ENTREVISTAS
Ferro Verde e vidro solar: Bahia se consolida como referência em sustentabilidade e inovação
Confira entrevista com Henrique Carballal, presidente da Companhia Baiana de Produção Mineral (CBPM)

Por Redação

1. A CBPM apresentou, durante o Congresso, o modelo de mineração sustentável e inclusiva desenvolvido na Bahia. Quais são os pilares que sustentam esse modelo?
Henrique Carballal: O modelo de mineração sustentável e inclusiva adotado pela CBPM na Bahia, sob a liderança do governador Jerônimo Rodrigues, se baseia na integração entre desenvolvimento econômico, responsabilidade ambiental e impacto social positivo.
Para nós, mineração vai muito além do aproveitamento de recursos minerais. É uma atividade capaz de impulsionar desenvolvimento, promover inclusão e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Trabalhamos para garantir que cada projeto gere benefícios reais à população, respeite as características dos territórios e amplie as oportunidades para que as comunidades locais sejam, de fato, protagonistas desse processo.
Isso envolve investir em tecnologia para tornar as operações cada vez mais eficientes e sustentáveis, promover qualificação técnica e inclusão produtiva nas regiões onde atuamos e fortalecer a geração de empregos e renda. Outro pilar fundamental é a transparência, com diálogo permanente com a sociedade, para que todos compreendam a importância da mineração e como ela está presente no nosso dia a dia.
Em síntese, nosso modelo se sustenta em três pilares: sustentabilidade, inovação e compromisso social. Essa é a tríade que consolida a Bahia como referência nacional em mineração responsável e inclusiva.
2. A mineração foi apontada no Congresso como parte essencial da transição energética. Qual o papel da mineração nesse processo e quais minerais têm maior relevância para esse novo cenário?
Henrique Carballal: Não existe transição energética sem mineração. Toda a tecnologia necessária para gerar, armazenar e distribuir energia limpa depende diretamente de minerais críticos e estratégicos. E a Bahia é protagonista na diversidade desses minerais.
Nosso estado tem uma grande variedade e teor de minerais como níquel, cobre, cobalto, ferro, titânio, vanádio, grafita e terras raras, todos essenciais para fabricação de baterias, turbinas eólicas, painéis solares, veículos elétricos e redes inteligentes. Nosso papel é garantir que esses minerais sejam extraídos de forma responsável.
A mineração é a base da descarbonização e, portanto, da preservação do planeta.
3. A Bahia é hoje referência em mineração responsável e inovadora. Quais ações concretas da CBPM têm contribuído para consolidar essa posição de destaque no país?
Henrique Carballal: A Bahia chegou ao patamar de referência nacional em mineração responsável porque temos ações concretas que mostram, na prática, como é possível conciliar desenvolvimento econômico, sustentabilidade e compromisso social. Entre essas inciativas, está o Projeto Ferro Verde, desenvolvido pela Brazil Iron em parceria com a CBPM, posiciona a Bahia como referência nacional na produção de aço verde, fortalece a cadeia produtiva do setor e contribui de forma decisiva para a descarbonização da indústria siderúrgica brasileira.
O projeto permitirá que a Bahia passe a produzir Ferro Briquetado a Quente (HBI), considerado essencial para a transformação da indústria mundial do aço. Essa tecnologia permite substituir fornos a carvão, altamente poluentes, por fornos elétricos alimentados por energia renovável, capazes de reduzir em até 99% as emissões de dióxido de carbono, colocando a Bahia na fronteira da transição energética do setor siderúrgico.
Com um investimento total de US$ 5,7 bilhões no estado da Bahia, o projeto envolve o beneficiamento do minério de ferro, a construção de um ramal ferroviário de 120 km e a instalação de plantas siderúrgicas, com previsão de gerar mais de 55 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, a empresa já aportou R$ 1,7 bilhão na Bahia, valor que não está incluso no capital estimado para o projeto.
