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Negócios da economia circular estão em alta

Revendas surgem como possibilidade promissora de investimento

Publicado domingo, 15 de maio de 2022 às 06:00 h | Atualizado em 15/05/2022, 08:32 | Autor: Leonardo Lima*
Thiago e Michele investiram em revenda de roupas infantis
Thiago e Michele investiram em revenda de roupas infantis -

Muito além de se limitar a sebos e brechós, negócios que trabalham com revenda de produtos estão cada vez mais alinhados ao conceito de economia circular. Seja aumentando a vida útil de um brinquedo ou criando novas roupas a partir de sobras de tecidos, associar o desenvolvimento econômico ao bom uso dos recursos naturais é algo cada vez mais popular e se mostrando uma possibilidade de investimento.

Um exemplo deste estilo de negócio é a Cresci e Perdi, maior franquia de moda circular do Brasil dentro do segmento de roupas e acessórios infantis. Os sócios Michele Massaro e Thiago Queluz viram a oportunidade de trazer a loja para o mercado de Salvador, que ainda não tinha uma iniciativa parecida.

“Criança é quem mais perde roupa porque ganha muita coisa e quase não usa. Então por que não fazer disso um negócio de economia circular? A ideia é que qualquer pessoa possa vender itens parados em casa que não sirvam mais para as crianças. Aceitamos itens de recém-nascidos até 16 anos, é uma faixa etária bem grande”, explica Michele.

Ela acredita que projetos como esse são de muita importância, e por diversos motivos. “É uma questão de economia mesmo, de fazer girar o que temos em casa para uma outra pessoa e por um valor bem mais em conta às vezes do que o encontrado no mercado. É recircular e dar um novo significado", conta a sócia.

Para quem deseja investir em negócios que seguem esse modelo, é fundamental ter uma boa curadoria dos produtos para garantir a maior qualidade possível e Michele ressalta o processo da Cresci e Perdi: “A pessoa agenda um dia, traz os produtos para a loja e temos uma sala de avaliação e uma equipe treinada para olhar o estado de conservação da peça e testar os brinquedos”, conta.

Para peças pequenas como roupas e brinquedos, o mínimo é de 20 itens, e para peças maiores como carrinhos, pode ser um item só. Junto com os outros fatores, essa quantidade é importante também para gerar o preço da proposta de compra, que pode ser entregue em dinheiro na hora ou então por um sistema de crédito interno chamado Giracrédito.

“Esse crédito fica no CPF da pessoa por 1 ano e ela pode comprar qualquer produto da loja com ele. E tem algumas vantagens, como o valor da proposta, que é sempre maior assim do que em dinheiro. Além disso tem vários produtos aqui da loja que têm dois preços e o mais barato é para quem tem o Giracrédito. Essas são vantagens para favorecermos quem é o nosso fornecedor", ressalta Michele.

O analista técnico da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia, Anderson Teixeira, explica que esse é um modelo de negócio em crescimento e que exige cuidados específicos: “O planejamento faz parte de qualquer tipo de abertura de negócio, mas neste setor de revenda o importante é encontrar bons fornecedores. E depois é saber onde esses produtos vão ficar armazenados para não deteriorar o produto”.

“Outra coisa é ter um bom argumento para a revenda. Revender um item novo já dá trabalho e usado ainda mais, então precisa realmente saber como está o mercado, conhecer seus clientes e, principalmente nesse pós-venda, quais os artifícios e garantias que o cliente têm”, orienta Anderson.

Para o analista do Sebrae, esse é um modelo onde o tipo de produto influencia bastante no tempo de retorno que o empreendedor pode ter, seja revendendo livros ou carros. “Se é um item que o consumidor compra com frequência, aí o faturamento tende a aumentar. Então é saber o que o consumidor está procurando neste momento. Aparelhos eletrônicos, por exemplo, já fazem parte do dia a dia, então há uma possibilidade de ter um retorno mais rápido".

Tendência de consumo

Por meio de diferentes modelos de negócios, vender produtos com menor dependência de matéria-prima nova e com foco em durabilidade e itens renováveis são as questões-chave da economia circular. “Já era um movimento forte no mercado de livros com os sebos, mas hoje esse mercado não se restringe mais a isso. É uma tendência de consumo, mas o que observamos nos últimos 2 anos com a pandemia é que também é uma questão das pessoas terem dinheiro para a sobrevivência”, conta Anderson.

“Elas tiveram uma queda muito brusca do rendimento, então para ter uma renda extra algumas começaram, até de maneira informal, a vender o carro, roupas, utensílios que tem em casa para ter esse dinheiro. Já o perfil do cliente é de quem busca produtos com qualidade, mas que possam se enquadrar no orçamento”, comenta Anderson.

A estilista Lourrani Baas é fundadora da startup Liga Transforma, uma empresa com foco em design sustentável. Diferente da revenda dos produtos iguais, esse é um negócio que usa do reaproveitamento para criar novos itens e atuar em outras áreas da economia circular. “Nossa matéria-prima principal são retalhos de tecidos, eles são captados e transformados em roupas”, diz Lourrani.

“A captação é feita com marcas de confecções, indústrias e todo mundo que tenha interesse em fazer a doação. Estamos falando da questão de manutenção do planeta e é um movimento que está acontecendo não só na moda, no geral as pessoas e as empresas estão mais preocupadas em serem conscientes e responsáveis”, contextualiza a estilista.

“Então eu espero que esse seja um caminho sem volta. Mas é um trabalho de comunicação e de cultura, mostrar que sustentabilidade é fundamental. As pessoas que entendem o papel de um produto desse entendem o processo produtivo, são pessoas mais conscientes  e que querem menos impacto no meio ambiente”, reforça Lourrani.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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