse projeto numa universidade em São Paulo, na Unicamp, se não me engano. Nós apresentamos e foi muito bem recebida, foi muito elogiada. E aí eu vi uma chamada para o LED, e aí pensei: 'será que a gente consegue inscrever o projeto em alguma coisa assim?' e aí fui ler o edital e achei que era possível”, Vitalina prossegue. Ao saber que estava entre os 60 projetos selecionados, comemorou e fez uma verdadeira festa e se manteve positiva para a próxima etapa, com o pensamento de que a parte mais difícil já havia passado. 

O apoio, a festa e a divulgação feita pela família foi fundamental. “Eu tô muito feliz porque a repercussão é para a educação, é repercussão para escola, para os meus estudantes, e também para os professores. É muito importante”, comemora. Ela dedica o prêmio aos alunos. “Eles receberam esse prêmio dividindo comigo. Eles têm que entender que tudo isso foi realizado por eles. 

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