MERCADO
Profissionais 50+: o que explica o aumento nas contratações dessa geração
Programas de inclusão ampliam oportunidades, e vagas formais chegam a crescer 8,8%

Por Joana Lopes

Maria Betânia de Almeida completou 50 anos há um mês e celebra três décadas trabalhando na mesma empresa. Em 1995, ela foi contratada como repositora da Drogaria São Paulo e, depois de ter passado por diferentes funções, como caixa e balconista, hoje é gerente de uma unidade em Salvador.
Ela conta que graças a iniciativas da empresa, como uma universidade corporativa, conseguiu se desenvolver e continuar crescendo na carreira mesmo ao chegar na maturidade. “É muito bom completar 50 anos e entender que não perderei minha função, não serei substituída”, diz.
Profissionais dessa faixa etária têm sido cada vez mais valorizados no mercado de trabalho. De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego, o número de empregos formais ocupados por pessoas a partir de 50 anos cresceu 8,8% entre 2023 e 2024, o que representa quase 700 mil novos postos de trabalho.
Esse aumento é quase três vezes maior do que o observado entre os profissionais com até 49 anos, que registraram alta de 2,9% no mesmo período, com pouco mais de um milhão de contratações.
“Acredito que os profissionais da minha faixa etária ou mais têm um comprometimento maior. A maturidade traz uma bagagem diversa e a capacidade de ver as situações por diferentes ângulos, com mais segurança no que fazemos”, afirma Maria Betânia.
Ela celebra, no entanto, a convivência intergeracional no ambiente de trabalho. “É muito bom somar nossa experiência com as ideias novas dos mais jovens. Trocamos muitos aprendizados”.
Aumento de profissionais 50+ no mercado
O consultor empresarial, escritor e palestrante Roberto Vilela afirma que a permanência de profissionais com mais de 50 anos no mercado se deve, em grande parte, à necessidade de lideranças mais maduras, experientes e comprovadamente eficazes.
“Além disso, as mudanças nas regras da aposentadoria também têm um papel significativo nesse cenário. Com a exigência de um tempo mínimo de contribuição de 35 anos e a idade mínima de 65 anos para aposentadoria por idade no caso dos homens, é natural que muitos profissionais continuem ativos por mais tempo”, explica.
Segundo Vilela, a liderança experiente, especialmente no que diz respeito à tomada de decisão e à vivência em momentos de crise é o principal diferencial dos profissionais 50+. “Nos últimos anos, enfrentamos instabilidades de mercado, e muitos profissionais mais jovens passaram a maior parte de suas carreiras em períodos de crescimento e estabilidade. Já os mais velhos, que enfrentaram diferentes ciclos econômicos e momentos críticos ao longo da carreira, tendem a ter mais resiliência, calma e preparo emocional para lidar com situações adversas”.
Atentas a isso, as empresas têm adotado estratégias específicas para recrutar colaboradores com esse perfil. O Grupo DPSP, dono das bandeiras Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, lançou em 2023 o programa Geração Sênior, para contratar profissionais com mais de 50 anos. Hoje, essa faixa etária soma mais de 1.400 trabalhadores na empresa (5% do total), atuando nos centros de distribuição, no corporativo e filiais, em diferentes posições.
Este mês, a Centauro lançou o programa Sempre no Jogo, que oferece vagas de vendedor em mais de 200 lojas da rede, em todo o país, para pessoas 50+ com ensino médio completo. Não é necessário ter experiência prévia. A TIM também reforçou a contratação de profissionais maduros por meio do programa Inclusão Geracional que, desde 2019, aumentou em 13% a representatividade de pessoas com 60 anos ou mais nos quadros da empresa. 34% delas atuam em áreas de tecnologia e engenharia (a média do mercado para essa faixa etária varia de 12% a 17%).
A gerente sênior de Cultura, Diversidade e Inclusão da TIM, Érika Alves, destaca que a empresa aposta na convivência entre gerações como motor de inovação e aprendizado. Além de promover capacitações e ações contra o etarismo, a empresa revisou suas práticas de recrutamento e seleção para ampliar a diversidade etária, com treinamentos para líderes e recrutadores, além da criação de um banco de talentos exclusivo e de um programa interno de indicação voltado a profissionais com mais de 50 anos. “Queremos garantir oportunidades iguais e uma cultura que valorize o potencial de cada pessoa, independentemente da idade”, resume.
Desafio e soluções
Apesar dos avanços, o estudo global Talent Trends 2025, realizado pela Michael Page, revela que 41% dos profissionais brasileiros afirmam já ter sofrido etarismo ao longo da carreira. O índice é superior à média global (36%) e à média da América Latina (35%). “A discriminação por idade, além de injusta, compromete o potencial das organizações. Quando profissionais são desvalorizados por sua faixa etária, o impacto vai muito além do indivíduo: afeta a produtividade, o engajamento e a capacidade de reter talentos com experiência”, afirma Isabel Pires, gerente-executiva da Michael Page.
Para evitar esse cenário, Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, diz que as empresas precisam criar oportunidades de convivência e aprendizado mútuo entre colaboradores de diferentes gerações. competitiva, é preciso criar oportunidades de convivência e aprendizado mútuo.
Alguns exemplos são os programas de mentoria reversa, que promovem trocas entre colaboradores mais jovens e mais experientes e projetos intergeracionais, além de espaços de escuta e trilhas de desenvolvimento personalizadas, respeitando os momentos de carreira de cada colaborador.
“Inclusão etária é uma questão de justiça, diversidade e também uma decisão estratégica. Quando diferentes gerações atuam juntas com respeito e colaboração, os resultados são mais consistentes, criativos e sustentáveis”, afirma Vilar.
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