HOMENAGEM
Gol sobre a França faz de Papa Bouba Diop herói senegalês
Vitória em 2002 traduz força africana contra escravidão
Por Da Redação
Alguém apaixonado por mitografia poderia até dizer terem sido convocados juntos para a Seleção dos Campos Elíseos, onde vão as pessoas boas quando morrem, o senegalês Papa Bouba Diop e o argentino Diego Armando Maradona, ambos ídolos de seus respectivos povos, pelo incondicional alinhamento e dedicação à cidadania de seus países utilizando-se da linguagem da bola.
O desencarne de Maradona em novembro de 2020 ocorreu apenas quatro dias antes de Diop, vítima de esclerose lateral amiotrófica. O jogador ganhou a condição de herói nacional ao marcar o único gol de uma partida de alta significação para os senegaleses, pois enfrentavam a França, então campeã do mundo, potência europeia dominante na África Ocidental por cinco séculos.
Somente em 4 de abril de 1960, os descendentes dos escravizados conquistaram a independência do país. Pode-se dizer terem contribuído para a riqueza dos corsários os povos das regiões ocupadas militarmente onde hoje é o Senegal: foi com a venda dos corpos pretos o financiamento do império, cujo discurso bonito em torno de “igualdade, liberdade e fraternidade” habita o reino da abstração.
O lance mágico ocorreu aos 30 minutos do primeiro tempo da partida de abertura, no dia 31 de maio de 2002. Diop escapou pela esquerda e cruzou, Petit e Barthez bateram cabeça e o mesmo Diop finalizou, caído, para fazer o gol da vitória.
A façanha de 20 anos atrás, na Copa da Coreia do Sul e Japão, deu moral aos africanos do Extremo Oeste. Na sequência, Senegal empatou com a Dinamarca de 1 a 1 e com o Uruguai, num jogo de seis gols: 3 a 3, eliminando a Celeste. Nas oitavas, passou pela Suécia, mas nas quartas caiu para a Turquia.
As homenagens a Bouba Diop são comoventes no Qatar. Os torcedores costumam usar camisas da seleção com o número 19, o mesmo riscado à caneta por Koulibably em sua braçadeira de capitão, como forma de estar junto ao ídolo e trazer seu bonito legado para dentro de campo, pela via da memória.
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