ESPORTES
"Craque" da Série B, Souza volta à vitrine do futebol brasileiro
Por Agência Estado
Que corintiano ou são-paulino não se lembra de Souza? José Ivanaldo de Souza é aquele meia baixinho (1,70m), fala mansa, habilidoso, que ficou conhecido no Corinthians em meados dos anos 90 e depois se transferiu para o São Paulo. O talento reconhecido não foi capaz de apagar a fama de sonolento, distraído, desatento, devagar... Com esse rótulo, deixou o Estado em 2001.
Hoje, aos 31 anos, chutou para escanteio o apelido de soneca - garantem os companheiros - e, no sábado, alcançou a consagração no Rio Grande do Norte ao liderar o América-RN no retorno à elite do futebol brasileiro, após incrível empate contra o Atlético-MG, em pleno Mineirão lotado.
Souza é tranqüilo como antes. Não mudou o visual, mantém o cabelo comportado, veste-se de forma discreta, não gosta de pulseiras ou colares de ouro. Na semana passada, recebeu a equipe do Estado no enorme centro de treinamento do clube. Contou histórias, deu dicas de restaurantes e respondeu a várias perguntas com paciência, sem pressa.
Dentro de campo, porém, não é o mesmo de cinco ou dez anos atrás. Agora dedica-se muito mais ao time, diz. Quando fui a São Paulo, era muito novo, morava sozinho, tinha problemas particulares, não era nem de perto o profissional de hoje, afirma. Hoje me dedico mais aos treinamentos, ajudo a equipe na marcação, me movimento mais.
O talento e a força de vontade o elevaram a grande ídolo do futebol potiguar na atualidade. Foi artilheiro do time, com 9 gols. E ontem, numa churrascaria de São Conrado, no Rio, recebeu prêmio por ter sido eleito craque da Série B. "Ele não se desliga mais dos jogos, põe os atacantes a toda hora na cara do gol, avalia, satisfeito, o técnico da equipe, Heriberto da Cunha.
Nascido em Itajá, interior do Rio Grande do Norte, Souza começou a carreira no América, mas ainda muito jovem mudou-se para o Rio Branco, de Americana-SP, antes de seguir para a capital. Após mais de uma década fora, resolveu voltar para casa como forma de gratidão ao clube que o iniciou no esporte. Apareceram outros clubes, mas preferi o América e vim para cá sem remuneração.
O meia chegou no primeiro semestre para participar da Série B e acertou com o presidente, Gustavo Carvalho, que atuaria sem salário. Ele não recebeu nenhum centavo nos primeiros 90 dias aqui, conta Carvalho. Para garantir seu futebol, o dirigente lhe deu lotes de terra em troca de um contrato até o fim da competição.
Souza é respeitado e tratado como profissional acima da média pelos colegas. Dá sugestões de como investir o dinheiro, de como se comportar. Já viveu, afinal, muita coisa no mundo da bola. Depois de Corinthians e São Paulo, jogou no Atlético-PR, no Atlético-MG e passou dois anos na Rússia, onde ganhou bastante dinheiro, mas teve dificuldades. Aprendi muito lá, tive ótima experiência de vida, mas não foi fácil, comenta. O frio era muito grande, os locais de pré-temporada eram isolados, a comida, ruim.
Hoje, depois de curta temporada no Flamengo - em que recebeu salário em apenas dois dos cinco meses que ficou no Rio - festeja a tranqüilidade de Natal e a boa condição financeira. Investe o dinheiro em imóveis, tem um haras e procura ser controlado nos gastos. Mora numa confortável casa em uma das mais valorizadas regiões da cidade, com a mulher, Fernanda, e o filho, Iago, de apenas 5 meses - uma de suas principais razões para ter voltado para a capital do Rio Grande do Norte. Deu-se ao luxo de trazer para o clube seu amigo e fisioterapeuta particular Manoel Almeida, que também trabalha com o restante do grupo. Seu salário sai do bolso de Souza. Somos amigos há muito tempo, estive com ele na Rússia, ressalta Manoel.
Souza é o mais falado nas tevês e rádios locais. É destaque nos jornais e o mais badalado jogador do povo potiguar - tem prestígio até com os rivais. O sucesso em Natal atraiu o interesse de alguns clubes, inclusive de São Paulo e do exterior.
Não tem pressa, no entanto, para decidir o futuro. Por enquanto, quer curtir o bom momento e o acesso do América para a Série A do Brasileiro. O empate por 2 a 2 no Mineirão, no último sábado, depois de o time ter iniciado o confronto perdendo por 2 a 0, foi inesquecível, o jogo mais importante da carreira. Uma derrota acabaria com o sonho potiguar e levaria o Paulista, de Jundiaí, para a Primeira Divisão.
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