NEGÓCIOS
Cafés especiais furam bolhas das cafeterias gourmets
Mercado de microtorrefação tem alcançado os consumidores que não abrem mão da bebida de qualidade
Por Inara Almeida*
Se tem algo que é sagrado para os brasileiros é a hora do café, e não à toa o país carrega a posição de segundo maior consumidor da bebida no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados de 2023 do Ministério da agricultura e Pecuária (Mapa), . Dentro do grande mercado de cafés, o de micro torrefação tem crescido e alcançado cafeterias, bares, restaurantes e os lares dos amantes de café, que não abrem mão de consumir a bebida com mais qualidade - chamados de gourmets.
É o caso da estudante Bruna Almeida, que passou a se interessar pelo mundo dos cafés especiais há pouco mais de um ano, depois de uma ida à Chapada Diamantina. Desde então, faz questão de ter sempre um pacote em casa. “Ainda compro café no supermercado porque é uma opção mais acessível, financeiramente e logisticamente, mas bem menos do que antes. Gosto dos especiais porque são mais saborosos e consigo consumir sem açúcar”, explica.
A estudante de publicidade Esther Rebouças compartilha do mesmo sentimento. Até os 19 anos, na casa dos pais, não consumia café, mas passou a conhecer os especiais em idas a cafeterias com colegas de trabalho. “Hoje, aos 23, só compro café especial, porque sei a diferença na hora do preparo, não deixa amargo, por conta da torra e do tempo que deixa amadurecer”, conta.
Preparo e procedência
É justamente devido ao modo de preparo diferenciado e a confiança na procedência que Daniel Aguiar, sócio da cafeteria Villa Cafeeiro, localizada no bairro Itaigara, decidiu investir no mercado dos cafés especiais. Além disso, segundo o empreendedor, a vontade de introduzir a bebida de forma mais intensa na cidade foi outro fator que o motivou a abrir o negócio.
“Vendendo o nosso próprio café, conseguimos selecionar a origem dele, a torra, os óleos essenciais, que é o que dá o sabor, saber de onde ele vem, até a altitude que é plantado. Precisamos entender tudo isso para fornecer um café de qualidade para o cliente, um diferencial. A marca surgiu de ver mais cafés assim em Salvador”, destaca.
Além da própria marca, é possível encontrar outros cafés convidados no Villa Cafeeiro, para apresentar o universo dos cafés especiais aos clientes. Os amantes da bebida podem consumir no espaço ou adquirir pacotes de café em grão ou já torrados na loja ou pelo WhatsApp.
Quem também apostou alto no mercado dos cafés especiais foi Flávio Camargos, sócio da loja Do Coado ao Espresso. Inicialmente, a marca era apenas um espaço no Instagram para compartilhar as experiências em cafeterias e receitas com café em casa, mas, durante a pandemia, tornou-se um negócio.
“Comecei em casa mas, com o crescimento da demanda, precisei de equipamento e espaço maiores. Conseguimos fazer muitas vendas, inclusive, para fora da Bahia. Hoje, comercializamos para cafeterias de Salvador, para marcas parceiras e temos o e-commerce, que é por onde os consumidores finais compram”, explica.
Cerca de 95% dos cafés comercializados através da loja de Flávio são produzidos na Bahia, em regiões como Piatã, Abaíra, Barra do Choça e Lençóis. “É essa bandeira que levantamos para os nossos consumidores. A Bahia possui excelentes cafés, premiados, inclusive, e nem todo mundo conhece. Mas quem conhece sempre fideliza e compra de novo, porque são diferenciados”.
Afirmar que os grãos de café baianos são especiais não se trata apenas de opinião pessoal. O estado tem posição de destaque na lista dos 30 melhores cafés do Brasil em 2023 – a Cup of Excellence, ranking anual e considerado o ‘Oscar’ dos cafés especiais. Entre os escolhidos, 11 marcas são produzidas na Chapada Diamantina.
A família de Douglas Fagundes é produtora de café há mais de 40 anos na região da Chapada. Segundo o produtor, a qualidade do café especial vai desde a variedade à forma como o grão é tratado. “O sistema de colheita, classificação e torra do café e até a forma como esse café é extraído. Tudo no processo do café da lavoura à xícara irá influenciar no aroma e nas notas que são atreladas à degustação do café especial”, afirma.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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