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Neoindustrialização verde: passos largos rumo à sustentabilidade

Indústria contribui com o combate aos efeitos das mudanças climáticas

Publicado sábado, 25 de maio de 2024 às 00:01 h | Atualizado em 25/05/2024, 00:40 | Autor: Letícia Belém
Senai Cimatec vem investindo em pesquisa, tecnologia e inovação
Senai Cimatec vem investindo em pesquisa, tecnologia e inovação -

Para enfrentar o desafio global da redução das emissões de gases poluentes de efeito estufa - que retêm o calor na atmosfera causando o aquecimento global -, o Brasil deu início a um processo chamado de "neoindustrialização verde", que é a retomada da industrialização para um crescimento econômico de forma sustentável e de baixa emissão de carbono.

Isso porque o principal gás tóxico emitido pela queima de combustíveis fósseis (petróleo - gasolina e óleo diesel-, carvão mineral e gás natural) para a geração de energia é o dióxido de carbono (CO2), um gás poluente considerado por isso uma energia suja. A Bahia é líder no país na geração de energia elétrica limpa sustentável através de fontes renováveis, como a solar fotovoltaica, a eólica e a biomassa, que não emitem carbono.

Para contribuir com a demanda da transição energética para uma matriz limpa na Bahia, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, através do Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (Senai Cimatec) está investindo em pesquisa, tecnologia e inovação para descarbonizar a indústria baiana, através de quatro programas que envolvem a produção, o uso, o transporte e o consumo do hidrogênio verde (H2V) em processos industriais.

O hidrogênio verde é um gás combustível de grande potencial energético, obtido sem a geração de emissão de gases de efeito estufa porque utiliza a energia de fontes renováveis como solar fotovoltaica, eólica, hídrica e de biomassa para retirar, por eletrólise (quebra da molécula por corrente elétrica), o hidrogênio que é encontrado na água (H2O), de forma limpa. Dessa forma, o H2 se transforma em energia e combustível para diversos setores da indústria sem emissão de carbono.

Ou seja, é um importante avanço no processo de descarbonização das atividades produtivas da indústria e um destaque no processo de transição energética global. Segundo Luís Alberto Breda, diretor de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec, o hidrogênio é a molécula mais abundante do planeta com imenso potencial energético e extremamente útil para os processos industriais, com aplicação na indústria química e petroquímica, siderúrgica, de construção civil e de fertilizantes com os seus derivados amônia e ureia. É também utilizado como combustível para caminhões, ônibus, trens, navios e aviões. "Quando você substitui os combustíveis fósseis por hidrogênio verde, você está descarbonizando a matriz industrial", explicou Breda.

Munido de pesquisas, tecnologia e inovação para a descarbonização da indústria, o Senai Cimatec criou programas e projetos estruturantes estratégicos para a o desenvolvimento de soluções para apoiar o setor na transição energética. Um deles é a estruturação de um Centro de Competências em Hidrogênio Verde para atuação em curto, médio e longo prazo.

De acordo com o diretor, como o H2V é um tema relativamente novo, o órgão está criando uma base de pesquisadores brasileiros e estrangeiros selecionados para dominarem as tecnologias e operar projetos no futuro. Eles serão capacitados em competências como saber a melhor forma de produzir a molécula verde e o nível de eficiência na produção da eletrólise usando equipamentos diferentes. "Essa base dominará as tecnologias para subsidiar a execução de projetos de H2V e suas aplicações industriais no futuro", esclarece o diretor.

Em outro programa está sendo oferecido a eles a primeira pós-graduação do Norte e Nordeste do país em Hidrogênio Verde, voltada a criar uma massa crítica qualificada no país. "Eles poderão multiplicar o conhecimento, criar times específicos nas empresas para executar os projetos e definir a estratégia de descarbonização das indústrias", informa o diretor. Atualmente o curso está em sua segunda turma.

Breda conta que uma agência de cooperação internacional alemã buscou uma parceria com o Senai para montar um laboratório didático e tecnológico, com o objetivo de desenvolver e testar a tecnologia de H2V, e criar um time capacitado.

Em fase atual de montagem, este é o terceiro programa que possibilitará a criação de um hub (eixo) de H2V no Senai Cimatec Park, em Salvador, para fazer os testes de tecnologias diferentes que já existem e precisam evoluir do ponto de vista da eficiência, e o desenvolvimento tecnológico de armazenagem do gás em alta pressão."A Alemanha é um país que tem o maior interesse em desenvolvimento de pesquisas nesta área, com uma alta demanda de contratar e comprar o combustível verde", esclareceu Breda.

O quarto programa foi a pesquisa para a elaboração do Atlas do H2V, considerando os fatores disponibilidade de água para a produção de energia limpa, locais onde há a produção de energia renovável e onde pode haver um potencial consumidor do hidrogênio verde, com o objetivo de haver um menor lançamento de carbono na atmosfera.

Esse estudo, que foi a primeira iniciativa deste tipo no mundo, revelou que a Bahia tem um potencial de produção de 84 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano, valor que extrapola a necessidade energética de toda a indústria baiana. Na Bahia, o grande e potencial consumidor de H2V é o polo petroquímico de Camaçari.

"A Bahia tem a junção destes três fatores, o que é uma vantagem competitiva para criar uma matriz industrial descarbonizada", comenta, acrescentando que o mundo inteiro está trabalhando para evoluir a tecnologia a ponto de reduzir o custo de produção do H2V verde de modo a torná-lo competitivo, com valores equiparáveis às fontes de energias sujas em alguns anos.

Ele acredita que no futuro haverá uma barreira tecnológica ambiental para frear produtos que não sejam sustentáveis, provocando uma perda de mercado e de competitividade para as indústrias que não se adaptarem. Breda mostra que o estado reúne condições para ser o primeiro e principal do país a ter a implementação da geração e do uso do H2V para atender à demanda de energia limpa interna, de outros estados e até de outros países em um futuro próximo.

"O Senai Cimatec é um player importante neste cenário, porque estas quatro estratégias fazem parte de um plano macro de descarbonização para apoiar a nossa indústria a combater os efeitos negativos das mudanças climáticas", afirmou o diretor. Ele relata que foi criada uma infraestrutura robusta e pioneira no país para o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias neste setor no hub de H2V para alcançar uma indústria cada vez menos carbonizada. "A Bahia será uma potência na produção de hidrogênio verde e irá atrair mais indústrias verdes para o seu desenvolvimento e exploração ", conclui.

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