EMPREGOS & NEGÓCIOS
Em meio à pandemia, número de microempreendedores cresce 7%
Por Priscila Dórea e Mariana Bamberg
Considerados por muitos a maior política pública de formalização, os microempreendedores individuais (MEIs) ultrapassaram em meio à pandemia a marca dos 10 milhões. O marco aconteceu em abril deste ano – só nos meses de março e abril a taxa de crescimento foi de 7% –, e, de acordo com dados do Portal do Empreendedor, até o dia 23 de maio de 2020 os MEIs já somavam no Brasil 10.125.603 empreendedores, sendo 544.738 da Bahia.
Alcançar esse marco durante o isolamento social e a pandemia mostra que, mesmo em meio ao caos, os brasileiros ainda estão investindo em seus sonhos e procurando formas de continuar trabalhando. “A verdade é que o cadastro MEI tem sido a principal porta de entrada para as pessoas iniciarem no empreendedorismo no Brasil todo”, afirma Fernanda Gretz, gerente de atendimento individual do Sebrae Bahia.
O grande atrativo são os benefícios adquiridos ao tornar uma pessoa jurídica para alavancar os negócios, “e muita gente deve estar percebendo o quão vantajoso é se tornar MEI no momento atual”. Essas vantagens, explica Fernanda, vão desde empresariais (melhores linhas de crédito, melhor negociação com fornecedor, mais possibilidades de pagamento para os clientes e emissão de nota fiscal), até previdenciárias (INSS, aposentadoria e licença-maternidade).
O contador Radamés Oliver atribui a atratividade do MEI também ao baixo valor da contribuição e à facilidade de sua abertura. Dependendo da atividade, o microempreendedor individual paga apenas uma taxa mensal que vai de R$ 53,25 a R$ 58,20. E é possível abrir seu MEI pelo próprio Portal do Empreendedor.
Foram esses benefícios e facilidades que incentivaram Fred Teixeira, proprietário da loja especializada em produtos da gastronomia mineira Oxe é de Minas (@oxeedeminas), a se formalizar como MEI. Ele começou vendendo em feiras de gastronomia que aconteciam pela cidade, procurando saber se as comidas de Minas Gerais que ele tanto gostava (e sentia falta) agradariam ao público soteropolitano. E a resposta foi mais que positiva. “Procurei estudar bastante sobre a logística e realmente não pestanejei em planejar todos os detalhes do negócio, ainda mais quando percebi que o público foi bem receptivo. Participei do Empretec e então fiz o MEI, principalmente para facilitar as negociações com os fornecedores, já que trago muitos produtos de fora da Bahia e a formalização me ajudaria muito nisso”, ele conta.
Ele trabalhava de casa, mas com a demanda aumentando e a esposa chamando sua atenção por encher a geladeira de queijo, ele percebeu que talvez devesse dar o próximo passo. “Foi um momento em que entendi melhor o negócio e percebi que podia abrir uma loja, que hoje está no Mercado do Rio Vermelho. Foi então que fui para a etapa seguinte e me tornei microempresa”.
Qualidade de vida
Além dos benefícios do MEI, o que levou Camila Anjos a aderir ao regime foi a possibilidade de uma melhor qualidade de vida. Ela conta que precisou se tornar microempreendedora para prestar serviço a uma agência de comunicação. Tempos depois, a empresa fez uma proposta com carteira de trabalho assinada e ela precisou escolher entre “ter renda fixa, direitos assegurados e voltar à rotina de escritório ou seguir como MEI, ter qualidade de vida e a possibilidade de expandir serviço como um negócio”.
A empresa acabou aceitando a proposta de Camila e ela conseguiu fazer do seu MEI a Aporte Comunicação, que presta assessoria para empresas do segmento de tecnologia e inovação. Mas se engana quem pensa que foi fácil, a empreendedora garante que ser MEI requer responsabilidade, planejamento e organização.
O contador atribui essas exigências ao fato de o MEI precisar ser o próprio patrão. A tributação é fixa – é preciso contribuir mesmo sem faturamento no período –, ele não pode ter sócio, só é permitido a contratação de um funcionário e ainda não tem o direito de recebimento por férias, “então ele mesmo precisa se organizar para tudo isso”. O MEI também pode acabar se tornando um empecilho para o crescimento, já que exige um faturamento anual de até R$ 81 mil e não permite a abertura de filiais.
O negócio de Camila se deparou, antes mesmo de completar um ano, com um desafio que lhe exigiu ainda mais responsabilidade e organização: a pandemia. Mas, como ser MEI é se planejar, a empreendedora redefiniu a rotina de trabalho e readequou os valores de seus serviços. “E, mesmo com a crise conseguimos fechar um novo cliente”.
Quem também é MEI e está enfrentando grandes desafios na pandemia é Lívia Sá. Formada em turismo, a empreendedora resolveu voltar à faculdade, largar o emprego com carteira e abrir seu negócio. A empreendedora conta que sua ideia inicial era trabalhar como pessoa física, mas que os próprios clientes a incentivaram a se tornar pessoa jurídica. Ela então encontrou no MEI a possibilidade de fazer isso sem precisar de um grande investimento. Hoje Lívia presta o serviço de assessoria administrativa para clínicas e consultórios. Mas, com a pandemia, suas demandas mudaram.
“Agora, minha preocupação tem sido organizar as clínicas para quando elas voltarem a funcionar, rever contratos de funcionários, ajustar dias e datas de funcionamento, definir prioridade de pagamentos, rever estratégias de marketing e ainda organizar as rotinas de limpeza, atendimento virtual”, conta. E mesmo com tantas mudanças, Lívia conta que ainda está usando o momento para prospectar mais clientes. Ela garante que o MEI facilita tudo por não exigir um endereço comercial e ter emissão de notas mais descomplicadas.
No caso da Oxe é de Minas, Fred explica que as vendas têm oscilado muito, mas que oportunidades têm sido criadas. “A loja física pode limitar as ideias e os clientes não se arriscam muito em itens diferentes. Estamos funcionando no isolamento, mas também investimos mais nas mídias sociais e no delivery, que não fazíamos. Percebemos que produtos que não funcionam bem na loja vendem muito online. Em abril vendemos 30% a mais que o mesmo mês em 2019, e maio está seguindo o mesmo caminho”.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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