EMPREGOS & NEGÓCIOS
Startups baianas oferecem soluções para demandas da pandemia
Por Luísa Carvalho*
Com a Covid-19 surgem novas necessidades em vários setores. Buscando propor soluções para problemas que vieram ou se intensificaram durante a pandemia, novas startups baianas têm se destacado.
Donjorge Almeida, diretor de comunidades da Associação Baiana de Startups (Abas), afirma que as iniciativas que estão se difundindo agora são reflexo de um “ecossistema de inovação” que Salvador já vive há cerca de três anos. “Não dá para desassociar. É lógico que a pandemia deu uma acelerada nisso, mas é um trabalho contínuo”.
Para a empresária Monique Evelle, “Salvador sempre viveu a inovação”. Na sua perspectiva, inovar é fazer funcionar. Ela destaca que isso tem sido feito por tecnologias sociais que existem na cidade desde antes do “boom” das startups. São blocos afros, coletivos e movimentos de periferia, que a inspiram na busca por alternativas neste momento pandêmico.
Monique, em parceria com o consultor de tecnologia Lucas Santana, fundou em agosto de 2020 a plataforma de aprendizagem Inventivos (@inventivos.co). O empreendimento parte da percepção do aumento de exigência por profissionais com altas habilidades ao mesmo tempo em que, com a pandemia, há uma redução de investimento das empresas na área de desenvolvimento de pessoas.
Na plataforma, os assinantes têm acesso a aulas semanais online, a oportunidades de trabalho, podem anunciar e consumir serviços através de uma moeda digital própria. “Podemos criar algo relevante e necessário para as pessoas que querem empreender com segurança ou ter requalificação profissional nesse novo mercado de trabalho, com um valor que seja justo e baixo para o público”, afirma a empresária.
Fazer parcerias
Além do ímpeto inovador que ajuda na busca por soluções, outro elemento explica o surgimento dessas startups: a troca entre os empreendedores. “A possibilidade de validar, dar ideias e criar, por conta de tanta gente nesse ecossistema, faz com que apareça esse tipo de startup. É muito importante que dentro dele as pessoas possam se ajudar”, afirma Donjorge Almeida.
Foi da troca de ideias entre Adriana Portugal e Loyola Neto, empreendedores do ramo de confecções, que nasceu a NN Antiviral (@nn.antiviral). Em busca de soluções na pandemia, eles perceberam que tinham um perfil parecido e se juntaram para produzir máscaras com tecido antiviral.
O produto, que é feito com tecido produzido pela têxtil DiklaTex e aprovado pela Fiocruz, foi confeccionado pensando em proporcionar melhor respirabilidade.
Além da máscara, Loyola Neto também trabalha com outra solução antiviral. Na startup Salvar (@salvarmais), em que é CEO, ele desenvolveu filtros para ar-condicionado em parceria com o Senai Cimatec e incentivo da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapi).
Os filtros, submetidos a testes em laboratórios acreditados pelo Inmetro, combatem 99% do novo coronavírus e 80% dos fungos e bactérias presentes no ambiente.
Para Loyola, as máscaras da NN Antiviral e os filtros ainda não são suficientes. Ele pretende lançar, em breve, outros produtos antivirais na Salvar, mesmo em meio a desafios. “É um momento de muita dificuldade, queda de faturamento. Eu, sinceramente, acho que a gente foi movido pelo propósito mesmo, propósito de ajudar a salvar vidas”, diz.
Pesquisa necessária
Monique Evelle, à frente da Inventivos, acrescenta que, além de um propósito definido, é preciso também que haja pesquisa e compreensão do que as pessoas querem. “Muitas vezes o problema está no empreendedor que se apaixona tanto pela ideia e pelo negócio que esquece de ouvir e entender o que realmente o nosso cliente quer e precisa”, afirma.
A boa comunicação é fundamental tanto no início, para a compreensão do cenário, como para depois manter o empreendimento. “Muitas vezes a chave está em você gerar uma necessidade para seu consumidor ou se conectar a uma dor. A comunicação precisa continuar sendo relevante porque é preciso continuar acionando essa dor”, afirma o gerente regional do Sebrae em Salvador, Rogério Teixeira.
No caso de negócios que nascem a partir de demandas novas da pandemia, ela é ainda mais importante porque precisa certificar a segurança e confiabilidade desse novo produto ou serviço.
Lógica digital
Esses novos negócios já nascem em uma lógica digital bastante acentuada. A forte presença nas redes deve fazer parte de sua construção. A Ritelo (@ritelobrasil), empresa que provê soluções de abastecimento e reposição de estoque com menor preço para o varejo, tem todo seu processo comercial, marketing e financeiro digitalizado.
O CEO Thiago Santos conta: “Em março de 2020, percebemos um problemão que os varejistas estavam encontrando para refazer a reposição de seu estoque. Muitos comerciantes ficaram limitados em deslocamento e atendimento presencial durante o lockdown”. A Ritelo surge se propondo a ajudar nessa conexão.
Também é criada com grande foco no online a loja circular sustentável Leve (@lojaleve.com_). O site funciona como um marketplace para expor pequenas marcas e pessoas que desejam vender suas roupas para fazer uma renda extra. “A gente busca trazer a presença digital sem que o empreendedor se preocupe”, afirma o CEO André Sales. Para a loja, em que roupas podem ser doadas a entidades assistenciais, pensar no social é muito importante neste momento.
Pensar no futuro
O fim da pandemia ainda é incerto, mas é preciso se preparar para o que pode vir. Rogério Teixeira pontua que há um risco, mesmo que pequeno, de que o comportamento das pessoas surpreenda o mercado e vá na contramão do que especialistas prevem. Rogério orienta: “Pense em todas as possibilidades”.
Um problema dos empreendedores é a falta de capacidade de não perceber as mudanças que acontecem. “É preciso sempre inovar. Nada vai ser constante”, alerta Rogério.
Adriana Portugal, da NN Antiviral, sabe disso e se mantém aberta para as possibilidades do mercado. “Estamos atentos às demandas dos clientes e o que for necessário a gente vai produzir”, diz.
Na perspectiva de que a pandemia demore a passar, Monique e Lucas planejam fazer a Inventivos chegar a lugares sem acesso à internet para levar conteúdo a mais pessoas. “O trabalho remoto é desigual, assim como o futuro do trabalho poderá ser desigual se não pensarmos nisso”, Monique afirma.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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