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CONSCIÊNCIA NEGRA

Saberes ancestrais inspiram novos negócios de empresários negros

Exigências do mercado fazem com que novas gerações ressignifiquem conhecimentos antigos

Por Priscila Dórea

20/11/2022 - 6:00 h
Danielle descobriu ligação com o acarajé na  árvore genealógica da família
Danielle descobriu ligação com o acarajé na árvore genealógica da família -

Nossas famílias e ancestrais moldam a nossa essência, e esses saberes adquiridos muitas vezes estimulam que sigamos passos familiares e o ‘negócio da família’. Seguir uma carreira que parece se distanciar dessas ancestralidades, em especial para famílias de negras e negros, costumam causar temor e uma sensação de perda daquilo que faz ser quem elas são.

No entanto, a mudança de perspectiva diante das exigências do mercado tem despertado em gerações mais recentes a necessidade de ressignificar esse conhecimento, mas sem abandonar a essência e garantindo a permanência desse saber ancestral em qualquer tempo.

“Esse movimento tem sido promovido e tomado corpo recentemente, e bebe desse caldeirão cultural tão rico que temos no Brasil, em especial no Norte e Nordeste, produzindo negócios relacionados a nossa ancestralidade e herança africana, e dos povos originários. Tem muita coisa sendo produzida na área da cosmética, da moda e da música, por exemplo. É um movimento que realmente busca analisar o que nós temos de legado e a variedade do que é criado a partir disso é muito grande”, afirma o escritor, empreendedor, e consultor em diversidade e inovação, Paulo Rogério Nunes.

Paulo Rogério também é cofundador da aceleradora Vale do Dendê, da Afar Ventures e da AfroTV, e explica que primeiro é preciso pegar o que foi deixado como legado dos ancestrais, transformar isso numa forma de subsistência e então em empreendedorismo, criando um caminho futuro de negócios. “E esse forte movimento tem sido liderado principalmente por mulheres que se baseiam nas ervas sagradas e em características marcantes de suas vivências, por exemplo. Além, claro, de toda base que temos para produzir conteúdo, produtos e serviços, três coisas que estão sendo conectadas de uma forma muito intensa nos últimos tempos”.

Danielle Sales, empreendedora e proprietária da Tem Dendê Gourmet (@temdendegourmet) é um bom exemplo dessa força feminina que une ancestralidade e futuro. A criação da empresa a princípio foi muito intuitiva, mas durante os cinco anos seguintes, Danielle pesquisou a árvore genealógica da família e descobriu não apenas que a avó havia sido baiana de acarajé, mas que também dos 12 filhos ainda vivos, 9 são mulheres e cinco delas foram baianas de acarajé, inclusive a própria mãe de Danielle. Hoje, além do tabuleiro Rainha do Dendê - que pode ser contratado para festas -, ela tem uma foodbike e vende os produtos congelados, do acarajé ao caruru.

“A Tem Dendê Gourmet nasceu muito da necessidade de grana mesmo, de me manter, porque o que eu recebia quando estudava para concurso não dava, e aí o amor só veio crescendo. Quem me ensinou as receitas primeiro foi minha avó, depois minha mãe e então minhas tias, cada uma tem um jeito e fórmula para se fazer, e eu fui aprimorando a fórmula da Tem Dendê a partir do conhecimento que elas me passavam. Há uma muita história ancestral enraizada na Tem Dendê, essa caminhada tem se tornado a minha missão como mulher preta, onde o elo é o acarajé, mas que também vai muito além disso”, explica Danielle Sales.

Comunicóloga, mestre em gestão, radialista e empresária, Jamile Musafiri já trabalhou na ONU, no consulado do Sudão no Brasil e no consulado do Brasil no Sudão, mas foi quando casou com o marido congolês e passou a morar na República Democrática do Congo (RDC), que ela entrou no mundo dos tecidos africanos e na cultura local. De volta a Salvador, ela criou a Madame Nalwango (@madamenalwango_oficialsalvador), uma loja de roupas que tem como objetivo desmistificar que tudo que vem da África deve ser consumido apenas por pessoas negras ou de religião de matriz africana.

“Minha referência familiar e ancestral vem daquilo que aprendi com meus pais e meus avós. Do bolinho de feijão que comíamos com as mãos, costume no Brasil e em África, e do passinho de samba ensinado por meu avô, por exemplo. Já minha referência ancestral no aspecto religioso é Jesus. Tenho um negócio baseado na África, estudei e estudo sobre África, e sou cristã, e isso muitas vezes causa estranhamento, porque as pessoas acham que eu não poderia ter esse conhecimento e uma estrutura de negócio que se baseia nessa ancestralidade”, afirma. Quando resolveu criar a Madame Nalwango, Jamile percebeu que gostaria de investir no mercado de roupas executivas - ternos, paletós, gravatas -, mas seguindo as cores e estampas usadas em África, que não são encontradas aqui. As peças da loja são 100% algodão, tecidos que vêm de países como Congo, Togo e Tanzânia. "Resolvi adotar esse estilo mais sofisticado e com estampas coloridas, tanto para tentar naturalizar essas cores, que para mim é uma tradução de felicidade, quanto para que as pessoas gostem tanto do que estão usando que não queiram mais tirar”, conta a empresária.

Transversal

É preciso entender que a ancestralidade é transversal dentro de tudo o que fazemos dentro da família, afirma o designer gráfico e consultor em afro-games, Zezé Ifatolá Olukemi. “A ancestralidade nos orienta em tudo o que fazemos, em todas as decisões que tomamos, e não entendemos a ancestralidade como um processo linear, do passado, como é passado, como tempo e espaço do passado, ele é um tempo espaço do presente e o tempo espaço do futuro, porque ele nos orienta nas decisões futuras”.

Zezé Olukemi, influenciador digital e consultor de gamers afro
Zezé Olukemi, influenciador digital e consultor de gamers afro | Foto: Raphael Muller | AG. A TARDE

Zezé Olukemi também é cofundador da Interactive Media Development (ITAN), produtora de games que aborda as cosmovisões africanas no desenvolvimento de narrativas dos jogos eletrônicos. A produtora de games está em hiatos no momento, com os fundadores e colaboradores focados em outros projetos - mas há planos de reabertura no futuro -, enquanto isso o empreendedor tem aproveitado seus saberes de cultura africana e afro-brasileira, para trabalhar como consultor de empresas que querem saber qual a melhor forma de desenvolver games com alguma temática racial, ou que aborde cultura africana ou dos orixás.

“Por ser um caminho de conhecimento ainda delicado no Brasil, muitas empresas me contratam para poder fazer essa consultoria e dialogar melhor com o roteiro, com todo o processo de desenvolvimento”, explica o designer e consultor.

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