Além do impacto econômico, o projeto posiciona a Bahia como referência nacional na produção de aço verde, fortalece a cadeia produtiva do setor e contribui de forma decisiva para a descarbonização da indústria siderúrgica brasileira.
Outro grande case é o Projeto Brasil Transparente, desenvolvido pela Homerun Brasil em parceria com a CBPM, que representa um passo decisivo da companhia rumo ao protagonismo da Bahia na transição energética global. Com um investimento de R$ 1,8 bilhão, o empreendimento marca um novo capítulo na industrialização sustentável da Bahia, com a instalação da primeira fábrica de vidro solar fora da China no município de Belmonte, região sul do estado.
O projeto contempla a produção de vidro solar para painéis fotovoltaicos de alta performance a partir da sílica de alta pureza encontrada exclusivamente em solo baiano. Equipada com tecnologia de ponta, a nova unidade industrial promete colocar a Bahia no mapa global da indústria de energia solar, com impacto direto na cadeia produtiva da energia limpa.
Com investimento estimado em R$ 600 milhões, o Projeto Irecê, desenvolvido pela Galvani em parceria com a CBPM, prevê a construção de uma nova unidade de mineração de fosfato no município. A operação, que deve iniciar em abril de 2026, tornará a Bahia autossuficiente na produção de fertilizantes fosfatados, além de permitir que o estado atenda a 30% da demanda das regiões Norte e Nordeste.
Com foco também em responsabilidade ambiental e eficiência operacional, as iniciativas da Galvani incorporam tecnologias inéditas e práticas sustentáveis no setor de fertilizantes. Um dos principais destaques é o processo inovador de calcinação na produção de concentrado fosfático, que será realizado sem uso de barragens de rejeitos e com aproveitamento de 100% dos resíduos gerados, reutilizados na agricultura como subprodutos.
Além disso, 100% da água será recirculada no processo, sem qualquer lançamento de efluentes industriais. O projeto também prevê extração e recuperação de áreas concomitantes, sem a formação de pilhas permanentes de estéril e com desmonte controlado e preciso, por meio de tecnologias modernas.
Uma das principais iniciativas do Projeto Irecê é a doação anual de 10 mil toneladas de corretivo agrícola (subproduto do processo de produção de fertilizantes), destinadas à agricultura familiar na Bahia. O material é essencial para a correção do solo, reduzindo custos e aumentando a produtividade dos pequenos produtores rurais.
Já em parceria com a Atlantic Nickel, a CBPM viabilizou a retomada da operação da maior mina de níquel sulfetado a céu aberto da América Latina, localizada no município de Itagibá. A parceria reforça o protagonismo da Bahia na produção de minerais estratégicos para a mobilidade elétrica e a economia verde. Agora, a companhia e a mineradora unem forças para implantação da mina underground, que garantirá a ampliação da produção de níquel sulfetado, essencial para a transição energética global e deve impulsionar a geração de emprego e renda na região.
A parceria da CBPM com a Largo, produtora de vanádio de alta pureza, no município de Maracás, torna a Bahia uma fornecedora estratégica de relevância global em produtos voltados ao armazenamento de energia renovável. A cooperação entre a CBPM e a Largo fortalece o papel do estado como um polo de inovação mineral, alinhado às metas globais de descarbonização e eficiência energética.
4. Quais foram os principais temas e/ou resultados que a CBPM apresentou durante sua participação no Congresso?
Henrique Carballal: Apresentamos ao Congresso resultados muito objetivos, entre eles o avanço do modelo de mineração sustentável e inclusiva da Bahia; a importância dos minerais críticos para a transição energética; os impactos socioeconômicos dos projetos apoiados pela CBPM; o fortalecimento das práticas ESG na mineração baiana; e os novos instrumentos de inovação e ciência que estão transformando o setor mineral da Bahia. Mostramos, com números e ações concretas, que mineração e sustentabilidade não apenas podem, mas devem caminhar juntas.
5. A CBPM tem parcerias com universidades ou instituições de pesquisa voltadas à formação de profissionais e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para o setor mineral?
