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PRIMEIRO VOTO

Jovens baianos em ascensão nas eleições municipais

Total de eleitores entre 16 e 17 anos cresceu 52% em relação ao pleito de 2020

Por Divo Araújo

06/10/2024 - 5:00 h
Bento Uzeda: “É fundamental que a escola forme cidadãos conscientes, que compreendam a importância do voto”
Bento Uzeda: “É fundamental que a escola forme cidadãos conscientes, que compreendam a importância do voto” -

Neste domingo, milhões de brasileiros irão às urnas para escolher seus representantes municipais. Entre o vasto universo de eleitores, um grupo se destaca pelo crescimento expressivo: os jovens de 16 e 17 anos. Na Bahia, 193.327 eleitores dessa faixa etária estão aptos a votar, um aumento de 52% em relação às eleições municipais de 2020, quando 126.612 jovens estavam registrados.

Esse fenômeno reflete uma tendência nacional, com o número de adolescentes eleitores crescendo 78% desde o último pleito municipal, totalizando 1.836.081 jovens em todo o Brasil. Nas eleições municipais de 2020, 1.030.563 eleitores adolescentes haviam se alistado em todo o país.

Esse aumento não é apenas numérico, mas carrega um significado simbólico e político relevante em um país onde o voto para essa faixa etária é facultativo, ou seja, não obrigatório. Para esses jovens, este será o primeiro contato com as urnas, gerando uma mistura de ansiedade, expectativa e uma crescente consciência política.

Especialistas apontam diversos fatores para explicar o crescimento do eleitorado nesse segmento. O cientista político Cláudio André destaca o papel das redes sociais. “Os jovens estão cada vez mais conectados, o que os expõe mais aos conteúdos políticos. De fato, as redes sociais influenciam muito essa juventude, que passa a acessar informações sobre política, receber conteúdo de candidatos, partidos e novas mídias, como os podcasts. Isso acaba funcionando como um elemento de socialização política”, afirma ele.

O cientista político enfatizou ainda o impacto das campanhas da Justiça Eleitoral, que incentivam a retirada do primeiro título. Em março de 2024, a Bahia participou da Semana do Jovem Eleitor, uma iniciativa digital do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que ocorre anualmente para estimular adolescentes a fazer o alistamento. “Essas ações mobilizam os jovens, aproveitando o poder das redes e da internet para conscientizá-los sobre a importância do voto, o que contribuiu diretamente para o aumento no número de eleitores jovens”.

Cláudio André também destacou o papel do crescimento sociodemográfico do país. “Nossa sociedade está envelhecendo ao longo do tempo. De certa forma, é importante considerar que, dentro dessa perspectiva, há mais jovens atingindo a idade e se alistando eleitoralmente”, afirmou.

Fator pandemia

O também cientista político Danilo Uzeda observa que a pandemia de Covid-19, que inibiu a participação nas eleições de 2020, foi um fator determinante para o crescimento observado agora. “Em 2020, o número de jovens eleitores foi reduzido, em parte, pelo isolamento social. Agora, em 2024, vemos um ressurgimento do interesse, impulsionado pela proximidade do jovem com os candidatos locais”, afirma.

Para Uzeda, as eleições municipais trazem a política mais para perto do jovem. “Ele convive diariamente com os candidatos nas ruas, botecos, mercados. Sabe da vida pregressa, das relações políticas e privadas. Então, tudo interessa ao jovem”. O especialista também aponta a combinação de redes sociais e debates familiares. “Esse extrato social tem sido considerado estratégico para o mundo político, seja pelo potencial de mobilizar (e desmobilizar), como também pela intensa articulação nas redes sociais e grupos de WhatsApp”, avalia.

Bahia em destaque

Com 193.327 eleitores jovens, a Bahia se destaca como um dos estados com maior representação proporcional dessa faixa etária no Brasil. O aumento de 52% supera o crescimento geral do eleitorado baiano, que foi de 3,58% entre as últimas eleições municipais, passando de 10.893.320 eleitores aptos em 2020 para 11.283.507 em 2024.

Em nível nacional, o Brasil conta agora com 156,4 milhões de eleitores aptos, contra 147,9 milhões em 2020. Embora o percentual de jovens entre 16 e 17 anos ainda seja pequeno – os 1.836.081 eleitores de 16 e 17 anos representam 1,17% do total –, seu crescimento expressivo indica uma transformação importante no cenário eleitoral.

Nas eleições gerais de 2022, o número de adolescentes eleitores foi ainda maior, com o alistamento de 2,1 milhões em todo o Brasil (51,13% acima de 2018). Contudo, o TSE evita comparações entre os dois tipos de eleição, pois há localidades que não participam das eleições municipais, como Brasília, Fernando de Noronha e as seções eleitorais no exterior.

No outro extremo do eleitorado, 1.148.542 eleitores acima dos 70 anos estão aptos a votar na Bahia este ano, um aumento de 11,71% em comparação com 2020, quando eram 1.028.192. No Brasil, cerca de 15,2 milhões de eleitores acima de 70 anos estão aptos, representando 9,76% do eleitorado total – um aumento de 23% em relação a 2020, quando somavam 12,3 milhões. Juntos, jovens e idosos totalizam 20,5 milhões de brasileiras e brasileiros que podem escolher se votarão nas eleições de 2024.

