ESPORTES
CFA Zé Carlos: ídolo tricolor comanda escolinha que transforma jovens
Ex-jogador do Bahia organiza projeto com crianças e jovens em diversos bairros de Salvador
Por João Grassi | Portal MASSA!
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?! O questionamento da música "É uma partida de futebol", da banda Skank, serve para a maioria dos garotos brasileiros. Mas, para que isso aconteça, é necessário muito esforço, aplicação e determinação nos treinamentos e preparação, tudo desde cedo. Em Salvador, o Centro de Formação de Atletas do ex-meia Zé Carlos, ídolo e campeão brasileiro pelo Bahia em 1988, é um dos caminhos para a garotada que sonha com um futuro brilhante.
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A iniciativa conta com garotos de 4 anos até jovens com idade para dar seus primeiros passos como profissionais, sem nenhum tipo de restrição. O projeto também está aberto para inclusão de crianças neuro divergentes e ainda conta com espaço para garotos de famílias carentes, que entram através de bolsas cedidas pelo próprio Zé Carlos. As unidades estão espalhadas em diversos bairros como Cabula, Plataforma, Patamares, Paripe, Periperi, além de ter planos para se expandir fora da capital baiana.
Zé Carlos conta com parcerias em países como Alemanha, Emirados Árabes, Japão, além de contatos importantes com grandes clubes brasileiros como Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio e Internacional, o que podem gerar grandes oportunidades. Enquanto aguardam essas chances, alguns desses jovens já participam de competições como a México Cup Internacional, onde foram campeões nas categorias sub-7, sub-8 e sub-9.
"Futebol raiz" é o lema do CFA Zé Carlos, como diz o próprio ex-atleta e dono da escolinha. Apesar de muito incentivo dado aos pequenos jogadores, Zé contou ao Portal MASSA! que não falta cobrança e que o acompanhamento a esses garotos é muito próximo.
"Os pais vêm aqui achando que eu vou fazer o menino ser jogador, não vou fazer. Quem vai fazer é ele. Apenas eu passo a minha experiência, a minha vivência para que ele possa levar vantagem na hora que vai para o campo. Ele pode ser o melhor jogador que tem aqui, ainda vai depender de muita coisa, depende do dia a dia dele, do compromisso para conseguir e alcançar", explicou.
Segundo o ídolo tricolor, o desenvolvimento dos jogadores nos treinamentos é trabalhado desde os fundamentos até o entendimento e leitura de uma partida de futebol. Com anos dentro do esporte, Zé Carlos também preza por estimular o psicológico dos alunos e fazer com se enxerguem como capazes de chegar aos seus objetivos.
"Aqui a gente trabalha com lúdico, com coordenação, vamos preparando essa garotada e passando realmente ensinamento do futebol, minha experiência. Fazemos uma iniciação mesmo, onde eles vão acostumar a trabalhar com a bola, que foi isso que eu aprendi. Hoje os garotos, até os adolescentes, têm muita dificuldade de coordenação", destacou.
"A primeira coisa que eu vejo no futebol é que a dificuldade toda é mental. Os meninos de hoje eles não se concentram, não se dedicam, chegam sem coragem. Às vezes você fala alguma coisa para o menino, o menino automaticamente já fala que não consegue, que não tem jeito, eu procuro fazer esse trabalho. 'Não posso, não dá, não consigo', isso aí não existe aqui no centro de formação", completou o ex-jogador.
Atletas e seres humanos
De acordo com o professor Adriano Cezarino, a escolinha também funciona como uma plataforma de formação não só de atletas, mas também de seres humanos. Ele afirma que o respeito pelos colegas, professores e espaço é um dos fatores de sucesso do Centro de Formação.
"Não estou dizendo que isso é em modo geral, mas algumas escolinhas não têm isso. Você vê muitos embates entre jovens, muitas confusões entre si. Aqui eles não têm isso, o professor Zé Carlos, de uma forma, consegue trazer essa socialização entre eles, e é o que eu acho bacana", detalhou o professor.
Um dos exemplos da diversidade e de todo esse respeito prezado no CFA Zé Carlos é o da garota Paula, de 16 anos. A jovem é a única menina da sua turma e garante que estar no meio dos garotos é uma ótima experiência.
"Todo mundo é muito tranquilo, me tratam bem, não me tratam com indiferença. Gosto muito disso, da atitude deles, e isso me ajuda muito a acreditar que eu posso conseguir. Gostaria muito de que entrassem mais meninas pra estar no mesmo nível que eu, porque os meninos são mais duros no jogo. Mas, enfim, isso não impede de eu ser jogadora de futebol. Isso depende do meu esforço, do meu desempenho. E é uma experiência muito grande", descreveu a jovem.
Outro fator que é preponderante dentro da escolinha é a participação ativa dos pais dos pequenos atletas, que se colocam à disposição de levar os filhos para os treinos e apoiam esses jovens a seguirem com seus sonhos.
"Enzo vem sempre com ansiedade de querer comer bola, como ele mesmo diz. E assim, aos pouquinhos eu estou vendo o desenvolvimento dele, o quanto ele realmente tem se esforçado para poder ter êxito no trabalho que está sendo desenvolvido. Da minha parte, o esforço tem sido muito grande, porque são uma hora, uma hora e meia para estar aqui duas vezes na semana, mas tem sido gratificante", relatou a professora Edilaine Vicente, mãe do pequeno Enzo, um dos alunos do CFA, que sai de Santa Teresa até Patamares para acompanhar o filho.
Nem tudo são flores
Apesar das oportunidades, também existem as dificuldades para manter a rotina de treinos em dia. Felipe Bispo, de 10 anos, sai da Ilha de São João, em Simões Filho, para o CFA do Cabula. O percurso é longo, sendo necessário pegar dois ônibus e um metrô, mas isso não frustra os planos dele. "Meu sonho é ser jogador de futebol, minha inspiração é Cristiano Ronaldo", vislumbrou o garoto.
Já João Francisco, de 14, tem como grande meta chegar até o futebol europeu e "transformar" a vida de sua família com os ganhos na carreira profissional. Sonhando com o gigante Real Madrid, ele conta como é a o dia-a-dia entre conciliar os treinamentos, estudos e também ajudar nas tarefas de casa.
"Comecei a treinar com cinco anos, sempre dediquei ao esporte, desde pequeno, porque sempre quis ser jogador, então eu me esforço cada dia para poder realizar isso. Eu estudo de manhã e venho aqui a tarde. Chego do colégio, arrumo a casa, me arrumo e venho treinar. Tento ao máximo não faltar treino, porque eu sei o quão é importante estar aqui, e muitas pessoas queriam estar tendo essa oportunidade, então eu realmente tento fazer valer a pena", garantiu o pequeno atleta.
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