Henrique Carballal: Sim. Acreditamos que ciência e inovação se fazem em conjunto. Por isso, a CBPM tem buscado conexões com universidades e centros de pesquisa, tanto no Brasil quanto no exterior, firmando parcerias estratégicas com instituições como a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Serviço Geológico do Brasil (SGB) e o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), para impulsionar pesquisa, desenvolvimento e soluções inovadoras no setor mineral. Também temos reforçado a transversalidade na gestão pública, com acordos de cooperação técnica firmados entre a CBPM e secretarias estaduais, integrando a mineração a setores como educação, cultura, meio ambiente, infraestrutura.
6. O Congresso destacou a importância da governança e da responsabilidade socioambiental nas empresas. Como esses princípios são aplicados na CBPM?
Henrique Carballal: Governança e responsabilidade socioambiental são pilares que orientam cada decisão da CBPM. Trabalhamos com políticas objetivas de diversidade, equidade e inclusão; asseguramos transparência absoluta nas licitações e na divulgação dos dados geológicos; e acompanhamos rigorosamente os projetos desenvolvidos em parceria com a iniciativa privada para garantir que operem em alinhamento com a agenda ESG. No campo socioambiental, apoiamos e promovemos iniciativas de redução de emissões de carbono, recuperação de áreas degradadas, fortalecimento das comunidades locais e promoção de condições dignas de trabalho. Mas é muito importante lembrar que sustentabilidade não é apenas um conjunto de metas ambientais. É, sobretudo, um compromisso com a humanidade. O maior crime ambiental é uma criança passar fome. Não existe preservação ambiental sem inclusão social. E o compromisso da CBPM hoje é transformar riqueza mineral da Bahia em dignidade, cidadania e oportunidades reais para o povo baiano.
7. Quais as perspectivas que a CBPM levou do Congresso para fortalecer a integração entre direito, sustentabilidade e mineração no estado?
Henrique Carballal: Essa terceira edição do Congresso Brasileiro de Direito e Sustentabilidade reforçou algo que defendemos veementemente: a mineração do futuro depende de um diálogo permanente entre ciência, legislação, sustentabilidade e desenvolvimento social.
Saímos do evento com a convicção de que podemos avançar na segurança jurídica, no fortalecimento das diretrizes regulatórias, na educação ambiental e na construção de modelos que permitam que as comunidades estejam diretamente conectadas aos benefícios gerados pela mineração.
A integração entre direito e sustentabilidade é essencial para consolidar uma mineração moderna, transparente e alinhada com os princípios da agenda ESG.
8. Como a CBPM avalia a importância de eventos como o Congresso Brasileiro de Direito e Sustentabilidade para ampliar o diálogo entre o setor mineral, o meio jurídico e a sociedade civil, em busca de uma mineração cada vez mais inclusiva e sustentável?
Henrique Carballal: Eventos como o Congresso desempenham um papel determinante na construção do futuro da mineração, pois aproximam empresas, universidades, órgãos públicos e sociedade, criando um ambiente fértil para inovação, cooperação e avanço tecnológico, pilares essenciais para uma mineração mais inovadora, eficiente e transformadora.
São espaços de diálogo como este que nos permitem mostrar à sociedade que a mineração está presente em tudo: na energia, nos alimentos, nos transportes, nos equipamentos eletrônicos, na infraestrutura do país, no dia a dia, na vida da sociedade, e que ela pode, sim, ser feita com responsabilidade, transparência e inclusão.
O Congresso amplia o diálogo, constrói pontes e fortalece uma visão do presente e do futuro, onde mineração e sustentabilidade não são opostos, mas aliados na construção de um Brasil mais justo, mais competitivo e comprometido com o planeta.
Mini currículo
Presidente da Companhia Baiana de Produção Mineral (CBPM), Henrique Carballal assumiu a gestão da empresa em junho de 2023. Professor de História, formado pela Universidade Católica do Salvador, Carballal é ex-vereador de Salvador, jornalista e já atuou como apresentador de programas de TV.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes