EMPREGOS & NEGÓCIOS
“Iremos trabalhar para expandir da forma sustentável”
Fundada em 2013, a i4sea (I foresee = Eu prevejo) é uma startup baiana liderada por quatro oceanógrafos, que têm o propósito de “eliminar incertezas relacionadas ao impacto da natureza na economia”, como é dito em seu site oficial (i4sea.com). No mês passado, eles foram selecionados para uma vaga num programa do governo de Portugal. Bruno Balbi, CEO da empresa, nos conta qual foi o caminho trilhado após o desenvolvimento do sistema i4cast®, grande responsável por esta nova empreitada internacional.
Primeiramente, o que motivou vocês a criarem uma empresa relacionando a natureza com a economia?
Nós somos oceanógrafos e completamente apaixonados pelos mares e oceanos. Foi algo bastante natural. Ao trabalharmos diretamente com o setor marítimo, identificamos uma lacuna no fornecimento de previsões de mar e tempo de alta qualidade para o setor portuário. Estes dados são importantíssimos para a tomada de decisão e planejamento dos momentos e horários mais propícios para as manobras de atracação e desatracação dos navios na região do porto, pois as condições ambientais têm forte influência na segurança destas operações. A partir da identificação desta lacuna, desenvolvemos um sistema que oferecesse ferramentas que fossem capazes de prever (com alto nível de precisão a influência das condições de mar e tempo em cada operação de navio e, assim, apoiar na tomada de decisão do setor marítimo.
Qual a finalidade do sistema i4cast® e como ele funciona?
O i4cast® tem como principal objetivo elevar os níveis de eficiência e segurança das operações dos navios. Ele é o único sistema do mercado que integra em uma única plataforma: previsão de mar e tempo com até duas mil vezes mais resolução, em comparação com as previsões normais; previsão da influência das condições ambientais nos movimentos de cada navio específico (calado dinâmico); calendário inteligente para planejamento assertivo de janelas de operação de navios; previsão das taxas de assoreamento e erosão na região do porto; análise de dados em tempo real; e gestão do fluxo de informações entre os atores do setor marítimo. Todas estas ferramentas oferecem informações assertivas acerca das condições nas quais as manobras irão ocorrer e contribuem, dessa forma, com o apoio na tomada de decisão do setor para que os navios aproveitem o máximo de suas condições operacionais com o máximo nível de segurança.
Em que consiste este programa em Portugal para o qual vocês foram selecionados?
O Bluetech Accelerator Ports & Shipping 4.0 é um ambicioso e inovador programa de aceleração de startups ligadas à economia do mar, idealizado e lançado pelo Ministério do Mar. A iniciativa faz parte do Programa Ocean Portugal, desenvolvido em conjunto pelo Ministério do Mar e pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (Flad). Este projeto tem como principal desígnio a criação de um ecossistema de inovação na economia do mar portuguesa. Foram selecionadas 15 startups de 11 países, e a i4sea foi a única selecionada da América Latina.
Qual caminho vocês tiveram de trilhar até chegar a Portugal e conseguir essa vaga tão importante?
Nós iniciamos o desenvolvimento do i4cast® em 2015, rodamos diversos testes, calibrações e validações até possuirmos uma ferramenta de alto nível. Em 2017, fechamos o nosso primeiro contrato com a Tecon Salvador. No mesmo ano, recebemos investimento da empresa Capital Lab, que foi essencial para o crescimento da equipe e estrutura da empresa, bem como o nosso crescimento pessoal através da mentoria dos investidores. Posteriormente, fechamos contratos com o Porto de Cotegipe, Enseada Indústria Naval, Porto de Itajaí, entre outros. Firmamos acordos de cooperação técnica com o 2º Distrito Naval, Capitania dos Portos da Bahia e com a Universidade Federal da Bahia. Adicionalmente, fechamos parcerias com empresas importantes do setor, a exemplo do Instituto Tecnológico de Matemática Industrial na Espanha, Technomar Engenharia Oceânica (SP), Umi San (ES) e Open Port (ES). Em 2018 passamos por uma segunda rodada de investimentos capitaneada pela Capital Lab e iniciamos os nossos planos de expansão internacional. Foi neste momento que percebemos diversas oportunidades, principalmente no Reino Unido (onde já possuímos um escritório local), China e Portugal. Foi em Portugal que identificamos um programa do governo, que estava à procura de empresas inovadoras para contribuir com a economia do mar. Nos interessamos e aplicamos para esse programa, o Bluetech Accelerator. Primeiramente, aplicamos para o programa e gravamos um vídeo explicando o que é a i4sea, qual o nosso propósito e como o nosso produto pode trazer valor para o setor portuário português. Foram 90 empresas de todo o mundo e somente 40 selecionadas para a próxima fase, que consistia em realizar uma apresentação de cinco minutos para os parceiros do programa. Fomos aprovados nesta apresentação e partimos para um bootcamp com duração de cinco dias (de 24 a 28 de junho) para conversamos diretamente com os parceiros do programa e propormos projetos-piloto específicos para cada um. Finalmente, durante o Bootcamp, 15 startups tiveram projetos aceitos pelos parceiros, e a i4sea foi uma delas: fechamos projetos-piloto com Porto de Leixões, Porto de Sines e Inmarsat. Hoje já estamos abrindo um escritório em Portugal e ampliando nossa rede de parceiros locais.
Como essa nova porta aberta para o mercado internacional mudará o futuro da i4sea?
Já estamos abrindo filial em Portugal, o que nos permite estar próximo de um dos principais polos do setor portuário mundial. Além disso, o fato de já estarmos trabalhando com dois portos portugueses facilita a nossa entrada no mercado português e europeu, devido à credibilidade e experiência na Europa. Por conta dessa expansão, já estamos firmando parcerias com empresas locais e multinacionais, que já estão abrindo portas para a i4sea também no mercado asiático. Iremos trabalhar muito para expandir da forma mais sustentável possível e potencializar o nosso propósito de eliminar as incertezas do setor marítimo. Por fim, o fato de nos tornarmos uma empresa global nos dá força e credibilidade no mercado nacional, que é incrivelmente vasto e com muita oportunidade para crescimento.
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