ESPORTES
Após vitória relâmpago, Virna Jandiroba mantém foco no peso-palha: "Quero dominar"
Durou menos de dois minutos a vitória da baiana Virna Jandiroba no UFC 252, que aconteceu no último final de semana, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Com uma chave de braço, a 'Carcará' finalizou a americana Felice Herring, faturou o prêmio de performance da noite e, de quebra, ainda entrou para o ranking da categoria do peso-palha.
"Um combo de coisas boas", classificou a lutadora natural de Serrinha. Ainda engatinhando dentro da maior organização de MMA do mundo, Virna Jandiroba passou a borracha na primeira derrota de sua carreira, sofrida na estreia pelo Ultimate, contra a ex-campeã Carla Esparza, e finalizou suas duas adversárias seguintes. Agora, ela segue com um cartel com 17 lutas, sendo 16 vitórias e apenas uma derrota.
Em entrevista exclusiva ao grupo A TARDE, Virna comentou sobre as dificuldades que enfrentou durante a preparação, em decorrência da pandemia do coronavírus, e ratificou o desejo de dominar a categoria dos pesos-palha (até 52,2kg). Além disso, a lutadora natural de Serrinha também falou sobre seu lado mais pessoal, como o carisma fora do octógono e suas inspirações para seguir trilhando seu caminho rumo ao cinturão do Ultimate. Confira:
Por conta dessa pandemia, vocês chegaram a enfrentar muitas dificuldades com relação aos treinos?
Mudamos tudo com relação ao camping, foi algo atípico para todo mundo. Eu estava treinando em casa, desde o início da pandemia, com material próprio e ainda sem previsão de luta. O UFC estava paralisado. Moro com uma atleta de MMA, Layze Cerqueira, então conseguimos manter o treino dentro do possível. Não com a mesma intensidade, mas conseguimos. Quando fechamos a luta, faltando dois meses, meu professor Renato Velame e João Carvalho, que trabalha a minha parte de Muay Thai, vieram morar comigo para fazer um camping melhor e também o mais cuidadoso possível. O treino era apenas nós quatro, com portas fechadas na academia.
Assistindo a luta, foi inevitável não perceber a facilidade em puxar pra baixo e finalizar. Essa facilidade realmente existe ou é apenas impressão das pessoas que assistem?
Acho que quando conseguimos aplicar o que sabemos de forma efetiva, de fato fica parecendo realmente fácil. Conseguimos colocar a estratégia em prática e isso é algo que eu faço há 15 anos, sai de uma forma muito natural. É comum que as pessoas olhem e pensem que tudo é muito fácil. Mas é essa coisa de repetição, vira meio que uma segunda natureza. Eu acabo fazendo de uma forma natural e causa essa impressão de facilidade.
Essa vitória trouxe muitos pontos positivos. Venceu com menos de dois minutos, ganhou bônus de performance da noite e entrou no top 15 do UFC. Qual a sensação?
Realmente é um combo de coisas boas. Algo fantástico, fico muito feliz, transbordando de alegria. Um monte de coisas boas em um único dia. Isso é muito significativo, todas as três coisas. A vitória como foi, nos dá uma maior visibilidade dentro da organização. Estar no ranking também era o que queríamos desde o começo, porque começamos a participar de forma mais direta, entrar dentro do jogo. Agora vamos caminhar, subir nesse ranking para chegar no top 5 e tentar disputar o cinturão.
Após a luta, você mencionou que queria enfrentar alguém do Top 10 ou, até mesmo, do Top 5. Nessa projeção, uma revanche contra a Carla Esparza é vista com bons olhos?
Não é algo que descarto, embora eu acredite que eles não vão me dar uma top 5 nesse momento e eu compreendo. Eu estou no top 15. Provavelmente devem me dar uma lutadora que esteja entre os 10. Se quiserem me dar uma lutadora entre as 5 melhores, não tenho nenhuma objeção. Carla (Esparza) é uma lutadora que eu gostaria de lutar em algum momento, não sei se por agora. No entanto, também não tenho pressa. Queria enfrentá-la com um camping feito de uma forma melhor. Ela tem os méritos dela por ter vencido a primeira vez. Mas queria ter tido condições melhores, porque aceitei a luta faltando apenas 20 dias.
Olhando o seu cartel, você tem 16 vitórias, sendo 13 por finalização e apenas três por decisão. Como está o seu trabalho na luta em pé?
