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Empreendedores viram “blogueiros” do próprio negócio

Donos de pequenos empreendimentos divulgam serviços e produtos ao mesmo tempo que interagem com os clientes

Publicado domingo, 09 de janeiro de 2022 às 06:00 h | Autor: Leonardo Lima*

Para quem decide abrir um negócio, ter em mente quais serão os investimentos necessários para tornar a empresa viável é bastante importante. E a presença das redes sociais na vida das pessoas tem impulsionado empreendedores a se tornarem blogueiros do próprio negócio, divulgando seus produtos e serviços ao mesmo tempo que interagem com os clientes.

A gerente da Unidade de Atendimento Individual do Sebrae Bahia, Fernanda Gretz, explica que essa é de fato uma nova função, principalmente para os micro e pequenos empresários: “Nos últimos anos, a divulgação e a venda pelas redes sociais demonstraram ser uma fonte para expandir o mercado”.

“Captar clientes para garantir um volume mínimo de vendas é um dos principais desafios do empreendedor”, indica Fernanda. Isso é necessário principalmente para viabilizar o funcionamento do negócio e permitir que se torne sustentável. “Algumas das principais ações é o investimento em comunicação e marketing, para que a empresa se torne cada vez mais conhecida por novos clientes”, ressalta.

E por conta dessa aproximação através da internet entre empreendedor e cliente, ser blogueiro do próprio negócio exige que as abordagens de vendas e relacionamento sejam revistas. É preciso adaptar isso ao “perfil dos clientes do online e também ao formato da rede social”, contextualiza a gerente do Sebrae.

(É positivo escolher) redes sociais que mais possuem afinidade com o público da sua empresa Fernanda Gretz, do Sebrae,
  

O casal Milton e Larissa Oliveira decidiu abrir uma loja para vender produtos de artesanato, principalmente para quem trabalha ou gosta de bordar. “Percebemos que Salvador não fornecia os elementos que precisávamos. Aqui tem alguns armarinhos, mas com produtos muito básicos, coisas específicas comprávamos em outros estados e o frete encarecia muito o produto”, conta.

Durante a pandemia criaram a loja ateliê By Lari e começaram a vender através de plataformas de comércio eletrônico. Em 2021 criaram o site e foi aí que começaram a explorar mais as redes sociais: “Pesquisamos outros perfis para identificar como funciona o algoritmo e assistimos palestras. Percebemos que para vender no site a gente precisava do Instagram”, explica Milton.

“Nosso interesse é termos seguidores que tenham oportunidade de compra, não adianta querer ter muitos e não comprarem”, diz o empresário. “Não somos blogueiros no sentido de atrair agendas ou indústrias para fazer patrocínios, mas logo ficou nítido que mostrar nossa cara, obviamente dentro de um limite, cria empatia com o consumidor”, sinaliza.

E todo esse processo acaba exigindo muita dedicação. “Se a gente tira umas férias e deixa de produzir conteúdo específico, os seguidores deixam de seguir. É cansativo, muitas vezes trabalhamos de noite para deixar organizado para 15 dias. Tem que estar produzindo o tempo todo para chegar seguidores novos e segurar os que temos", destaca Milton.

Estratégias na rede

Fernanda Gretz, do Sebrae, orienta que, como a maioria dos usuários “utilizam as redes sociais como entretenimento e momento de descontração, a divulgação e postagens da empresa nas redes sociais devem possuir conteúdos atrativos e diferenciados”.

“Postagens abordando apenas preços e produtos podem não ser atrativas para os seguidores, visto que eles não utilizam as redes sociais com esse objetivo principal”. Uma das estratégias que Fernanda recomenda é a de fazer conteúdos que ajudem no dia a dia do potencial cliente, como dicas, curiosidades e informações relevantes, mas sempre remetendo à área de atuação da empresa. 

Aparecer nos vídeos e postagens é um bom fator para gerar proximidade, mas é importante tomar cuidado porque todo conteúdo deve ter alguma finalidade, então misturar postagens da vida pessoal com as do negócio pode ser um problema: “A empresa precisa ter um perfil específico para o segmento. Caso as publicações pessoais não tenham relação com o produto ou serviço, não as misture”, aconselha.

Outra pessoa que sente esses desafios é Júlia Chagas, dona da loja Cajuína, que vende acessórios com design autoral como brincos, pulseiras e colares. A ideia da empresa surgiu em 2020 com uma ida à Avenida Sete onde Júlia encontrou peças para montar acessórios e, depois de fazer alguns, começou o marketing boca a boca e surgiu a loja.

“A comunicação é 100% idealizada e gerenciada por mim, é algo muito trabalhoso”, conta a empresária. Com essa nova função, Júlia diz acabar se tornando blogueira de seu negócio, mas destaca que “expor os produtos nas redes humaniza a marca e por tabela nos torna conhecidos entre os consumidores e admiradores. Usamos a nossa credibilidade para vender e mostrar que por trás de uma loja, existem pessoas de verdade”.

“As redes nos dão gratuitamente todos os dias este palco. Nelas podemos não só expor o produto, mas nos comunicar com quem compra e apoia os nossos empreendimentos, com fotos e vídeos. E ter uma identidade de marca bem definida e alinhada com seu público faz toda a diferença”, explica Júlia.

Júlia faz sozinha a comunicação da Cajuína, sua loja de acessórios
Júlia faz sozinha a comunicação da Cajuína, sua loja de acessórios |  Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
  

Sobre o excesso de demanda que o negócio exige, ela comenta: “Às vezes não estou postando porque estou produzindo, estou cuidando das burocracias ou das finanças, não dá pra deixar essas funções de lado. E outra dificuldade é balancear o que postamos. O Instagram não é apenas um catálogo dos produtos, quem segue também quer ver um vídeo divertido, receber uma dica de como cuidar do acessório e por aí vai”, enfatiza Júlia.

Sobre isso, a gerente do Sebrae orienta que é positivo escolher “redes sociais que mais possuem afinidade com o público da sua empresa. Após definir isso, realize um planejamento de postagens e linguagem que vai utilizar com seu público. Essa constância de publicações e a agilidade nas respostas aos clientes são alguns dos desafios no dia a dia do empreendedor, visto que há diversas outras atividades”, sinaliza Fernanda.

Uma outra dica é observar o tipo de conteúdo que mais agrada o público e investir nele. Fernanda aconselha que apenas 20% das postagens semanais devem ser focadas exclusivamente para oferecer diretamente a venda ao cliente: Uma variedade maior de tipos de conteúdo “pode gerar confiança e relevância para a empresa dentro do segmento que atua”, ressalta.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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