DE OLHO EM PARIS
Caribé e Ana Marcela revelam preparação para disputa nas águas
Segunda matéria da série mostra detalhes dos treinamentos na piscina e no mar, visando as Olimpíadas
Por Beatriz Amorim *
Sem barbatanas e brânquias, características dos animais que vivem no fundo do mar, o ser humano foi criado para viver no ambiente terrestre. Entretanto, para Guilherme Caribé, de 20 anos, e Ana Marcela, de 31 anos, a água pode sim ser o "habitat natural do homem", ou melhor, dos baianos. E este será o assunto da segunda reportagem da série sobre a preparação dos atletas baianos até os Jogos Olímpicos de Paris.
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Caribé, da natação, e Ana, da maratona aquática, falaram sobre o calendário visando as Olimpíadas. O soteropolitano, que é comparado com César Cielo, contou como encara a pressão de ser um dos nomes da nova geração no esporte. A maratonista, por outro lado, busca o segundo ouro na competição e garantiu não se sentir pressionada com a responsabilidade.
Seja em Tennessee, nos Estados Unidos, ou em Livigno, na Itália, os representantes da Bahia se preparam para a seletiva olímpica, que garante a vaga dos atletas como representantes do Time Brasil, e da Bahia, em Paris, que nesta edição terá a sua abertura no dia 26 de julho, enquanto o encerramento será 17 dias depois, no dia 11 de agosto.
Novo César Cielo? Confira a projeção de Guilherme Caribé, promessa da natação baiana, para os Jogos Olímpicos
Guilherme Caribé Oliveira Santos nasceu em Salvador e começou a sua história na natação com dois anos de idade, através do pai, que no momento, só queria o desenvolvimento do filho. Mal sabia Matheus Caribé, que 18 anos depois, o seu filho seria medalhista de ouro nos jogos Pan-Americanos de Santiago, e não só uma, mas três vezes.
Em 2023, na sua estreia no torneio, Guilherme já demonstrou que o sonho por uma medalha olímpica está muito próximo de ser realizado. Na categoria dos 100m livre, o baiano finalizou a prova com o tempo 38s06, atingindo o índice olímpico para os Jogos de Paris, neste ano. Além dessa, o velocista venceu nas provas de revezamentos 4x100m livre masculino e 4x100m livre misto.
Há um ano, trocou a água gelada do Farol da Barra pelas piscinas da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, referência mundial da natação, onde estuda gerenciamento do esporte.
Desde os 17 anos, Guilherme vence todos os Campeonatos Brasileiros da categoria em que disputa, chegando a fazer os 50m livres abaixo da marca de 22 segundos e os 100m livres abaixo dos 48 segundos.
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Caribé contou como está a preparação para fazer parte do Time Brasil nas Olimpíadas de Paris, garantindo que a preparação já está sendo feita há anos.
“É uma preparação que vem sendo feita há anos e que agora fica mais específica, focando nos ajustes que precisam ser feitos visando a conquista da vaga na Seletiva Olímpica e, posteriormente, a conquista de uma medalha”, afirmou Guilherme.
O atleta é comparado a um dos maiores nomes da natação brasileira e mundial, César Cielo, que foi medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, ao fazer 50 metros livres em 21.30 segundos. Apesar disso, o soteropolitano afirmou que não se sente pressionado e, para ele, isso significa estar no caminho certo.
“É uma comparação que não me pressiona e que mostra que estou no caminho certo. Cesão é um dos grandes nomes da história da natação mundial e ainda estou longe de fazer o que ele conquistou, mas estou trabalhando para isso. Caso confirme minha classificação para Paris, farei o melhor possível para nadar bem cada etapa necessária para chegar nas finais e conquistar medalhas”, garantiu o atleta.
O caminho até a confirmação da sua participação nos Jogos Olímpicos não será fácil, por isso, Caribé terá um calendário cheio até a seletiva, que acontece em maio. Em decisão conjunta da Comissão Técnica da universidade, o baiano não disputará o Mundial de natação deste ano, que acontecerá em fevereiro, em Doha, no Catar.
“Até a Seletiva Olímpica, que será em maio, eu fico aqui nos EUA treinando e participando de competições regionais e nacionais. A Comissão Técnica da universidade decidiu que o melhor para mim era focar na preparação para Paris e não participar do Mundial agora em fevereiro ", informou Caribé.
Após 24 anos, o time de natação do Brasil poderá ter outro baiano em busca de uma medalha nos Jogos Olímpicos. Em 2000, nos Jogos de Sydney, na Austrália, o baiano Ednaldo Valério encerrou o revezamento 4x100m livre masculino e garantiu a medalha de bronze à Bahia. Neste ano, Guilherme Caribé pode igualar ou até mesmo superar o feito.
“Seria algo histórico e uma grande honra pra mim. Desde a participação do Edvaldo Valério não se tem um nadador baiano participando da natação nos Jogos Olímpicos", finalizou o nadador baiano.
Rainha das águas: Ana Marcela garante não se sentir pressionada em busca do segundo ouro nas Olimpíadas
Nascida em Salvador, Ana Marcela Cunha iniciou a sua história com a natação aos dois anos por incentivo dos pais, ex-atletas, que colocaram a filha em uma creche com piscina. A partir disso, o contato da baiana com as águas nunca parou. Aos 8 anos, já nadava no mar e no rio. Porém, foi seis anos depois, com 14 anos, que Ana competiu pela primeira vez.
