EC.BAHIA
“Não tem ninguém para assumir o clube no lugar de Bellintani”, diz ex-vice-presidente do Bahia
Vice-presidente na era Marcelo Sant’Ana (2015-2017), Pedro Henriques também teve o cargo de diretor-executivo na atual gestão, entre 2018 e 2020, e esteve à frente da mudança do clube para o novo CT, a Cidade Tricolor.
Conhecedor dos bastidores do Bahia, Henriques, em entrevista exclusiva, assume postura crítica às decisões de Guilherme Bellintani no futebol, que levaram à ameaça de rebaixamento à Série B, mas, ao mesmo tempo, reconhece a fragilidade da oposição e diz não ver nomes para substituir o atual presidente.
A diretoria do Bahia é elogiada administrativamente, mas criticada no âmbito do futebol. Qual avaliação você, que participou da gestão, faz?
É uma gestão que pecou muito no futebol, e eles reconhecem isso. É uma gestão consciente do que está fazendo, que está lutando para melhorar o Bahia, mas que tomou alguns caminhos que eu discordo, e muita gente discorda, no futebol. Agora estamos aí nessa situação alarmante de possível queda para a Série B e, se o Bahia cair, o que eu espero que não aconteça, eles vão ter que contornar o problema e voltar com uma gestão mais voltada para a evolução do futebol, para que o Bahia possa voltar para a Série A o mais rápido possível.
Existe algum movimento de pressão para a renúncia de Guilherme Bellintani?
O que eu vejo são algumas pessoas comentando. Mas é mais torcedor em WhatsApp que está chateado com a situação. Porém, dentro do clube, acho até que seria algo precipitado. Você deslegitimaria uma eleição que acabou de acontecer. Não faz nem três meses que Bellintani foi reeleito. O que há é uma união dentro do clube para que sejam feitas as críticas necessárias, para que a gestão assuma os erros, o que já faz, e que possa melhorar o Bahia.
E para a próxima eleição? Você vê fortalecimento da oposição? Na última só houve dois candidatos na disputa.
O que muitos torcedores não entendem é que a oposição do Bahia nunca ocupou um espaço muito grande no clube. O que há são vários grupos políticos que são fortes. E nenhum grupo que apoiou Bellintani no primeiro mandato poderia lançar candidatura agora. Eles entendem que tiveram erros, mas que, no geral, Guilherme e Vitor fizeram um bom trabalho de reestruturação do clube. Até o grupo de Abílio Freire, que concorreu com Bellintani na última eleição, o apoiou nessa. O quadro mais alarmado pela torcida para fazer ‘oposição’ a Bellintani era Marcelo Sant’Ana. E Marcelo com certeza não lançaria candidatura para concorrer com a dele. Quanto a Lúcio Rios [candidato na última eleição], eu não o conheço pessoalmente, mas não o vejo como alguém que fez muito pelo Bahia para virar nome forte para concorrer à presidência. Ele estava lá nos grupos quando houve a intervenção, mas o que de fato ele propôs ao clube? A oposição trabalha muito na base da crítica, mas não tem projeto. Qual é o quadro que o Bahia tem para assumir após a gestão de Bellintani? Marcelo? Eu? Difícil. Não tem ninguém, atualmente.
E você, tem algum projeto para voltar ao clube?
Eu estou feliz trabalhando no meu escritório de advocacia, no momento. Quando eu saí do Bahia, foi porque eu entendia que o meu ciclo no clube tinha se fechado. Continuo como torcedor, acompanho os bastidores, o lado político, mas por agora não me vejo voltando. Pode ser que daqui a cinco, dez, vinte anos, se alguém me propor um projeto para voltar ao clube, precisar da minha ajuda com opiniões, conselhos, eu volto.
O Bahia tem dívida de R$ 20 milhões e terá redução em caso de rebaixamento. Como você avalia essa situação?
Caso caia para a Série B, o prejuízo financeiro pode chegar até a R$ 60 milhões. Perde, por exemplo, a cota televisiva. Claro, o clube deve negociar com a Globo, com a Turner, para tentar um acordo e diminuir esse prejuízo. Ainda assim, é uma situação difícil.
O que você pensa sobre a mudança nas contratações do Bahia, que passou a apostar em atletas mais renomados?
Essa coisa de contratar jogadores de renome é algo complicado. Eu mesmo já fui muito criticado por isso, durante a gestão de Marcelo Sant’Ana. Acho que o maior erro da nossa gestão na parte do futebol foi a vinda de Thiago Ribeiro, que não rendeu. Essa é uma política que, historicamente, não vem dando certo. Os jogadores que mais deixam boas impressões no Bahia são aqueles que estão buscando evolução profissional, que querem render mais para, quem sabe, um dia serem vendidos. Foi assim com Zé Rafael, Artur Victor, está sendo com Gregore. Um exemplo disso é 2017, quando nós fomos bastante criticados porque o Vitória estava trazendo jogadores de renome enquanto nós estávamos trazendo Zé Rafael, por exemplo, Nino Paraíba... Era um time mais modesto, mas que durante o ano foi evoluindo. Conquistou a Copa do Nordeste e terminou em 12º no Brasileirão. Esse é o caminho que o Bahia deve seguir daqui para frente.
*Sob supervisão do editor Daniel Dórea
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