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ALÉM DA APROVAÇÃO

Universidade Para Todos completa 20 anos transformando vidas

Assistência estudantil contribui para manutenção de estudantes na Uneb, que responde por 70% do programa

Por Alan Rodrigues

29/05/2024 - 6:00 h
Alunos do Universidade Para Todos exibem material didático. Oportunidade e recomeço.
Alunos do Universidade Para Todos exibem material didático. Oportunidade e recomeço. -

Criado há 20 anos, o projeto Universidade Para Todos (UPT) surgiu como uma ferramenta para facilitar o acesso à universidade por jovens de baixa renda, sob o formato de curso pré-vestibular gratuito.

Desde 2020 ganhou status de programa, coordenado pelas universidades estaduais, se consolidando como uma das maiores estratégias de extensão universitária da Bahia.

O foco prioritário é a permanência do estudante no Ensino Superior, aliada a uma política de incentivo à monitoria, que estimula entre os alunos o exercício da docência.

O público-alvo do Programa UPT é constituído por estudantes e egressos da rede pública do Estado e, este ano, ofertou 19.426 vagas em 215 municípios nos 27 Territórios de Identidade. Destas, 13.366 vagas foram distribuídas em 150 municípios com pólos coordenados pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB), em 244 locais de funcionamento.

Além dos centros urbanos da capital e interior do estado, o programa está em quilombos, aldeias indígenas, comunidades de pescadores e marisqueiras, erreiros de Candomblé e Umbanda, centros e associações de entidades negras, assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), entre outras.

Simone Wanderley é a coordenadora do UPT na UNEB. O programa tamém está presente nas outras três universidades estaduais, a saber a UEFS (Feira de Santana), UESB (Sudoeste) e UESC (Santa Cruz), além das federais do Recôncavo (UFRB), do Sul e do Oeste da Bahia (UFSB e UFOB).

“Em Salvador o UPT está em 90% das escolas da rede estadual e no interior através de parcerias com escolas municipais”, explica a coordenadora, que destaca os três pilares do programa.

Além do pré-vestibular, criado em 2004, a extensão universitária atua para reter o aluno e incentivar a formação de professores através de monitoria remunerada (R$ 30 a hora-aula) e a preparação para processos seletivos, sejam concursos públicos, a prova do sistema de avaliação do ensino básico (Saeb) ou Enem.

Essa preparação inclui aulões realizados com alunos da rede estadual, orientação profissional e acompanhamento psicológico. Outra iniciativa importante é o Festival das Profissões, que oferece subsídios para o aluno decidir que caminho seguir.

“Além de preparar, é preciso fomentar no aluno o desejo de entrar na universidade. Mostrar que existe uma vida depois do 3º ano (do ensino médio)", defende Simone Wanderley.

Oportunidade

Dos matriculados no UPT 75% são isentos de taxa nos processos seletivos devido ao perfil sócio-econômico e cerca de 15% têm mais de 55 anos. Para atender a esse público, os pólos da UNEB contam com uma ampla política de assistência estudantil.

No pólo de Camaçari, o Campus XIX, que reúne os alunos da Região Metropolitana de Salvador, além da monitoria, o acesso prioritário ao Partiu Estágio, com bolsa de R$ 455 e auxílio-transporte, se soma a programas de iniciação científica e uma residência estudantil com vagas para 24 estudantes.

Diretor do Campus, o professor doutor Sérgio Henrique Conceição comemora o crescimento de quase 100% na aprovação dos alunos do UPT, que saltou de 21 em 2022 para 41 em 2023, num universo de 900 matriculados no programa. “Sem contar Prouni (bolsas concedidas a alunos de baixa renda) e as faculdades particulares, que não temos como acompanhar”, reforça Sérgio.

Por enquanto, os aprovados no Campus XIX estão cursando direito e ciências contábeis, mas, o diretor pleiteia a implantação de três novos cursos: logística; análise e desenvolvimento de sistemas e gestão e inovação, além do mestrado em ciências contábeis. O pólo já conta com doutorado em difusão do conhecimento.

Motivações

Entre os recém-aprovados, várias histórias se cruzam, com perfis e motivações varados. Isaac Lopes tem 18 anos e acaba de ingressar no curso de direito. Ele conheceu o UPT “através de uma palestra que aconteceu na escola quando eu estava no 3º ano do ensino médio”, conta.

Como todo jovem cheio de sonhos, ele vê no direito a oportunidade de “promover mudanças positivas em nossa sociedade” e também pensa se tornar delegado da Polícia Federal.

