FLORESTA VIVA
Plano Bahia Florestal articula ações para aumentar área cultivada
Confira caderno especial desta quarta
Por Ana Cristina Pereira
A madeira que vem das florestas cultivadas é indispensável em vários setores da indústria – da produção de papel à secagem de grãos, passando pela fabricação de móveis e uso na construção civil. Ela está presente até no poliéster dos tecidos e em produtos de beleza. Por isso, o aumento da produção e do consumo da madeira renovável está no cerne de importantes projetos, como o Plano Bahia Florestal 2033, que deu um importante passo no mês passado.
Idealizado pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), o plano foi lançado no último dia 12, em evento que marcou os 20 anos da instituição. A ideia, explica o diretor executivo da Abaf, Wilson Andrade, é formar um comitê gestor com órgãos do governo estadual e iniciativa privada, além de instituições como Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Federação das Indústrias do estado da Bahia (Fieb) e Sebrae, para estimular investimentos atuais e atrair negócios.
No âmbito governamental, integrarão o comitê, por exemplo, as secretarias de Meio Ambiente, Agricultura e Desenvolvimento Econômico. A Abaf reúne 25 grandes empresas do setor, além de mais de 300 produtores independentes.
Wilson Andrade explica que o plano visa ampliar e fortalecer a cadeia produtiva de florestas plantadas para que a Bahia atenda a demanda por madeira dos mais importantes segmentos da economia, como papel e celulose, construção civil, processamento de grãos e fibras, mineração e energia. Hoje, o estado tem 700 mil hectares de área plantada, e a meta é dobrar este número até 2033. “Depende da capacidade de atrair rendimentos para o setor, pois esta é uma política de Estado”, reforça.
Na construção civil, ilustra Andrade, o potencial é muito grande, com a madeira podendo substituir o aço e o cimento em muitos contextos, reduzindo as emissões de carbono. “Vamos intensificar o que já temos feito para o uso múltiplo da madeira e estimular ainda mais a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), a diversificação e a sustentabilidade das atividades rurais com a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira”, afirma.
No modelo ILPF, o produtor é estimulado a abrir espaço entre as colheitas do eucalipto para cultivar diferentes lavouras, a exemplo do café, ou criar gado e outros rebanhos. “Essa é uma tecnologia que vai crescer bastante, pois protege o solo, aproveitando os resíduos de uma plantação para a outra como adubo. Gera renda extra para os produtores e utiliza os recursos técnicos e de pessoal de forma mais racional”, detalha. Os pequenos e médios produtores e processadores de madeira são responsáveis por 20% dos insumos que abastecem a indústria.
A produção baiana está concentrada em quatro grandes áreas: Sul e Extremo Sul, Litoral Norte, Oeste e Sudoeste. Mas Andrade destaca o surgimento de novos polos, como a região de Jaguaquara, onde está sendo estudada a introdução de uma variedade mais resistente ao clima seco. O trabalho é feito em parceria com a Embrapa e universidades baianas.
Compromisso ambiental
A Bahia possui cerca de 9 milhões de hectares de áreas degradadas, que podem ser usadas para o plantio de árvores, evitando o processo de desertificação e sem concorrer com a produção de alimentos. “Ninguém desmata para plantar. Plantamos e replantamos sempre no mesmo local, e com enriquecimento do solo”, afirma Wilson, reforçando que há o compromisso das empresas associadas à Abaf de chegar à relação de um por um, ou seja, para cada hectare reflorestado preservar um de mata nativa. Atualmente, a relação está em 0,7%, ultrapassando a exigência de 0,5 % do Código Florestal Brasileiro. Empresas como a Suzano, Bracell, Veracel, Ferbasa e ERB, que integram a associação, são responsáveis por cerca de 500 mil hectares de preservação de vegetação nativa em suas propriedades.
“Nós representamos de 5% a 6% do PIB e podemos crescer muito mais, levando o desenvolvimento ao interior do estado, gerando emprego, renda e o crescimento das receitas dos municípios“, projeta Wilson, acrescendo que tudo depende do crescimento do próprio estado e de setores como o de combustíveis ou de transporte. Neste último, é grande a expectativa em torno da construção das ferrovias Leste-Oeste (Fiol) e Centro-Atlântica (FCA), que podem estimular o surgimento de novos polos de plantio. “Podemos ter, ao longo das ferrovias, polos com diferentes tipos de solo, altitude e índices pluviométricos, o que vai diversificar e descentralizar a produção, levando-a para o interior e impactando a vida de muitas pessoas”.
À época do lançamento do Plano Bahia Florestal 2033, a presidente da Abaf, Mariana Lisbôa, destacou a importância da iniciativa no momento em que cresce a demanda por madeira no Brasil e no mundo. A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) contabiliza investimentos de R$ 70 bilhões no setor, nos próximos três anos.
“É preciso que a Bahia esteja preparada para atrair parte desses novos investimentos, seja em ampliações ou novas indústrias. Vale lembrar que o setor de árvores cultivadas produz e conserva, além de gerar riqueza e oportunidades. O desenvolvimento de um plano pode ajudar a tirar travas, incentivar o crescimento econômico, atender a crescente demanda por produtos de madeira, gerando ainda, principalmente no interior, mais empregos qualificados, capacitações, tecnologia, renda, impostos e contribuições ambientais de elevada significância”, resumiu Mariana Lisbôa.
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