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Sistema federal busca incentivar e interligar bibliotecas escolares

Na rede estadual, os equipamentos estão presentes em 702 escolas, mas falta sistematização e acesso digital

Publicado segunda-feira, 29 de abril de 2024 às 07:00 h | Autor: Jane Fernandes
Bibioteca do Centro Mãe Stella
Bibioteca do Centro Mãe Stella -

Enciclopédias com abordagem aprofundada, literatura nacional e estrangeira, versões em HQ de clássicos mundiais, tudo isso ao alcance das mãos dos estudantes. É assim que funcionam as bibliotecas escolares, com suas estantes servindo de passaporte para diferentes mundos. O governo federal deu um importante passo para a valorização destes espaços, tornados obrigatórios e classificados como equipamento necessário ao processo educativo.

Publicada em 9 de abril deste ano, a Lei 14.837 cria o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE), com diversos objetivos, entre eles incentivar a implantação de bibliotecas escolares em todas as instituições de ensino do país; promover a melhoria do funcionamento da rede atual, para atuarem como centros de ação cultural e educacional permanentes; e definir a obrigatoriedade de um acervo mínimo com base no número de alunos matriculados na escola.

Atualmente, 702 escolas da rede pública estadual têm bibliotecas, informa a Secretaria da Educação do Estado (SEC). Uma delas está no Centro de Educação, Inovação e Formação da Bahia Mãe Stella (CEEINFOR), no Cabula, onde Erick Santos Pereira, 16 anos, cursa o 2º ano do ensino médio. “Gosto muito de ler, principalmente livros de história”, conta o adolescente, cuja leitura mais recente do acervo escolar foi uma enciclopédia sobre a história do continente africano.

A biblioteca é o espaço para onde Erick sempre vai nos intervalos das aulas. Ele gosta de passear pelas estantes e dar uma olhada nos livros disponíveis. Quando se encanta com algum, logo leva para casa. O empréstimo é permitido mediante cadastro e começa com prazo inicial de 8 dias, podendo ser prorrogado algumas vezes. Para ele, a leitura também é um hábito em casa, onde mantém uma coleção de livros que era do pai.

“Eu gosto bastante de estar aqui conversando com minhas amigas e colegas, mas também me interesso bastante pelos livros, principalmente de ficção científica”, conta Emile Iara Oliveira, 15, do 1º ano do ensino médio. No seu gênero preferido, ela destaca as versões encontradas na prateleira “literatura em quadrinhos”, onde também estão HQs de clássicos mundiais, como Moby Dick.

Formas de uso

“O perfil dos usuários da rede é variado, temos estudantes leitores, escritores, pesquisadores e artistas, muitos buscam literatura, outros pesquisas acadêmicas ou artísticas, outros buscam um espaço de estudo, leitura e orientação, e tem quem vai para o bate-papo ou até se aconselhar com a bibliotecária”, conta a coordenadora do livro didático e da biblioteca da SEC, Alessandra Santana.

Para ela, um dos avanços trazidos pela criação do Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares é o respaldo à implementação do sistema de gestão informacional em rede estadual das bibliotecas escolares. “Após a inauguração, implantação e/ou revitalização de uma centena de bibliotecas escolares, é chegada a hora de sistematização dos nossos serviços digitais”. Na biblioteca do CEEINFOR, por exemplo, ainda não há banco de dados para consulta do acervo.

Segundo Alessandra, o empréstimo de livros é possível na maioria das bibliotecas escolares da rede estadual, mas em algumas há limitações por conta da ausência de um profissional responsável pelo espaço. No entanto, essa ausência não impediria o uso da biblioteca pela comunidade escolar, pois “existem projetos com os professores e coordenação pedagógica para acesso e uso do acervo literário e/ou didáticos”.

Nas escolas da rede municipal de Salvador - voltadas para o atendimento de estudantes do ensino fundamental - a Secretaria da Educação informou, em nota, que as escolas são dotadas de salas de leitura, “espaços bem similares a bibliotecas, equipados com livros, mobiliário, multimídia, etc”.

Universalização

A lei de criação do SNBE prevê suporte do Sistema aos governos estaduais e municipais para criação e atualização de acervos, a transformação dos profissionais vinculados às bibliotecas escolares em “agentes culturais em favor do livro e de uma política de leitura nas escolas”, e o treinamento e qualificação das equipes.

Responsável pelo curso de Pedagogia da Universidade Salvador (Unifacs), Sâmia Paula Santos enfatiza o papel da escola na construção do hábito da leitura. “Se a escola tem um espaço específico para acomodar os livros, para que o aluno entre, se sente, pegue os livros, consulte, faça pesquisa, se deleite nessa oportunidade que é ler, que é ver as figuras, que é interpretar, que é ouvir histórias, ele vai, com certeza, ter uma formação diferenciada”.

Em sua avaliação, para aproximar os estudantes das bibliotecas, os professores devem colocar nos seus planos de aula uma rotina que contemplem esse espaço, desde a visita à realização de momentos de aula. A pedagoga acrescenta as estratégias de encantamento do aluno, a exemplo da citação de autores, compartilhamento de impressões sobre uma leitura, contação de histórias e realização de feiras de divulgação literária.

Rede particular incentiva a leitura desde as séries iniciais

O Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares engloba apenas os equipamentos presentes na rede pública de ensino, mas estes espaços também ocupam papel importante nas escolas particulares. Para o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe-BA), Jorge Tadeu Coelho, a biblioteca deve ter “um acervo que propicie à criança entrar em outros mundos simbólicos, mundos da fantasia, mundos de um pensar livre”.

Segundo Coelho, a importância da leitura está sempre presente nas discussões do Sinepe, que contemplam uma visão além da necessidade de informação, mesmo sem deixar de oferecer acesso a dados, fatos e informações mais cotidianas. “Nomear as coisas do mundo vai se dando desde sempre, então é importante a escola levar as séries iniciais para a biblioteca para ter contato com livros próprios daquela idade”.

Mesmo sem um levantamento sobre a presença de bibliotecas na rede privada no estado, o presidente do Sinepe aposta na presença de acervo de livros e espaço para leitura em todas. “Nas escolas maiores, mais providas de recursos, têm bibliotecas bem equipadas em relação a livros e outros materiais de acesso a esse universo letrado”.

Associado ao Sinepe, o Colégio Antônio Vieira reúne aproximadamente 3 mil estudantes e conta com três bibliotecas físicas, cada uma dedicada a um nível de ensino, além de também dispor de uma biblioteca virtual.

“Os recursos tiveram grandes mudanças ao longo do tempo, mas os acervos são geralmente desenvolvidos levando-se em consideração aspectos, como: a adequação das temáticas à faixa etária do aluno, suporte informacional aos conteúdos curriculares, temas de interesse em pauta na contemporaneidade ou arquivos históricos, além de todo um conteúdo que permeia áreas do comportamento humano”, conta a gestora das bibliotecas do Vieira, Jaqueline Torres.

A gestora observa que a forma de se relacionar com a biblioteca muda conforme a série cursada pelo estudante, enquanto as crianças são levadas ao espaço para atividades lúdicas, como contação de história, os adolescentes do ensino médio frequentam para pesquisa, estudo e participação no clube de leitura.

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