"MUITA CAUTELA"
Comandante do BEPE defende "volta processual" da torcida mista
Tenente-coronel enfatizou que a Polícia Militar não é contrária a volta das duas torcidas aos estádios
Por Lincoln Oiraj e Marcos Valença
Presente na audiência pública que debateu a volta da torcida mista nos clássicos do futebol baiano, na manhã desta quarta-feira, 13, o tenente-coronel Elbert Vinhático, do Batalhão Especializado de Policiamento de Eventos (BEPE), esclareceu o posicionamento da Polícia Militar sobre a recomendação de torcida única nos estádios da Bahia.
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o comandante voltou a enfatizar que Polícia Militar é a favor da torcida mista nos clássicos, mas explicou que o retorno precisa ser discutido com cautela, para que ocorrências como o “Ba-Vi da Paz”, em 2018, não voltem a acontecer.
“A Polícia Militar não é contrária ao retorno da torcida mista, entretanto, foi uma medida, à época, que foi necessária. Justamente para a gente parar e ajustar alguns pontos que precisam ser necessários, sobretudo para a volta com segurança. A gente não pode incorrer no erro que aconteceu em 2017, 2018. Foi aquele desastre que todos vocês sabem, problemas desde a manhã em outros bairros, em outros locais, problemas com o deslocamento da torcida do Bahia para o Barradão, problemas com ônibus do Bahia, problemas na parte externa e combinou com problemas dentro do campo que reflete na Torcida”, lembrou o comandante.
“Então, essa volta precisa ser com muita cautela, muito cuidado, uma volta processual. Outras discussões precisam acontecer, a gente precisa envolver as organizadas, que têm um papel fundamental nesse processo. Afinal de contas, se ocorre a torcida única, a grande responsabilidade é deles. Agora, a gente não pode generalizar e dizer que todos eles são arruaceiros, são vândalos. Você tem um percentual, mas esse percentual faz ruído. E esse percentual que fez ruído, que fez com que as coisas acontecessem”, complementou ao Portal A TARDE.
Elbert ainda lembrou que a violência não é um problema exclusivo dos estádios de futebol, é apenas uma parte da violência que existe em toda a sociedade, e também deu detalhes de como os problemas sociais fortalecem as guerras entre torcedores organizados.
“A violência não é só do futebol. Você tem violência contra idoso, você tem violência contra mulher, você tem vários tipos de violência e você não pode desconectar o torcedor da organizada, seja lá qual for, do resto. A partir desse processo, a gente precisa justamente se aproximar mais, chamar esses rapazes que estão lá, que família abandonou, escola abandonou, falta de trabalho, enfim, uma série de processos, e quem acolhe? As organizadas”, contou o tenente-coronel ao Portal A TARDE.
“Quando aquela organizada acolhe aquele rapaz, ele se sente ali pertencido e quer, justamente, se adequar aquele processo ali. Então, se aquela liderança diz: ‘tal dia eu quero que você brigue!’ ‘Porque quem me acolheu foi ele, se ele está pedindo, eu vou fazer.’ E é isso que acontece. A autoafirmação daquelas pessoas ali é pela violência. As lideranças que estão hoje nas organizadas, eles sabem disso, eles se auto afirmaram pela violência. Só que hoje, enquanto liderança, eles precisam reverter esse processo e passar para o rapaz e os adolescentes de base, que não é mais assim que funciona”, concluiu Elbert.
Além do tenente-coronel Elbert Vinhático, participaram do evento o presidente do Vitória, Fábio Mota, o vice-presidente do Bahia, Vitor Ferraz, o presidente da Federação Bahiana de Futebol, Ricardo Lima, e representantes do Ministério Público e de membros da sociedade civil. As torcidas organizadas Bamor e Os Imbatíveis não enviaram representantes.
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