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Bahia serviu de inspiração para criação de pautas sociais no futebol do país

Publicado sábado, 27 de março de 2021 às 08:00 h | Atualizado em 19/11/2021, 12:01 | Autor: Nuno Krause*
Em 2018, no Dia das Mães, Tricolor promoveu ação para localizar pessoas desaparecidas; acima das fotos, havia o pedido: ‘Ajude uma mãe a encontrar seu filho’ | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia
Em 2018, no Dia das Mães, Tricolor promoveu ação para localizar pessoas desaparecidas; acima das fotos, havia o pedido: ‘Ajude uma mãe a encontrar seu filho’ | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia -

O filósofo Jean Jacques Rousseau acreditava que o indivíduo nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Thomas Hobbes era mais pessimista. Descreveu o ser humano como mau por natureza, como um animal selvagem que é seu próprio inimigo. John Locke, por sua vez, adotou tom mais neutro. Disse que nascemos como “uma folha em branco” e que construímos nossas narrativas na medida em que temos acesso a outras narrativas.

Independente da linha de pensamento do leitor - existem inúmeros outros filósofos que explicam o comportamento humano -, é natural dizer que a sociedade é recheada de preconceitos. Racismo, machismo, LGBTQIA+fobia, gordofobia, xenofobia, intolerância religiosa e diversos outros.

No futebol, não é diferente. Na verdade, é um ambiente que, muitas vezes, potencializa esse tipo de coisa. Basta olhar para uma torcida de ultras da Lazio, na Itália. Cânticos racistas, adoração a símbolos fascistas, críticas a jogadores de origem judia e gestos absurdos marcam esse grupo. O clube já teve o ditador italiano Benito Mussolini como sócio.

No Irã, as mulheres ficaram impedidas por 40 anos de visitar estádios de futebol. E não é preciso ir tão longe. O leitor deve se lembrar do caso do goleiro Aranha, chamado de “macaco” por um grupo de torcedores do Grêmio. Aqui no estado, os dois clubes da capital, Bahia e Vitória, engatinham na valorização do futebol feminino.

O Tricolor profissionalizou a modalidade neste ano, após subir para a Série A1. O Leão perdeu o caminho construído ao longo dos anos em 2020, praticamente se desfazendo do time e perdendo todas as partidas do Brasileirão. A crise financeira causada pela pandemia contribuiu para isso, mas não foi o único fator.

Engajamento

O contraponto a essa realidade está crescendo. “O futebol é um espaço de comunicação e de transformação de massas, de um público muito grande, poderoso. Acreditamos que o futebol, como transformador social, deve se apresentar como agente das ações humanitárias, de narrativas pela inclusão", afirma Tiago César, assessor empresarial da Cura e Cultura, que oferece consultoria de inteligência social, e assessor de planejamento do Núcleo de Ações Afirmativas do Esporte Clube Bahia.

Em parceria com a Sportsview, empresa de transmissão do Campeonato Carioca, e a Leiaute Propaganda, a Cura e Cultura criou a campanha "Futebol Sem Barreiras" no estadual do Rio de Janeiro.

“A Sportsview tem contrato de dois anos com a Ferj para atuarmos juntos no Cariocão, e durante esse período vamos impulsionar questões sociais. A Ferj está empenhada na causa. Todos na federação engajados em transformar o Cariocão em uma plataforma inclusiva. Os clubes estão comprometidos", conta Leandro Ferreira, gestor da Sportsview.

A primeira ação ocorreu na última quarta-feira, no clássico entre Botafogo e Flamengo. Os times entraram em campo com jogadores faltando. Após todos notarem a ausência, eles foram a campo com duas faixas que diziam: “Sentiu nossa falta? Imagine se fosse alguém da sua família” e “Ajude a encontrar pessoas desaparecidas".

Inspiração

Ação parecida já tinha sido feita em 2018 pelo Bahia, no dia das mães. Os atletas entraram com fotos de pessoas desaparecidas que carregavam a frase: ajude essa mãe a encontrar o seu filho (a).

O Esquadrão é considerado referência nacional e internacional no tema. Desde que Guilherme Bellintani assumiu a presidência, em 2018, a instituição tem focado no Núcleo de Ações Afirmativas.

“Temos uma participação na revolução social no Bahia. O Bahia é um exemplo, uma referência para o 'Futebol Sem Barreiras', para as federações, os clubes, e para o esporte como um todo", diz Tiago.

Ainda assim, quando as coisas em campo não vão bem, parte da torcida insiste em criticar esse tipo de ação. "As ações, na verdade, ajudam o futebol. Melhoram a visibilidade dos patrocinadores e trazem mais dinheiro para o clube. Têm receitas próprias, que não são receitas de entrada para o futebol. Geram uma valorização da marca do Bahia", contrapõe o consultor.

Pronto para estrear

O Tricolor anunciou na sexta, 26, de forma oficial, a contratação do zagueiro Luiz Otávio. Ele foi apresentado no Centro de Treinamentos Evaristo de Macedo e já está inscrito no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

“Eu vinha trabalhando, fiz uma pré-temporada pela Chapecoense no início de fevereiro. A hora que o professor Dado precisar eu estou disposto a ajudar”, disse o atleta, na entrevista coletiva.

*Sob supervisão do editor interino Rafael Tiago Nunes

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