COPA DO MUNDO
A lenda do imortal Aranha Negra e outros estraga-prazeres do gol
Sem eles, é como se a casa estivesse aberta, daí a importância dos heróis de 'camisa número 1'
Por Paulo Leandro

Imagine se você mora em condomínio e o síndico mandou demitir todos os porteiros. Seria uma situação parecida com um time dispensar o camisa número 1 e jogar com o gol aberto.
Tal é a importância do “portero”, como se diz em espanhol, começando por destacar Lev Yashin, o Aranha Negra, na foto, em uma de suas admiráveis defesas.
O soviético ganhou este apelido porque defendia com as mãos e usava bem as pernas, assemelhando-se ao movimento de um aracnídeo, além de jogar todo de uniforme preto. Pegou 150 pênaltis ao longo da carreira.
As lendas das copas começam antes de Yashin, em 1934, com Ricardo Zamora, espanhol famoso pela reposição da bola com o cotovelo, tendo inventado a arte de saltar pelo alto para disputar a bola com os atacantes nos cruzamentos. Pegou pênalti cobrado por Waldemar de Brito, na vitória da Espanha por 3 a 1 sobre o Brasil.
Já em 1938, Planicka, goleiro da Tchecoslováquia, jogou de braço quebrado a “batalha de Bordeaux”, na França, o jogo mais violento da história, diante do Brasil. Saiu de campo direto para o hospital.
Compõem a seleta lista dos grandes goleiros: Carbajal, por jogar cinco copas pelo México; Dino Zoff, pela Itália, o mais longevo arqueiro campeão do mundo, com 40 anos e 134 dias de idade, em 1982; Renat Dasaev, seguindo a escola de Yashin, pela então União Soviética; Bats, francês, por pegar o pênalti cobrado por Zico em 1986; Goycoechea, herói argentino na Copa de 1990, também por defender penalidades; e os alemães Sepp Mayer e Oliver Kahn.
Nenhum deles, no entanto, fez uma defesa tão incrível quanto bela como Gordon Banks, ao espalmar, quase na linha de gol, uma cabeçada certeira de Pelé, na Copa de 1970.
Entre os mais ousados, no entanto, ninguém se compara a Preud´homme, ao sair da meta para tentar um gol de empate para a Bélgica, uma prática hoje comum no futebol, quando um time está perdendo e o número 1 vira mais um atacante em busca do empate salvador, nos últimos minutos da partida.
Pena perpétua para Barbosa
“A pena máxima no Brasil é de 30 anos, mas já se passaram 44 e ainda estou cumprindo sentença”. A queixa foi de Barbosa, goleiro de 1950, ao ser barrado na concentração do Brasil, ao tentar visitar os jogadores, antes da Copa de 1994. O goleiro do Vasco foi julgado e condenado por 200 mil torcedores no Maracanã e mais milhões de brasileiros, geração após geração, por ter sofrido o segundo gol, marcado por Gigghia, na final vencida pelo Uruguai, de virada, por 2x1. Gigghia, virado no diabo, enveredou enviesado em diagonal dentro da área e fuzilou Barbosa. Estava perdida a Copa. Estava condenado à danação eterna o goleiro preto, mesmo sendo um lance frontal, cara a cara, mas o júri popular precisava encontrar um culpado.
Segura nas mãos de Taffarel e vai
O nome de Claudio Taffarel ficou associado à qualidade de bom pegador de pênaltis, momento de maior dificuldade para o goleiro, mas também o atalho para conquistar o coração da torcida, como foi o caso do ex-ídolo do Internacional de Porto Alegre. Ele já havia se destacado na missão mais árdua, no entanto se alçou à condição de herói ao pegar o pênalti de Daniele Massaro, na decisão da Copa de 1994. Graças à defesa, e depois ao erro de Roberto Baggio, ao isolar a bola, o Brasil comandado por Parreira ganhou o tetra. Quatro anos depois, na França, Taffarel voltou a destacar-se, desta vez pegando dois pênaltis, na semifinal diante da Holanda: Cocu e Ronald de Boer. Vai, que sempre será tua, Taffarel!
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes