EMPREGOS & NEGÓCIOS
Quase 50% dos MEIs tomam empréstimos com amigos ou familiares
Por dificuldade de acesso ao crédito formal, empreendedores recorrem a pessoas próximas
Por Isabel Queiroz*

Segundo uma pesquisa realizada pelo MaisMei, plataforma digital privada que oferece suporte completo para Microempreendedores Individuais (MEIs), 48,8% dos financiamentos obtidos por esses empreendedores vêm de amigos ou familiares. A principal razão para isso é a dificuldade de acesso ao crédito formal, o que leva muitos a recorrer ao apoio de pessoas próximas.
Apesar de ser mais acessível e muitas vezes a única alternativa para muitos microempreendedores, esse método apresenta ressalvas importantes. Entre as opções de crédito oferecidas para os MEIs, atualmente no Brasil, estão bancos públicos, cooperativas e instituições voltadas para pequenos negócios. Alternativas como o microcrédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco do Nordeste e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), são indicadas para quem busca juros mais baixos e prazos mais longos.
Há também linhas específicas em instituições que atendem MEIs, com condições diferenciadas, como taxas reduzidas e prazos ampliados. Outra possibilidade é o crédito com garantia, no qual o empreendedor oferece um bem: veículo, imóvel ou até o próprio faturamento. Esse modelo costuma apresentar condições vantajosas, mas exige planejamento e atenção.
Apesar das opções, na prática, os microempreendedores enfrentam muitas dificuldades para conseguir financiamentos. Entre os principais motivos estão: falta de comprovação formal de faturamento, informalidade nas receitas, restrições no CPF ou CNPJ, desorganização financeira, baixo score no Serasa, burocracia (falta de documentos) e desconhecimento sobre as opções de crédito.
Raphael Carneiro, que trabalha com planejamento financeiro pessoal e para autônomos, afirma: “É muito comum o uso de crédito vindo de pessoas conhecidas, familiares e até agiotas. O risco do crédito não documentado ou não legalizado é alto, e pode comprometer relações pessoais, aplicar juros abusivos e levar a pagamentos muito maiores do que os de uma instituição regularizada”.
Thais Brito, confeiteira e empreendedora, em Salvador, trabalha com produção e venda de doces autorais. Ela compartilha que também já passou por essa situação de recorrer a conhecidos: “Já tive crédito negado, inclusive em cooperativas, ao tentar financiamentos com taxas menores. Os motivos mais comuns foram: falta de comprovação formal de faturamento constante e nome negativado”.
Conseguir empréstimos informalmente já fez parte da sua realidade: “Minha principal fonte de financiamento sempre foram empréstimos com terceiros. Já recorri a amigos e familiares em momentos de urgência”.
Vivência também compartilhada por Jéssica Cecília Santos, confeiteira há cinco anos, ela relata: “Já tomei empréstimos com familiares e conhecidos, algo bem rotineiro.
Quem vive de vendas sabe que há épocas muito boas e outras bem ruins. Nesses momentos difíceis, a gente recorre à mãe, à irmã. Eu costumo brincar e dizer: ‘Vou ali falar com meu agiota, que é minha mãe mesmo’.
Às vezes a gente investe, compra uma máquina, algo para pagar depois, e quando as vendas caem, tem que recorrer a alguém para pagar a parcela”.
Para ambas as microempreendedoras, o acesso a financiamentos formais faria uma grande diferença, especialmente para o desenvolvimento dos negócios:
“Se tivéssemos acesso a um crédito formal, com juros justos, conseguiríamos investir de forma mais segura e planejada. No meu caso, gostaria muito de investir em estrutura, identidade visual e divulgação, mas a falta de capital trava o crescimento”, disse Thais Brito, dona da Dithai Confeitaria.
Sonho fora do papel
Para Jéssica, alguns sonhos poderiam sair do papel: “Faria muita diferença. Tiraria muitos sonhos simples do papel, como uma geladeira expositora ou uma panela mexedora, que aliviaria minhas dores nos braços e otimizaria o meu tempo de produção, pois, enquanto ela mexe, eu poderia fazer outras coisas.
Mas, quando coloco no papel, com juros altos, fica inviável. A gente acaba protelando ou tentando juntar aos poucos, porque o crédito não compensa. No fim das contas, você paga o valor do produto duas vezes”.
Entre as principais dicas para quem busca financiamento estão: manter um bom planejamento, comparar o Custo Efetivo Total (CET) entre instituições, separar as finanças pessoais das empresariais, organizar o fluxo de caixa e priorizar instituições confiáveis.
Mas é importante ficar atento aos riscos. Raphael Carneiro alerta: “Muita atenção com o objetivo. É comum ver MEIs pegando empréstimo para reformar a casa ou comprar um carro de uso pessoal.
Isso é perigoso. O empréstimo deve ter um objetivo claro e profissional. Não se pega dinheiro só para ‘ter na mão’. É fundamental estudar, entender o que está sendo feito e planejar o pagamento mensal”.
Para o planejador financeiro Leonardo Câmara, a capacitação é essencial: “É importante que o empreendedor busque qualificação constante na gestão do negócio. O Sebrae, por exemplo, oferece cursos gratuitos que ajudam muito”.
Ele reforça que, “quando bem utilizado, um recurso financeiro pode impulsionar o crescimento, a expansão do negócio e a estabilidade financeira”.
* Sob supervisão da editora Cassandra Barteló.
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