90% das empresas planejam elevar ou retomar o nível do emprego pré-pandemia | A TARDE
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90% das empresas planejam elevar ou retomar o nível do emprego pré-pandemia

Publicado domingo, 14 de novembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Leonardo Lima*
Ana e Bruna estão entre os contratados na pandemia pela Soul Dila | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
Ana e Bruna estão entre os contratados na pandemia pela Soul Dila | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE -

63% das empresas brasileiras planejam retomar o nível de emprego que tinham no período pré-pandemia e 27% irão aumentar a quantidade de colaboradores. Isso é o que revelam os dados divulgados pela Pesquisa de Benefícios Aon 2020/2021. A pesquisa também sinalizou que 10% das empresas disseram que ainda irão fazer mais cortes no quadro de funcionários.

A diretora de Consultoria de Health and Retirement Solutions (soluções em saúde e previdência) da Aon Brasil, Rafaella Matioli, explica: Essa projeção de mais contratação reflete diretamente na previsão de “lucros e aumento de demanda, principalmente diante da retomada das atividades e do mercado”.

Com a reabertura do comércio, Matioli ressalta que o impacto de modo geral para as empresas é positivo e a expectativa é boa para o futuro. A pesquisa ouviu cerca de 800 empresas de mais de 30 segmentos diferentes da economia. A diretora afirma que “a recuperação não será igual para todos, mas as coisas começaram a acontecer ainda que em velocidades diferentes”.

Como tantas, a empresa Bolo da Luz foi uma das impactadas pela pandemia da Covid-19. A fábrica de bolos e pães delícias tem como principal atividade a venda desses produtos já prontos em supermercados. A dona da empresa, Joelia Simples, conta que as vendas diminuíram durante a pandemia e os custos aumentaram.

Joelia diz que um fator que pesou nesse período todo foi a inflação de diversos produtos, como de ingredientes e até da gasolina: “Ficamos em uma situação de muito aperto, com a margem de lucro apertada, os insumos aumentaram demais”, relata.

Gustavo Pessoti, vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), explica que, por vários motivos, muitas empresas tiveram que reduzir o quadro de funcionários ou até mesmo fechar as portas durante a pandemia. “Houve uma súbita diminuição da demanda, em um primeiro momento ocasionado pela diminuição das idas ao mercado de compras e de consumo”, diz.

“Não resta dúvida de que uma das maiores consequências da Covid foi no campo da economia. Faltou termos capacidade de entender o que estava acontecendo e qual deveria ser a resposta, de apresentar uma solução que não levasse as empresas a um processo de quebramento e fechamento”, destaca Pessoti. 

Novos horizontes

Apesar do Bolo da Luz não ter fechado a fábrica em nenhum momento durante a pandemia, foi necessário afastar quatro funcionários. Mas agora em 2021, principalmente com o avanço da vacinação, Joelia contratou mais três funcionários e hoje já conta com 25 no total.

Depois da dificuldade do período, a fábrica agora está passando por uma reforma e irá criar um café no bairro da Pituba. “A pandemia me impulsionou, estou tentando voltar a ter um lucro melhor”, afirma Joelia, que enxerga nessa expansão uma oportunidade para compensar perdas ocasionadas pela crise econômica. A empresária pretende contratar mais cinco funcionários, o que no total será um número maior do que aquele de antes da pandemia.

O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos - Bahia (ABRH-BA), Wladimir Martins, aponta que, para as empresas que planejam retomar os empregos, é importante estarem atentas ao mercado. “As empresas tinham que se preparar para essa retomada repentina, porque ela ia acontecer. As empresas precisam estar preparadas para atender essa demanda reprimida”, sinaliza.

“A preparação da empresa é justamente conseguir profissionais com experiência no mercado, buscar mão de obra qualificada para atuar. E cada vez fica mais difícil porque aqueles que foram dispensados lá atrás já arrumaram outras oportunidades de trabalho, então o grande desafio é achar mão de obra qualificada em uma velocidade maior para atender a demanda”, explica Martins.

Segundo a pesquisa da Aon, 23% das empresas alegaram aumento no quadro de colaboradores devido à alta na demanda esperada para os próximos meses. Esse também foi o caso da Soul Dila, empresa soteropolitana de roupas que tem como marca mostrar a Bahia para o mundo. 

Ainda no início da pandemia no país, a empresa fechou todas as lojas físicas e decidiu “não continuar com os operadores de caixa. Foi preciso fazer as primeiras demissões”, conta Flávio Guimarães, um dos sócios da marca.

Mas como outras lojas, ainda em 2020 também precisaram de novos funcionários. “Tivemos uma retomada de admissões desde o ano passado quando o comércio voltou a abrir. E para esse final de ano também estamos contratando temporários”, conta Guimarães.

Ana Paula Chaves e Bruna Souza estão entre os funcionários contratados pela Soul Dila ainda na pandemia. “Entrei em maio de 2021 depois de algum tempo desempregada. Fui chamada para trabalhar lá após a reabertura dos shoppings”, conta Ana Paula .

Durante 2020, Ana Paula ficou 8 meses em quarentena, pois mora com a avó que é do grupo de risco, além de sentir medo e ansiedade no período. Em dezembro do ano passado ela teve um trabalho temporário, mas acabou não sendo efetivada: “O quadro de funcionários estava limitado”, lembra.

Para conseguir passar pela crise ao longo dos primeiros meses da pandemia, a Soul Dila adotou medidas de suspensão e redução de contratos. Mas apesar dos momentos conturbados, a empresa aumentou em quase 70% as vendas digitais e já está esperando um resultado positivo no fim deste ano com as lojas presenciais em funcionamento.

Segundo Gustavo Pessoti, muitos setores cresceram durante a pandemia, até em função de novos modelos comerciais. “Mais pessoas passaram a ter acesso ao e-commerce e a economia digital, então todos esses setores foram impulsionados por essa mudança e continuarão sendo”, enfatiza o economista.

E apesar de todo o período conturbado, a expectativa é de retorno de uma normalidade de crescimento econômico, mesmo que de maneira lenta. Uma maior demanda no comércio “vai potencializar investimentos, o que potencializa o consumo, a arrecadação e o emprego”, ressalta Pessoti.

*Sob supervisão da Editora Cassandra Barteló

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