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Bahia é ouro no boxe feminino, mas bronze no incentivo

Publicado sábado, 20 de outubro de 2007 às 15:37 h | Autor: Nelson Luís, do A TARDE On Line

Érica Matos, 24 anos, Adriana Araújo, 26, e Carla Freitas, 26, tem em comum o título de campeãs brasileiras de boxe, em suas respectivas categorias. Além da conquista, as três fazem coro para uma mesma reclamação: a falta de apoio ao esporte.

Mesmo sem incentivo e patrocínio, as boxeadoras ganharam duas medalhas de ouro no Pan-Americano Feminino de Boxe, disputado em Guayaquil (Equador), no início deste mês. Érica Matos (Peso Mosca - até 46kg )  e Adriana Araújo (Peso Leve - até 60kg) foram as únicas brasileiras a garantirem o lugar mais alto do podium durante os jogos.

Nas finais, Érica e Adriana ficaram com a dourada após derrotarem a dominicana Jazmin Altagraci e a canadense Elissa Gauthier. A delegação brasileira, que contou com oito atletas, sendo três baianas, ainda faturou uma medalha de prata e outra de bronze.

Contrastando com a alegria de representar a Bahia no boxe feminino, com conquistas nacionais e internacionais, a três atletas demonstram uma preocupação, que é se dedicar ao boxe sem apoio financeiro.

Para a bicampeã Pan-Americana, Adriana, única das três que faz parte do programa Bolsa Atleta, a falta de patrocínio ainda é o principal problema. “Nossa principal dificuldade sempre foi financeira. Os custos para participar de competições fora do estado são altos e a falta de patrocínio prejudica bastante. Mas depois dessa conquista espero ver o boxe feminino crescer”, desabafa.

Apesar do sucesso como pugilista, Érica também reclama da falta de apoio. “É quase impossível se dedicar somente ao boxe com a falta de patrocínio. É por isso que muitos atletas desistem do esporte por não ter este incentivo”, destaca.

“Levar o nome da Bahia para fora do país é uma honra muito grande para nós atletas”, afirma Carla, que fez rifas e festas para arrecadar a verba necessária para cobrir as despesas de viagem.

“Antes da viagem, nós lutamos para conseguir as passagens, pois a Confederação Brasileira (CBB) não disponibilizou o deslocamento das atletas selecionadas. Corremos atrás de patrocínio, parcerias e a ajuda de amigos para participar do Pan”, lamenta.

Carla Freitas (até 63kg), não deu muita sorte na chave e foi eliminada por uma atleta do Canadá logo na primeira luta. “Não tive sorte na competição, mas vou continuar treinando para o próximo Pan.”

Tradição - O técnico Luís Carlos Dórea, acentua a tradição da Bahia na história do boxe brasileiro. “O boxe baiano tem confirmado seu favoritismo durante anos e arrematado muitos títulos para o Estado. “Não há dúvidas que o boxe baiano é mesmo o melhor. No masculino acabamos com um jejum de 40 anos no Pan. E com as meninas não foi diferente. Elas conquistaram os títulos e marcaram a história no esporte.”

Dórea, no entanto, também ressalta a falta de estrutura e apoio para este segmento na Bahia. “Mesmo sem estrutura e apoio, o boxe baiano prova que tem atletas capazes de superar desportistas de outros países, muito mais preparadas, como as norte-americanas ou as argentinas, e dar muita alegria a nós brasileiros”, declara.

Para o Presidente da Federação Baiana de Boxe (FBB), Frederico de Souza Machado Filho, o boxe profissional feminino no Brasil ainda não tem um nível adequado. Conforme o dirigente, a Bahia possui atletas no plano de excelência, mas ainda é preciso aumentar as parcerias para mantê-los.

“O que falta para o boxe na Bahia ainda é a maturidade e o patrocínio.  “Temos atualmente cerca de 60 academias em todo a Estado. Dessas, apenas 25 são credenciadas com a Federação, sendo 15 na capital e 10 no interior. Imagine formar todos esses talentos sem patrocínio?”, questiona.

No ringue - Adriana Araújo e Carla Freitas voltam ao ringue neste final de semana. Mas desta vez, pelos Jogos Abertos do Interior de São Paulo (JAI), que começam neste sábado, 20, e acontecem até o dia 28, em Praia Grande - SP.

As atletas viajaram na sexta-feira, 19, e representam o São Bernardo dos Campos/São Paulo - Futebol Club/Coliseu. “Treinamos forte desde o retorno à Salvador para a competição. “Fui campeã ano passado e agora vou em busca do bicampeonato, declara Carla.

No entanto, a ausência de patrocínio impediu que a campeã pan-americana Érica embarcasse para o litoral paulista. “Dá um pouco de desânimo, mas temos que saber como lidar com as adversidades”, desabafa.

De acordo com a organização do evento, a competição terá a presença de aproximadamente 15 mil atletas representando 208 cidades do Estado de São Paulo. O evento é considerado um dos maiores da América Latina, atrás apenas dos Jogos Pan-Americanos.

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