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Revelar salário entre colegas deixa de ser um tabu

Publicado domingo, 22 de outubro de 2017 às 10:23 h | Autor: Gabriela Medrado*
Especialistas em gestão de pessoas recomendam tratar abertamente a questão para facilitar avanços no plano de cargos
Especialistas em gestão de pessoas recomendam tratar abertamente a questão para facilitar avanços no plano de cargos -

Na hora de conversar com os colegas de trabalho, um assunto que, muitas vezes, é evitado é o salário de cada um. Contar o quanto se ganha, seja no trabalho ou fora, parece estar relacionado a constrangimentos e inveja.

Ao contrário do que se possa imaginar, revelar a remuneração, sobretudo entre pessoas que realizam as mesmas funções, pode também trazer resultados positivos, ajudando até mesmo a identificar irregularidades no plano de cargos e salários da empresa.

No caso do farmacêutico Erito Nunes, por exemplo, conversar com um amigo o ajudou a descobrir uma diferença considerável entre os ganhos dos dois: seu colega recebia cerca de R$ 1 mil a mais na rede de farmácias onde ambos trabalhavam, mesmo ocupando a mesma função. A única diferença era a localização das unidades na mesma cidade.

“Tudo vai depender do grau de maturidade do colega ou equipe”

“Na época eu não sabia dos meus direitos, sabia apenas que a empresa respeitava o piso salarial e achava que a diferença era normal”, conta. Foi só anos mais tarde, quando processou a empresa por outro motivo, que Erito descobriu que poderia ter exigido a equiparação salarial e ganhar o mesmo que o colega.

Além da falta de informação sobre seus direitos, Erito acredita que há pouco diálogo entre colegas de trabalho. Apesar da intimidade ao falar sobre o salário com o amigo, ele afirma que seus colegas costumam evitar o assunto. “A maioria das pessoas não fala sobre os valores no contracheque, acho que por vergonha. Acredito que muitas empresas se aproveitam disso”, conta.

Para a consultora de recursos humanos Adriana Moraes, da Talento RH, esse bloqueio ao falar sobre os ganhos de cada um está sendo superado: “Já foi um tabu, mas hoje vejo como uma forma de tratar um assunto pessoal. Tudo vai depender do grau de maturidade do colega ou equipe, para não gerar desconforto no ambiente de trabalho”, opina.

Ela afirma que não há erro em expor o salário para os colegas, desde que o assunto não seja tratado de forma negativa. “A informação pode ser tratada em tom de sarcasmo ou ironia e virar assunto de corredor, trazendo um aspecto de desrespeito”, explica.

Adriana explica, entretanto, que desde que o assunto seja tratado de forma respeitosa, saber o salário dos colegas pode ajudar os funcionários a entender a média de remunerações da empresa em relação ao mercado e identificar se pessoas que exercem a mesma função estão recebendo valores diferentes.

O que diz a lei

O advogado Fábio Rocha, que representou Erito em seu caso, explica que o trabalhador pode pedir a equiparação salarial caso perceba que um colega com as mesmas atribuições recebe um salário diferente: “O funcionário pode ter direito à equiparação quando exerce a mesma função para o mesmo empregador, no mesmo município, e com diferença de tempo inferior a dois anos”.

A função, entretanto, não pode ser confundida com o cargo. Enquanto o último é o nome da posição ocupada pelo profissional, a função diz respeito a suas atribuições. Pessoas de mesmo cargo, portanto, podem ocupar funções diferentes. A equiparação também pode ser pedida quando o funcionário percebe que está recebendo atribuições de um cargo superior ao seu.

Ambas as situações, no entanto, estão sujeitas a outras questões, como produtividade e capacidade técnica. “São critérios mais subjetivos, mas um diploma ou especialização a mais, por exemplo, já podem justificar uma diferença salarial”, explica Mário.

*Sob supervisão da editora Joyce de Sousa (interina)

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