ENTREVISTA
Edilandia Araújo, halterofilista paralímpica baiana
“A medalha de bronze teve gosto de ouro”
Por Patrick Levi
Levando em conta o número de medalhas que os brasileiros conquistaram nos Jogos Parapan-Americanos deste ano (343 ao total, sendo 156 ouros, 98 pratas e 89 bronzes), é fácil cravar que o país esteve bem representado em Santiago. E é possível também destacar os méritos dos competidores da Bahia.
O Jornal A TARDE faz uma série de matérias contando um pouco da história de atletas do estado que tiveram desempenho elogiável no Parapan, do qual seus sete competidores saíram premiados. Nesta edição, a entrevista é com Edilandia Araújo (levantamento de peso na categoria até 88 kg), natural de Urandi, a 692 quilômetros de Salvador.
A esportista já havia conquistado o segundo lugar mais alto do pódio no Open das Américas de 2022, nos Estados Unidos. Neste ano, em Santiago, o bronze veio para a baiana do halterofilismo.
Em 2000, a atleta teve mielite transversa, uma doença relativamente rara que afeta os nervos periféricos da medula espinhal e, consequentemente, adquiriu deficiência física. Cinco anos depois, começou no esporte e fez disso a sua vida, trazendo grande orgulho para o Brasil e a Bahia.
Para entender a jornada que te levou até onde você está hoje, é preciso saber de onde surgiu a influência do esporte na sua vida. Então, desde sua juventude, a movimentação do corpo e a competitividade esteve presente para você?
Voltando à minha infância, eu fui uma criança criada na zona rural, então ficava na rua o dia inteiro brincando, subindo em pé de manga. Depois da infecção que eu tive, em 2000, já em Uberlândia-MG, que é onde moro agora, minha mãe não gostava que eu ficasse dentro de casa, então disse que procuraria algo para eu fazer. Foi aí que conheceu o professor Alberto, que me levou ao treino de natação, onde passei a me conectar mais com a esportividade.
Mas sua conexão maior e que dura até hoje não foi com a natação, mas com o halterofilismo. Como foi o começo nesse esporte específico?
Depois da natação, fiz um teste com levantamento de peso. No nado, quem me acompanhava era um estagiário, mas ele sumiu do nada, e então onde eu treinava só tinha um outro professor, Weverton. Ele me viu e disse que eu era forte, e que deveria pelo menos tentar em um teste. Fiz o teste e, desse teste, estou até hoje. Comecei em 2005 e já fui para um Campeonato Brasileiro de halterofilismo que aconteceu no Rio de Janeiro, em julho. Foi assim que ingressei no esporte.
Como foi o começo da sua adaptação? Foi difícil? houve muito apoio?
O professor Weverton me descobriu e eu estou com ele até hoje, então ele foi muito importante, sempre me guiou muito bem. Ele e meus pais foram meus principais apoiadores. Minha família em geral, meus irmãos, meu marido. Meu marido, inclusive, conheci na minha primeira competição, lá no Rio.
E qual foi o maior desafio da sua carreira?
Foi em 2015. Eu havia ido para um Open das Américas, no México. Quando voltei, já estava doente. Um médico não cuidou direito e foi piorando. Tive uma bactéria que comia um pouco do osso. A minha deu justamente no quadril. Passei por cerca de 15 cirurgias, que foram retirando regiões que a bactéria tinha atacado. Retirei partes do fêmur, precisei de mais de 13 bolsas de sangue até estabilizar. Graças a Deus, o meu novo médico, o Dr. José Geraldo, cuidou muito bem de mim e, desde 2019 estou tranquila. Já em 2020, em fevereiro, voltei a treinar.
2020 foi também o ano em que estourou a pandemia. Como isso te afetou? Quando os esportes voltaram a ocorrer, já houve o Mundial de halterofilismo. Como foi isso para você?
Já em março começou a pandemia. Quando começou, já parei os treinos. Só voltei no final de 2021 e fui para as seletivas do Mundial já sabendo que não tinha chances porque só tinha voltado a treinar três semanas antes. Fiz nas seletivas a marca de 95 kg e não foi o suficiente. Voltei a treinar e, depois de um mês, já estava fazendo 105 kg. Fui treinando e, graças a Deus, melhorando marcas. Foi um grande desafio passar sete anos fora e conseguir voltar bem.
Qual foi a sensação de levar o bronze no Parapan deste ano? E quais são as expectativas para a Paralimpíada?
A medalha foi de bronze, mas, para mim, teve o gosto de ouro, dado tanto tempo de fora que eu fiquei. Sobre a expectativa para a Paralimpíada, não está boa. Como eu não fui para o Mundial em 2021, que contam pontos para o ranking, eu não estou no ciclo de Paris. São competições obrigatórias que contam pontos. Mas está nas mãos de Deus, eu posso receber o convite, mas posso não receber também. Então, meu foco já está em 2025, para o Mundial. Caso não venha Paris, já estou no ritmo de treino para começar bem o Mundial.
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