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São João gera oportunidade de negócios na capital e no interior

Empreendedores encontram na data uma possibilidade de obter renda extra

Publicado domingo, 05 de junho de 2022 às 06:00 h | Autor: Leonardo Lima*
A empresária Alessandra Lyrio é  proprietária do Empório Castaño, um dos  pontos de venda do Licor do Recôncavo em Salvador
A empresária Alessandra Lyrio é proprietária do Empório Castaño, um dos pontos de venda do Licor do Recôncavo em Salvador -

Além de sua relevância cultural, o São João é um período com grande peso para a economia baiana, principalmente nas cidades do interior do estado. Então as festas restritas nos últimos dois anos em razão da pandemia da Covid-19 fez com que diversos setores encontrassem dificuldades. Mas com a melhora sanitária, a expectativa para o mês é positiva, seja para conseguir uma renda extra ou mesmo dar mais destaque ao próprio negócio.

E nesse contexto de crise, a necessidade de empreender foi forte. Segundo pesquisa do Observatório de Economia Criativa da Bahia (OBEC-BA), somente em 2020, mais de 24 mil empregos deixaram de ser gerados no  São João por conta da pandemia. Gastos em atividades como viagem e turismo, expressivos durante o mês de junho, tiveram perdas de R$ 566 milhões em comparação ao mesmo período de anos anteriores. Para muitos, conseguir aproveitar a data foi um desafio.

Aidê Oliveira, 60 anos, é aposentada e mora na cidade de Amargosa, no interior do estado. Para ela, o São João é uma oportunidade de conseguir um dinheiro extra para comprar coisas para a casa. “Nós fazemos balinhas de jenipapo, amendoim, cocada de leite condensado, doce de leite, tudo para comercializarmos. Como o salário dos aposentados está congelado, aproveitamos essa época para trabalhar e comprar o que precisamos”.

Com o dinheiro das balinhas de jenipapo, Aidê conta que já conseguiu comprar um fogão e um micro-ondas. “A gente começa a vender quando chega a época de jenipapo, lá para fevereiro e março, mas as pessoas procuram no São João. Então desde meados de maio até junho nós produzimos bem mais por causa da demanda”, enfatiza.

“Coloco um cartaz aqui em casa com o que vendemos e boto uma mesinha na entrada com os produtos e as amostras do que estamos fazendo. Os nossos próprios amigos e fregueses que vão divulgando, repassando nossas vendas e se tornam fãs da bala de jenipapo”, fala Aidê. 

Fabricação artesanal

Um outro negócio que se organiza durante o ano para as vendas do mês de junho é o Licor do Recôncavo, em Salvador.  O sócio Anderson Correia explica que eles vendem licores de fabricação artesanal produzidos diretamente na cidade de Cachoeira. “Nós trabalhamos com encomenda o ano todo, mas o período de venda com maior escala é no São João. Fora do período junino não conseguimos manter o mesmo planejamento”, contextualiza.

E os últimos 2 anos de pandemia trouxeram mudanças no funcionamento da empresa: “Abrimos o negócio para delivery e tomou uma proporção maior, durante o tempo de isolamento tentamos levar um pouco da sensação do São João para as pessoas em casa. E este ano, com as festas e reabertura, o desafio é lidar com os dois formatos, tanto o físico, como o delivery", conta Anderson.

O empreendedor diz que a movimentação para o período junino começa em abril e se estende até julho. Por conta disso, o planejamento tem que ser feito com antecedência: “O marketing tem o objetivo de deixar o cliente mais próximo do nosso produto, postando nas redes sociais, nos grupos de Whatsapp. Que o cliente saiba como são embalados, como vão para o delivery, até que data podem reservar para retirar o produto".

"O nosso investimento na divulgação do licor tem que se dobrar, chegar até aquela pessoa para ela se sentir confiante com nosso produto, seja para consumir em casa, numa festa, ou na viagem para o interior. Mas, até para nos prepararmos, nossa expectativa é sempre a maior", afirma Anderson.

O gerente regional do Sebrae em Santo Antônio de Jesus, Carlos Henrique Oliveira, destaca que, depois de 2 anos sem festas, o clima nas cidades é de ânimo. “O São João está sendo muito esperado pela comunidade e para as empresas que buscam uma renda melhor. Já estamos com decoração e música de temas juninos nas ruas e tudo isso é importante porque muda a dinâmica econômica", pontua  Carlos Henrique.

Com essa expectativa para o período, o gerente do Sebrae apresenta algumas dicas para quem irá empreender: “É fundamental que a pessoa preste um atendimento de excelência para fazer com que esse cliente volte. É também oferecer um produto de boa qualidade, com segurança alimentar e de manuseio desses produtos, principalmente os ambulantes”.

Para ele, também é importante que esses empreendedores “façam a gestão do seu negócio, entendendo quais passos vão dar para fortalecer a empresa que estão conduzindo. É anotar os créditos, débitos, pagar corretamente e, quando sobrar um lucro, saber como investir. Precisamos incentivá-los a empreender no ano inteiro, porque a economia sempre está girando”, orienta o gerente do Sebrae.

Após 2 anos de pandemia, varejo aposta no arrasta-pé

Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), a falta de São João gerou uma perda de 32% nas vendas do comércio, em 2021, atingindo principalmente os segmentos de vestuário e supermercado. Raphael Passos, diretor do Shopping Itaguari, em Santo Antônio de Jesus, comenta sobre o peso da data para o calendário do varejo.

“Nas cidades do interior, o mês de junho é a segunda data de venda do varejo, perdendo somente para o Natal. Então foram junhos muito tristes e anos muito difíceis, mas que passaram e as expectativas agora são as melhores possíveis. Estamos vendo um crescimento forte do varejo e do movimento, o trânsito de pessoas já começou", conta Raphael.

“As famílias começam a alugar as casas e produzir licor, os hotéis e o varejo se preparam, começa a investir nele mesmo. Então essa onda crescente da economia vem desde cedo, em abril”, explica o diretor do shopping. Para ele, os dias de festa no fim de junho são apenas um desfecho para um período econômico grande.

Raphael sinaliza ainda que, o comerciante que deseja se destacar nesse contexto, é fundamental buscar entrar no clima: “O varejo pós-pandemia é focado na experiência, então o destaque da loja tem que ser nessa linha. É proporcionar uma boa decoração, degustação de comidas típicas, tudo para que o cliente se sinta bem no seu estabelecimento”, aconselha.

Peças juninas

Aline, da loja de moda infantil Nada Basiquinha,  comemora a crescente demanda, registrada desde maio
Aline, da loja de moda infantil Nada Basiquinha, comemora a crescente demanda, registrada desde maio |  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
  

Com essa retomada do comércio, uma das lojas que percebeu um aumento na busca por peças juninas é a Nada Basiquinha, de moda infantil. “Estamos surpresos em como a demanda está grande desde maio. Pedidos que fizemos para durar um mês, vendemos em dois dias, então está bem acima das expectativas”, comenta Aline Accioly, proprietária da loja.

De acordo com ela, esse movimento tem acontecido também por conta da volta às aulas. “As escolas voltaram e terão festas que ano passado não tiveram, então isso já movimenta. Geralmente nos antecipamos com os pedidos em 5 meses, quando já compramos a coleção, mas este ano temos que ficar procurando novos fornecedores, novas marcas para trabalhar porque as outras não estão dando conta”, afirma.

“Se eu fosse colocar em uma escala, hoje o São João é nossa terceira data mais importante. A primeira é o Natal e depois o mês de outubro, com o Dia das Crianças que também é forte. Por enquanto não conseguimos ter certeza porque ainda está acontecendo, mas talvez neste ano o São João fique em segundo lugar em termos de faturamento, por causa da demanda”, diz Aline.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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