ESPORTES
Das ruas para o boxe
Por Nelson Luis
Que tal uma pessoa vencer na vida com jabs, diretos, cruzados e ganchos? Parece estranho, mas a idéia mudou há quatro anos a vida do adolescente Bruno Silva de Jesus. O garoto trocou as ruas pelas luvas e um ringue de boxe para se tornar promessa do pugilismo baiano e esperança de medalhas nos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro.
Tímido e de família pobre, o baiano Bruno mora no bairro do Nordeste de Amaralina, com a mãe e mais dois irmãos. Teve uma infância difícil e sofrida. Trabalhou como vendedor de jornal e chegou a se envolver com drogas. O adolescente, que completará 17 anos no final do mês de agosto, quase foi nocauteado pela fome procurou o esporte para mudar o rumo da sua história.
Apesar das dificuldades, Bruno jamais desistiu de seus objetivos. Esquivou-se das adversidades e não desanimou. Seguiu com muita disciplina. Graças a Deus o esporte trouxe conforto e tranqüilidade para minha família e para mim. Sofri muito para chegar até aqui e não vou desistir. Agora estou no boxe e não mais nas drogas e nem nas ruas, desabafa.
Aos 10 anos, ele já sabia o que queria da vida: ser um campeão. A inspiração surgiu quando o pobre menino de Amaralina viu o boxeador baiano Acelino Freitas, o Popó, detonar os obstáculos e conquistar o mundo com o esporte. Começava ali a paixão de Bruno. Em 1999, tinha dez, mas lembro claramente. A partir dali, me veio a vontade de vencer.
Mas, Bruno só encontrou o caminho para o boxe, em 2002, quando completou 12 anos. A partir de então, o adolescente não parou. Na sua primeira competição - o Campeonato Baiano - subiu no lugar mais alto do pódio. Mais recentemente, venceu a seletiva de Cadete que lhe deu o direto de representar o Brasil no Pan-Americano da categoria sub-17. Bruno busca apoio para continuar no esporte. Deseja disputar uma Olimpíada representando as cores do Brasil. Nunca desisti dos meus sonhos e das minhas idéias. Acho que tudo pode se tornar realidade.
As atenções do jovem atleta se voltam agora para o maior evento esportivo da história no Brasil os jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. No final do mês de agosto, ele irá começar um novo desafio na carreira. Convocado para integrar a Seleção Brasileira de Boxe, em Brasília, o jovem atleta ganhou uma oportunidade de disputar o Pan. Os atletas que mais se destacarem terão a chance de representar o Brasil.
No mês passado, o adolescente já sentiu o gostinho ao participar do Pan-Americano de boxe, só que na categoria sub-17. O torneio foi disputado no Equador. Estavam no campeonato atletas de países como Porto Rico, República Dominicana, Venezuela, Colômbia, Peru e Chile. Além do baiano, a delegação brasileira contou com um atleta do Paraná e dois de São Paulo. Mas Bruno foi viril e trouxe para o País a medalha de Bronze no peso leve, da categoria até 60 quilos.
INCENTIVO - O que o motivou a ser um assíduo aluno da academia Novo Astral, em Amaralina, não foram apenas os golpes e os demais exercícios físicos, mas a amizade com o treinador Gilvan Bispo Santos e a vontade de vencer.
A academia funciona há exatos 20 anos. O responsável, o treinador Gilvan, passou a receber o apoio do Projeto Viva Esporte e possibilitou ainda mais a pratica do esporte naquele bairro. A iniciativa, segundo ele, pretende ajudar adolescentes e crianças a saírem das ruas. Vi que poderia fazer alguma coisa por esses meninos, afirma.
O incentivo é importante para que eles possam crescer na vida pelo esporte, e se possível seguindo o nosso exemplo de vida, sempre com muita humildade. Somente assim eles vão conseguir chegar em algum lugar, completa.
Bruno, que parou de estudar este ano na terceira série do ensino fundamental, é monitor voluntário nas escolas do bairro. Ele transmite os conhecimentos adquiridos para cerca de 20 crianças em dois períodos. O boxeador ministra aulas todas as segundas, quartas e sextas-feiras por duas horas e meia.
Gilvan se emociona ao ver sua lição tão bem apreendida. O meu objetivo não é só ensinar esses meninos. Quero que eles levem esse conhecimento, essa disciplina para outras pessoas.
A convicção para o triunfo, Bruno já tinha. Mas a meta agora é mostrar aos meninos, adolescentes e também à comunidade que o esporte tira os meninos e adolescentes das ruas e socializa pessoas.
Michele Venturini, coordenadora geral do Projeto Viva Esporte, do qual o garoto faz parte, garante que praticar esportes é um importante instrumento de socialização, educação, promoção de saúde, cooperação entre os povos e identidade cultural. Nas comunidades, o esporte precisa ser também forte ferramenta de inclusão social, afirma.
O Projeto é desenvolvido pela Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). Integra o Programa Viva Nordeste desenvolvido pela Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte (Setras) desde que foi implantado possibilitou ainda mais a prática de esportes nos bairros.
O Viva Esporte é voltado para jovens de 7 a 17 anos. As atividades são realizadas em três núcleos: Nordeste de Amaralina, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas. Lá, cerca 5.300 crianças, todas de família carente, tem aulas de futebol, futsal, handball, vôlei, boxe, capoeira, karatê, jiu-jitsu, futebol e vôlei de praia. Para conseguir uma vaga, a criança tem que mostrar muito interesse e disposição, estar na escola e ter boas notas, ressalta.
Ainda de acordo com Michele, para os moradores com mais de 18 anos são oferecidas atividades físicas como ginástica. Cada atividade ocorre três vezes por semana e são coordenadas por professores e estagiários de Educação Física.
Praticar atividades físicas são mais do que um prazer. Sem falar que faz bem à saúde. A idéia é ajudar a criação de uma consciência de que a prática esportiva complementa a educação de crianças e adolescentes.
Serviço
Projeto Viva Esporte
Mais informações
Sudesb: 3116-8329
Casa de serviços do projeto: 3346-3377
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