Aos 15 anos, em 2007, a campeã olímpica se mudou para Santos, para treinar na Unisanta (Universidade Santa Cecília), e se aproximar cada vez mais de escrever o seu nome na história do esporte. Não demorou muito para ser eleita a melhor do mundo pela Fina (Federação Internacional de Natação), conquistando o primeiro em 2010, e a partir daí, colecionar troféus por onde passou, inclusive repetindo o prêmio da Federação por mais seis vezes.
Em 2021, no dia 8 de agosto, Ana Marcela fez história para o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. A soteropolitana conquistou o seu primeiro ouro na terceira participação, ultrapassando a linha de chegada, após 10 km percorridos, em um tempo de 1h59min30s08.
Este foi o primeiro ouro que o Time Brasil conseguiu ganhar desde que a prova foi criada, nos Jogos de Pequim, em 2008. Anteriormente, o melhor feito tinha sido da paulista Poliana Okimoto, que garantiu o bronze no Rio, em 2016.
Buscando o bicampeonato nos Jogos, se tornando a primeira atleta a conseguir este feito, Ana também conversou com exclusividade com o Portal A TARDE e contou como está sendo a preparação para a Seletiva Olímpica, que acontece neste mês de fevereiro.
“Estou treinando em altitude aqui em Livigno/ITA, daqui desço direto para Doha onde será a seletiva olímpica de 10km. Vou buscar minha vaga!”, garantiu a baiana.
Como qualquer atleta de alto rendimento, o ano de uma olimpíada é mais puxado do que qualquer outro, necessitando de uma grande sequência de treinos. Desta forma, a maratonista falou sobre o calendário até os jogos e os compromissos após o encerramento.
“Treinamento em altitude, depois sigo para a Seletiva Olímpica em Doha. Daí, vou ao Rio de Janeiro no fim de fevereiro para compromissos oficiais e devo nadar no evento "Rainha do Mar" no domingo, 25, na praia de Copacabana. Na sequência, volto a treinar na Itália até ir para Paris, onde farei a prova de 10km no dia 8/8. Quando os Jogos acabarem, retorno novamente ao Brasil para os compromissos com o meu clube (Unisanta, COB e patrocinadores)”, disse Ana Marcela.
Nascida e criada em Salvador, Ana Marcela também é um dos grandes nomes da maratona Mar Grande - Salvador, onde foi campeã em seis edições, (2006, 2008, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014), sendo a primeira a ultrapassar a linha de chegada entre homens e mulheres duas vezes: 2010 e 2012. Além disso, a atleta ainda detém o feito de ser a mais jovem campeã da prova, com 13 anos.
Questionada sobre a sensação de representar a Bahia nos maiores palcos do esporte mundial, a soteropolitana disse que, apesar de vestir a camisa do Brasil como um todo, a sensação de representar o estado é especial.
“Represento o Brasil, em especial a Bahia, minha terra, que amo de paixão. Além de Santos, minha 2ª casa, que me acolheu, e Rio de Janeiro, pelo Time Brasil. Amo quando chego no lugar mais alto do pódio e tocam o hino nacional do Brasil” comentou a atleta.
Um dos maiores nomes das maratonas aquáticas, os resultados da baiana são tão impressionantes, que até o Guinness Book se rendeu. Em 2020, Ana Marcela entrou no livro dos recordes como a maior vencedora do Circuito Mundial da FINA de 10K, com 20 vitórias. No ano seguinte, a atleta não se cansou e bateu o seu próprio recorde, aumentando sua marca para 25 vitórias. E você pensa que acabou por aí? Que nada! Em 2022, a baiana aumentou a marca para 29 vitórias.
Na edição de Paris, a baiana fará a sua quarta participação no maior torneio poliesportivo que existe, podendo conseguir o seu segundo ouro. Apesar de carregar a responsabilidade de ser uma das favoritas, Ana garante não se sentir pressionada e que ainda tem sede por mais títulos e medalhas.
“Não me sinto pressionada, sei que posso criar expectativas pelos meus resultados, não faltam títulos na minha carreira, mas ainda quero mais, quem sabe, outra medalha olímpica”, projetou a maratonista.
Portanto, seja no mar aberto ou nas piscinas, não vão faltar grandes nomes do esporte baiano para contar com a torcida de todo o estado. Na natação, as provas acontecerão entre 27 de julho e 4 de agosto, na Arena Paris La Défense, com um total de 35 provas disputas, divididas em eliminatórias, semifinais e finais.
Para Guilherme Caribé, as possibilidades de medalha virão nos 50 metros livres, 100 metros livres, revezamento 4x100 masculino e revezamento 4x100 misto, provas em que o baiano disputou nos Jogos Pan-Americanos de Santiago.
Por outro lado, a única possibilidade de medalha para Ana Marcela será no dia 8 de agosto às 2h30 da manhã, pelo horário de Brasília, que está cinco horas atrás em relação a Paris. A maratona será no Rio Sena e a sua largada embaixo da Ponte Alexandre III, localizada entre o Grand Palais e Les Invalides.
*Estagiária sob supervisão da sub editora Brenda Ferreira.
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