Colega de Isaac, Iuri Carvalho descobriu o programa em postagens nas redes sociais. Fez o curso noturno, ia e voltava andando mais de um quilômetro para assistir às aulas, mas foi recompensado.

“Quando saiu o resultado entrei em estado de choque. Tenho consciência que o s professores do UPT não estavam ali só para cumprir carga horária, mas para mudar destinos e futuros”, diz Iuri.

Para Márcio Tavares, de 48 anos, o UPT foi a chance de retomar os estudos e vislumbrar novos horizontes. Após 19 anos na Ford, ele perdeu o emprego com o fechamento da fábrica em Camaçari e montou uma empresa de transporte de carga.

Paralelamente, em 2023, decidiu ingressar no programa para realizar o sonho de cursar direito. Aprovado para o segundo semestre, mal consegue conter a ansiedade pelo início no curso.

O interesse surgiu após uma relação de consumo que o obrigou a recorrer à justiça. “Naquela fase comecei a despertar”, lembra Márcio, que vê a advocacia como ferramenta de combate às desigualdades.

“É um curso que prepara para a vida, o sistema é cruel, quando precisei da justiça me senti impotente” diz o futuro bacharel em direito, que pensa em prestar assessoria jurídica para pessoas com dificuldade de acesso a advogados.

Pop Rua

No ano passado, o UPT firmou parceria com a Defensoria Pública e implantou um pólo no colégio estadual Severino Vieira voltado a pessoas em situação de rua, o UPT Pop Rua.

Tiago Juvenal do Santos, ou “Carioca”, como também é conhecido, se transformou em símbolo dessa nova iniciativa. Nascido no Rio de Janeiro, seguiu ainda bebê para o Espírito Santo, nunca conheceu o pai, foi retirado da mãe pelo Juizado da Infância aos 6 anos e passou por vários lares adotivos, onde apanhou muito, como ele conta.

Frequentou escola por poucos anos, com muita dificuldade, “ia pra escola sem sapato, andava 12 km para chegar, não tinha merenda”, recorda Tiago, hoje com 41 anos. Trabalhou em lavoura de cana desde os 9 anos de idade e vendia leite de porta em porta, até que um padre, Eliseu, obrigou seus tutores à época a recoloca-lo na escola.

“Aquilo foi o pontapé para eu ter essa história para contar. Se não fosse por ele eu ia ficar analfabeto e puxando cabo de enxada até hoje”, conta Tiago que, na adolescência, foi morar em Mimoso do Sul, no Espírito Santo, onde conseguiu um emprego onde recebia R$ 100. O aluguel levava R$ 60 e Tiago tinha dificuldade para se alimentar. “Eu levava a marmita para o colégio e enchia pra levar pra casa”, lembra.

Com esforço chegou ao 2º grau e foi morar e trabalhar numa pizzaria, onde fazia de tudo. Recebeu a promessa de que se passasse no vestibular a patroa custearia sua faculdade. A promessa se perdeu no tempo, Tiago concluiu o ensino médio e seguiu para Macaé, onde pela primeira vez foi morar num albergue. Passou por outras instituições no Rio de Janeiro, em São Gonçalo e Ilha do Governador, até que um colega o convidou para morar em Saão Paulo. Morou mais três anos em abrigos na capital paulista até se mudar para Salvador.

Foi no no abrigo da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra II), no Barbalho, que Tiago Juvenal ficou sabendo do UPT Pop Rua. "Foi através da coordenadora Daciane Andrade, da unidade de Acolhimento Adra II (localizado no bairro do Barbalho), que fiquei sabendo do programa. Um dia ela veio até a mim e perguntou: ‘ ô carioca, você tem interesse no pré-vestibular´”?

Tiago foi o único do abrigo a se inscrever e o resultado já foi notícia em vários veículos. Ele conseguiu a aprovação, em segundo lugar, no curso de Teatro pela UNEB de Senhor do Bonfim.

Com auxílio emergencial da própria universidade, de R$ 500, mais cesta básica e residência estudantil, Tiago hoje se divide entre as aulas e as entrevistas e palestras para as quais é convidado com frequência e demonstra disposição para recuperar tudo o que puder do tempo que lhe foi roubado numa infância marcada pelo abandono e maus tratos.

“Tô fazendo iniciação circense, dançando ‘breaking’, aos 41 anos estou me sentindo um adolescente”, diz o ex-albergado que encontrou na arte sua salvação.

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Tags:

Educação Inclusão social políticas educacionais Preparação Vestibular Universidade Para Todos

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