COPA DO MUNDO
Os dois irmãos sul-americanos
Ninguém sabe amar a criança como brasileiros e argentinos
Por Paulo Leandro

Brasil x Argentina. Não há clássico capaz de equiparar-se em arte e disputa de cada dividida com todo vigor, às vezes subindo o tom para lances violentos, embora estejam em campo duas nações amigas.
Quando o duelo ocorre em Copa, a potência é atualizada, como se viu em 1974, na Alemanha: Brasil 2 a 1, gols de Rivelino e Brindisi, com Jairzinho marcando o da vitória.
Em 1978, tempo de Operação Condor (brodagem de milicos em ditaduras sanguinárias), o Brasil teve Chicão para o antijogo, terminando em 0 a 0 interessante para a Argentina, na trilha do título.
Em 1982, uma preciosidade: O Brasil deu 3 a 1, gols de Zico, Serginho e um primoroso de Júnior, em lançamento de Zico nas costas da zaga. Maradona, nervoso, foi expulso, ao agredir Batista.
Na Copa de 1990, dom Canudito vingou-se ao abrir a zaga brasileira e rolar com afeto, dando o doce para Caniggia eliminar o Brasil.
A expectativa para o Qatar é um novo enfrentamento, ainda com a eterna questão sem resposta: quem foi melhor, Maradona ou Pelé? Eis aí uma aporia, pois enquanto Dom Diego tinha o dom do inusitado, Pelé parecia um vodum, uma força da natureza.
Premonição do menino de 16 anos
O menino Edson não podia nem ver filme de ousadia quando estreou na Seleção Brasileira, uma derrota para a Argentina, por 2 a 1, pela antiga Copa Roca. Mas deixou o seu gol, e quem prestou atenção, percebeu naquele gol a premonição de um futuro brilhante para Pelé, então com 16 anos de idade. Depois, viriam três títulos de Copa e muito mais.
Gardelitos mostram rancor profundo
Brasileiros e argentinos ficaram cismados na disputa da Copa Roca de 1939, porque os gardelitos saíram de campo alegando terem sido garfados na partida – e na ocasião eles ainda terminaram como campeões, vejam só. Depois disso, ficamos dez anos sem nos enfrentar e eles, chateados, nem vieram para jogar a Copa de 1950.
Adriano é favela campeã na laje
A opção de curtir com seus vizinhos favelados, entre a brasa do churra e a breja gelada, parece incomodar os barões intolerantes, com seus hábitos consumistas de shopping. Mas Adriano, o Imperador das comunidades, estava pouco se lixando para esta gente otária metida a patridiota. E foi numa decisão da Copa América, em 2004, o momento mágico deste grande artilheiro do Brasil. A Seleção tava toda desfalcada, pois a CBF resolveu mandar um plantel mais ou menos para o Peru, e o Brasil perdia por 2 a 1. Mas quem conhece a vida na favela, não se entrega jamais. Adriano fez um golaço, faltando três minutos, e a decisão foi para os pênaltis. Festa na laje. o Brasil venceu por 4 a 2, para surpresa dos gardelitos.
Os macaquitos de Epitácio
A semelhança de interpretação do mundo entre argentinos e brasileiros não é recente porque enquanto eles nos chamavam de “macaquitos”, nós assumíamos a inferioridade preta e ficava tudo certo. O presidente Epitácio Pessoa foi o primeiro a assumir o racismo, ao recomendar não irem jogadores não-brancos à disputa da Copa Roca em 1921. Resultado: o jogo foi disputado por oito jogadores de cada lado, porque o Brasil tinha preto demais! Teve de tirar três de cada lado! O cala-boca antirracista veio na Copa de 1930, quando Fausto jogou muito e tornou-se destaque a ponto de jogar no Barcelona. Detonado dos pulmões, por causa da tuberculose, gastou tudo que ganhou e terminou enterrado como indigente.
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