Melhorei muitíssimo minha trocação, não mostrei na luta mas também não foi necessário. Melhor ter e não precisar, do que precisar e não ter. Desde a luta contra a Carla (Esparza) que eu intensifiquei bastante, fui para Salvador e treinei com o professor Luiz Dórea por seis meses de forma ininterrupta e, quando voltei para Feira de Santana, continuei dando sequência nesse treinamento, trabalhando o lado do Muay Thai também. A pandemia deu uma quebrada nesse ritmo. Mas conseguimos compensar quando começamos o camping. Tínhamos o plano A, que era justamente o que fizemos, de botar pra baixo logo no início e finalizar. Mas também havia a possibilidade dela defender a queda e precisarmos trocar, até aparecer outra oportunidade de puxar para baixo.
Naturalmente, você é uma lutadora do peso-palha (até 52,2 kg). Futuramente, você pensa em se aventurar no peso-mosca ou até ostentar os dois cinturões dessas categorias?
Tenho focado muito na minha categoria. Quero dominar a 'casa' primeiro, depois a gente pensa nessas coisas. Não penso nisso agora, minha categoria é definitivamente a de 52 quilos, meu peso e minha altura, me sinto muito confortável com essa divisão. Tudo depende muito da luta, posso vir a pensar nisso futuramente. Vai depender de qual seja a lutadora, o momento também. Nesse momento, o meu objetivo e focar na categoria peso-palha.
Estamos no mês de agosto. Acredita que consegue fazer mais uma luta esse ano? Alguma lutadora te atrai como próxima oponente?
Acho que é bem possível. Devem estar casando uma luta pra mim o quanto antes. Não me machuquei, saí sem nenhuma lesão. Então creio em luta esse ano ainda. Talvez final de outubro ou novembro, seria um momento bom. Eu poderia descansar um pouquinho e já voltar aos trabalhos. Não costumo pensar muito em nome específico, meu pensamento é algo em números. Quero uma top 10 ou uma lutadora que esteja dentro do ranking, mas não exatamente um nome específico.
Você sempre se mostrou uma pessoa muito carismática, principalmente nas redes sociais. Isso é algo genuinamente seu, ou foi desenvolvido e pensado na questão mais comercial do mundo da luta?
É algo 100% meu, sou boba por natureza mesmo. Dizem que eu sou besta, isso é algo completamente natural. Não faço pensando no UFC, faço porque me divirto bastante. Quem me conhece sabe que eu sou bem brincalhona, estou brincando a maior parte do tempo. Me divirto com as coisas, com as situações, até em momento que não são os mais adequados. Sempre foi algo meu, juro que não faço pensando no evento. Mas fico bastante feliz que muitas pessoas se divertem com isso.
Você mencionou uma história bem inusitada com relação a fratura de dois dentes durante o treinamento. Como foi essa situação e chegou a evitar a trocação por conta disso?
No começo da pandemia, antes do camping, eu acabei fraturando o dente. Estava brincando com o meu irmão, sem o protetor e acabei machucando. Tive que tirar o dente, fazer aquele processo de colocar um falso. Então já estava treinando nessa situação. Já no camping, faltando cerca de um mês, eu tomei um upper e fraturei a raiz do dente vizinho, os dois da frente. Eu dou risada hoje, mas na época eu chorei um bocado no dentista. Pensei que não era possível fraturar dois dentes em menos de três meses. Tinha a preocupação porque o médico me liberou logo para treinar, mas para poupar fortes impactos. Foi uma microcirurgia, então tinha que me guardar um pouco para a luta e ver o que acontecia. Ainda bem que evitamos a trocação, estávamos com protetor. Falei para meu empresário que se eu não tirasse o protetor depois do combate, ele sabia qual seria o motivo e iria explicar para o pessoal (risos).
Tudo que envolve a luta, tem um fator muito psicológico. Algo que vai desde o corte de peso, até a preparação e entrar no octógono com uma pessoa que está ali com o único objetivo de te derrotar. O que te inspira a prosseguir com tudo isso?
Nós ficamos sobre muita pressão, isso é fato. Eu tenho descoberto as minhas inspirações. São questões que a gente costuma a se perguntar o motivo de estarmos ali, principalmente quando estamos pressionadas. Mas mesmo se questionando, é algo que a gente sempre acaba voltando. Talvez eu também me coloque nessa situação de pressão, porque acabo sempre me expandido mais. Eu termino gostando dessa sensação de expansão, de sentir que estou me fortalecendo, ficando maior a cada luta. Independente de ganhar ou perder. Você trabalha suas valências, principalmente aquelas psicológicas. Questões como resiliência, concentração, inteligência emocional. Tudo isso é muito interessante e me inspira. Sempre tive vontade de me mostrar ao mundo, enquanto indivíduo, nordestina e mulher. Mostrar que sou grande, algo que partiu do individual e alcançou o coletivo. Hoje não é mais "eu sou grande", e sim, "nós somos grandes".
*Sob supervisão da editora Keyla Pereira
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