Papel da educação

No Colégio Cândido Portinari, em Salvador, o interesse pela política é incentivado tanto pelo currículo escolar quanto pelas atividades extracurriculares, como o grêmio estudantil. Bento Uzeda, estudante de 18 anos, destaca a importância de participar do grêmio e como isso moldou sua visão política: “Sempre fui representante de sala, e o grêmio me ensinou a importância de pensar coletivamente, de lutar por melhorias não só para nós, mas para a sociedade como um todo”, acredita.

Essa conexão com a política local, fomentada por discussões nas escolas, é um dos fatores que incentivam os jovens a votar. Luiz Amorim, professor de química no Colégio Portinari, ressalta a importância de promover a formação política nas instituições de ensino. “É fundamental que a escola forme cidadãos conscientes, que compreendam a importância do voto e da participação ativa na sociedade. Isso vai além de partidos: trata-se de cidadania”, enfatiza.

As redes sociais são de fato um dos principais meios pelos quais os jovens se informam sobre política, como também destaca Maria Gabriela, estudante de 18 anos do Portinari. “Hoje, há uma grande desconexão entre o que os políticos prometem e o que a juventude realmente quer. Usamos as redes para nos informar, mas também para debater e entender o cenário político”. Essa juventude, conectada e crítica, vê no voto uma forma de fazer a diferença, mesmo que, em muitos casos, haja desconfiança nas instituições.

Victor Emanuel, outro aluno de 18 anos do mesmo colégio, ressalta a importância de questões práticas na decisão de seu voto. “Os principais problemas que eu gostaria que o prefeito da minha cidade resolvesse estão relacionados a transporte e segurança pública”. Mudar a realidade foi também o que motivou Eduardo Schauer, 17 anos, aluno do Colégio Portinari, a tirar seu primeiro título. “Quero expor minhas ideias, colocar na prática o que eu penso. Decidi votar este ano porque quero que minhas ideias se transformem em realidade”, diz.

Hoje, milhares de jovens baianos votarão pela primeira vez, com os olhos voltados para um futuro no qual suas vozes serão cada vez mais ouvidas e representadas. Seja pelas redes sociais, pelas discussões familiares ou pelos debates no colégio, o voto consciente e o engajamento cívico são marcas dessa geração que chega às urnas em um momento crucial para a política brasileira.

Com 193.327 eleitores jovens, a Bahia se destaca em representação dessa faixa etária no Brasil
Com 193.327 eleitores jovens, a Bahia se destaca em representação dessa faixa etária no Brasil | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Polarização política impacta os jovens eleitores

Com a crescente participação dos jovens nas eleições brasileiras, o cenário político polarizado continua a influenciar esses novos eleitores. Apesar de ainda representarem uma parcela pequena do eleitorado, os adolescentes de 16 e 17 anos têm demonstrado uma crescente consciência política, mas ela não é imune à polarização presente na política nacional.

Para Bento Uzeda, um dos jovens que faz parte dessa nova geração, a polarização traz desafios, mas também oportunidades para o debate saudável. “Sempre fui a favor do debate respeitoso. O extremismo, de qualquer lado, é sempre negativo. Vimos os efeitos disso nos últimos quatro anos”, reflete Bento, ao defender a importância do diálogo em meio à divisão ideológica.

Clara Beatriz, também jovem eleitora, reconhece que a polarização afeta sua geração, mas acredita que isso pode ser um ponto de crescimento. “Apesar das divisões de ideias, é importante que a gente entenda que a responsabilidade agora é nossa. O debate é importante para se chegar a soluções”, afirma Clara, destacando o papel da juventude na construção de um futuro político mais inclusivo.

Para o cientista político Cláudio André, as redes sociais ampliam o acesso à informação e promovem debates, mas também revelam como a polarização e o conservadorismo estão presentes entre os jovens. “A juventude entre 16 e 29 anos tem, em sua maioria, posições mais liberais. No entanto, à medida que o país caminha para uma direita mais conservadora, os jovens também acabam sendo influenciados por esse movimento, especialmente pela presença das religiões evangélicas”, pontua André.

Impacto das fake news

Outro fator determinante na experiência política dos jovens é o impacto das fake news e do volume desenfreado de informações nas redes. Para o cientista político Danilo Uzeda, a desinformação e os algoritmos das plataformas sociais tiveram papel decisivo nas últimas eleições. “Em 2018, o tema das fake news ainda era novidade. Nas eleições de 2022, vimos o turbilhão de informações sem processamento ou interpretação. Esse cenário é preocupante, pois pode mobilizar os jovens de maneira superficial, sem reflexão crítica”, avalia.

A polarização afeta os jovens de maneira complexa. Enquanto alguns veem nela um campo fértil para o debate e o aprendizado, outros acabam reproduzindo o extremismo que domina o cenário político. Para Danilo Uzeda, no entanto, as preocupações dos jovens hoje vão muito além dessa divisão. “A juventude, sobretudo urbana, mas também, infelizmente, a rural, tem se deparado com problemas novos ou, ao menos, mais enraizados. A questão do tráfico de drogas e da violência já preocupam tanto quanto o futuro ou o desemprego. Isso é assustador”.

Segundo Uzeda, em geral, o jovem tende a contestar padrões estabelecidos, levando partidos, movimentos e, até mesmo, igrejas a renovarem seu repertório. “Nas últimas eleições, e nesta campanha eleitoral particularmente, temos assistido, por exemplo, a candidatos mais velhos que precisam aparecer dançando, pulando, correndo, agitando, para demonstrar vigor físico, força e disposição caso eleitos. Confesso que acho estranho, mas, ao perguntar a um jovem o que ele achava, a resposta foi: ‘ele parece com a gente’”.

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