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“É preciso repensar os modelos de negócio”, Ruben Delgado

Publicado domingo, 13 de outubro de 2019 às 10:25 h | Atualizado em 13/10/2019, 10:36 | Autor: Mariana Bamberg* | Foto: Ulisses Dumas Argo | Divulgação
Delgado falou sobre o cenário de inovação tecnológica entre os empreendedores baianos
Delgado falou sobre o cenário de inovação tecnológica entre os empreendedores baianos -

Nome de peso quando o assunto é inovação e tecnologia, o baiano Ruben Delgado é presidente da Softex, organização que já beneficiou mais de seis mil empresas por todo o país com suas ações de promoção à competitividade da indústria brasileira de TI. Em passagem por Salvador, para participar do Inovatic – evento do setor de tecnologia e telecomunicação, que aconteceu no Senai-Cimatec –, Delgado falou com A TARDE sobre o cenário de inovação tecnológica entre os empreendedores baianos.

Na Bahia, a cultura de inovação já se estabeleceu entre os empreendedores?

Ainda não. Infelizmente estamos em um mundo onde a cultura do empreendedor é ultrapassada. O funcionário está no século XX e o consumidor no século XXI. A Bahia tem um empreendedorismo forte, mas ainda é preciso repensar os modelos de negócio. Quem não fizer isso fatalmente terá problemas de sustentabilidade no futuro. Muitas empresas já têm pagado caro por isso. Falta também uma política pública dentro de instituições como a Fieb, por exemplo, para tirar o empreendedor da zona de conforto. Os números mundiais são claros, não cabe mais a não digitalização das suas indústrias, do seu comércio ou até mesmo das suas atividades rurais.

Como você enxerga o ecossistema de startups baianas?

Precisa ser melhorado. Ainda está frágil em relação a outros estados. Isso justifica o fato de não estarmos entre os dez melhores estados e Salvador não estar entre as dez melhores capitais nesse sentido. Esse ecossistema deve ser melhorado com programas mais corretos e focados. Sonho, por exemplo, com programas de startups que tenham juntos os equipamentos que temos hoje, que é o Parque Tecnológico, um dos maiores do país, e o Hub Salvador. Não tem lógica estarmos tão pobres em equipamentos e iniciativas e ainda estarmos longe de programas conjuntos.

Cada dia cresce mais o número de startups. Qual o maior desafio para que elas permaneçam no mercado com inovação?

Hoje até a própria tecnologia é quase commodity. É preciso ter um diferencial competitivo no produto. Isso você consegue com conhecimento. Mas o pior de tudo é o mercado. É muito complicado conseguir o acesso ao mercado. Quando se trata da Bahia para fora, esse acesso tem uma dificuldade X. Já se tratando de São Paulo para o resto do país, a dificuldade é X sobre dois, a metade. Quando você tem várias startups voltadas para um mesmo segmento, o governo pode apoiar, fazendo escritórios cooperados, incentivando missões para mercados mais maduros, como o Vale do Silício, por exemplo. Quando não há esse posicionamento, é muito difícil o governo ajudar, porque cada startup terá um mercado diferente, um produto diferente. Se queremos, por exemplo, que Salvador seja a capital de software de turismo, a prefeitura pode promover estandes em feiras internacionais só sobre a tecnologia que é produzida pelas startups de turismo de Salvador.

O que ainda pode ser feito nesse sentido para que o estado se torne uma referência em consumo e produção de tecnologia?

É preciso política pública para preparar o cidadão para esse novo mundo digital, se não nós vamos ter um sério problema com pessoas que não sabem lidar com isso e não têm o que fazer para se remunerar. Mas não adianta ser só consumidor de tecnologia, é preciso também exportar tecnologia. E, para isso, posicionamento é fundamental. E simples. Como em qualquer shopping, você tem sua loja e a posiciona. Seja de bolsa de luxo ou sapato barato, você tem um produto e define seu público. Quando você tem uma loja de bolsa de luxo, claramente você quer atingir o público feminino da camada A. A Bahia precisa ter também um posicionamento de como vai estar perante o mundo nessa nova economia. Seremos produtor de tecnologia de que exatamente? Agrobusiness, fintech, de saúde, de quê? É preciso definir. E, para eu me posicionar, eu necessito de quê? Insumos e mão de obra. Para produzir essa mão de obra é preciso ciência. Como é que eu incentivo as universidades? Fazendo um programa de atração de cérebros nessa linha. Então tenho insumos, tenho ciência. Como é que incentivo o empreendedorismo? Com modelos de aceleração de empresas nessa linha. É preciso um programa que busque esse posicionamento. Só assim a Bahia pode criar uma nova economia e passar a surfar nessa economia digital. Caso contrário, vai passar por um processo de desindustrialização, já acontecendo, de deservisação (sic), que vai acontecer, descomercialização, que vai acontecer. Afinal, tudo hoje é delivery mundial. Vem tudo da China, tudo de fora. Não precisa de comércio na Bahia. Com serviço e indústria, vai ser a mesma coisa. Então, é preciso realmente se reinventar.

Como opera a Softex no incentivo à inovação dos empreendedores brasileiros?

A Softex é uma ferramenta. Os governos que são responsáveis pelas políticas de impulsionamento. Nós, juntamente com ele, as desenhamos e executamos. A Softex é gestora de quase todos os projetos de aceleração de startups no país. Ajudamos o governo e a prefeitura, na metodologia de aceleração, no programa de governo, mas como ferramenta. São soluções que nós apoiamos na execução, e quem responde a isso é o próprio mercado. Trabalhamos exatamente com a competitividade da indústria brasileira de tecnologia. Temos programas de aceleração de startups, de adensamento de empreendedores, de capacitação, de inclusão digital. São programas de todas as áreas, sempre voltados para esse novo mundo digital. Um exemplo que sempre dou é o que aconteceu com a prefeitura de São Paulo. O prefeito Bruno Covas queria fazer um programa para criar empreendedoras mulheres e foi feito um programa rapidamente com a Softex. O objetivo do prefeito era conseguir 200 empreendedoras. Eu brinco que infelizmente não conseguimos essas 200, mas conseguimos 480 em 15 dias. O público está apto, nós estamos aptos. O mundo está fácil de executar essas políticas, o mercado reage bem, porque todos querem entrar nessa história. Está com a faca e com o queijo na mão, só precisa de iniciativa.

*Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló

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