ELEIÇÃO NO RUBRO-NEGRO
"A nossa intenção é resetar o Vitória", diz Marcus Sarmento
Atual prefeito de Itanagra se apresenta como candidato de oposição à presidência do Vitória
Por Daniel Genonadio
Atual prefeito da cidade baiana de Itanagra, Marcus Sarmento está disposto a largar o cargo para ser presidente do Vitoria. O candidato de oposição fez duras críticas a gestão do atual presidente Fábio Mota e ainda detalhou a sua divergência com Ricky, pré-candidato pela grupo Vitória Autêntico. Além disso, ele defendeu uma gestão profissional, sem interferências dos conhecidos 'cardeais' do Rubro-Negro.
O empresário e prefeito de Itanagra foi o segundo entrevistado pelo Portal A TARDE, em uma série de entrevistas com os pré-candidatos à presidência do Vitória. O pleito que vai escolher o novo presidente do clube está marcado para o dia 10 de setembro , no Complexo do Barradão, das 9h às 19h, e também terá uma cobertura especial. Confira a entrevista:
1- Gostaríamos primeiro de uma apresentação e saber por que você é o melhor candidato para presidir o Vitória?
Sou administrador formado, prefeito de Itanagra e empresário no ramo de saúde e construção civil, mas antes disso tudo um torcedor apaixonado pelo Vitória desde criança e que sempre frequentou o Barradão. Infelizmente vejo o clube piorar a cada ano que passa. O mais grave de tudo é que a gente nunca viu nenhum gestor ser punido, ser cobrado de nada que aconteceu. Por isso colocamos nossa candidatura na intenção de resetar o Vitória, de passar a limpo. É condicionante ao nosso grupo não apoiar nenhum cardeal, o tempo deles já passou. Não pode ter um grupo de amigos achando que são donos do clube.
2 - Eleito em 2020, você ainda tem dois anos de mandato em Itanagra. Por quê está disposto a deixar o cargo para assumir o Vitória?
Ninguém cometeria a loucura que eu estou cometendo se não gostasse do clube. Quem está nesse pleito tem que estar por amor ao Vitória. O clube não precisa de quem precisa do clube. Do jeito que está, eu vendo alguns pré-candidatos, vejo pessoas sem estrutura nenhuma, apenas querendo fazer nome e fazer dinheiro dentro do Vitória. Essas pessoas eu não aceito.
3 - Em caso de derrota, tem receio da tentativa de ser presidente do Vitória interferir na sua avaliação dentro da vida política?
Eu nunca fui político. Entrei em Itanagra por ter propriedade rural na cidade, por amor a cidade, que estava em um descaso. Em apenas um ano e oito meses já posso dizer que entrei na história da cidade, com boa aprovação. Todos sabem da minha paixão pelo Vitória. No caso derrotado ou não, Itanagra sempre vai ter o legado deixado por mim. Foram obras feitas nunca vistas na história. Sem soberba, sem euforia, o nosso grupo foi o que mais trabalhou na história da cidade.
4- Ainda falando do processo eleitoral, a democracia no Vitória é nova e as campanhas ruins dos últimos anos fizeram com que muitos torcedores deixassem de ser sócios. Como você imagina o quadro de votantes e como chegar neles?
O Vitória tem cerca de 2 a 3 milhões de torcedores, porém tem cerca de 8 mil sócios. Acredito que essa próxima eleição terá no máximo 2 mil aptos. É pouco para representativo para a torcida do Vitória. Toda gestão que passa não se preocupa com o torcedor, em fidelizar o torcedor, fazer ele ser acolhido. O Barradão tem que ser um lugar de entretenimento. A solução do Vitória não está na diretoria, está na torcida. Se a torcida for ouvida, estiver presente, o Vitória tem jeito. É muito difícil para um empresário investir em qualquer lugar se não tiver confiabilidade no gestor. De falastrões, de conversadores, de expertise, de mentirosos, o Vitória está cansado.
5 - O Vitória vive uma crise financeira grande por conta de gastos excessivos de presidentes anteriores e os rebaixamentos sofridos pelo clube. Como você acredita que possa reverter essa dificuldade financeira?
Precisamos ter credibilidade de gestão, sem isso não tem como atrair investidor. Nós já temos esses investidores pré conversados. Existe um crime muito grande cometido pela atual gestão e ninguém fala isso. Paulo Carneiro jamais deveria ter voltado ao Vitória, mas ele teve uma atitude louvável de pegar todo o passivo trabalhista e fazer um único acordo com parcela fixa por mês. O atual presidente (Fábio Mota) deixou de pagar e quebrou o acordo, deixando o Vitória com risco de bloqueios meramente pelo ego. Isso tem que acabar, cada um que passar tem que deixar um legado para o Vitória
O Vitória tem que ter uma crescente contínua e cada gestor tem que fortalecer o nome e a marca do clube. Se existe um projeto que o antecessor fez de bom, ele tem que ser mantido para que o Vitória cresça a cada dia. Esse ego dos gestores que passam é muito triste e está acabando com o nosso clube. Essa pode ser a última eleição do clube, se o grupo atual permanecer, pode virar uma SAF.
6 - Qual a sua posição em relação a composição de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Acha que o Vitória deveria buscar um investidor ou manter o seu modelo atual?
A SAF, a depender do modelo é saudável. Vou dar dois exemplos, um que eu concordo e um que não. O Cruzeiro hoje virou uma SAF com a compra de Ronaldo e o torcedor não tem mais voz. Ele é o dono do clube e acabou, se der certo ótimo, se der errado ele que manda. O único direito que o torcedor tem é sentar na arquibancada, torcer e xingar. Já o modelo do Palmeiras, com a Crefisa, deixou a voz do torcedor e o poder de opinião.
Sou a favor da SAF em um modelo similar ao do Palmeiras, do qual não percamos autonomia e o torcedor tenha direitos. Vejo como uma grande solução para o Vitória se for feita de maneira responsável, não como acontece hoje. O Vitória hoje tenta ser desvalorizado para essa SAF futura acontecer com preço de bagatela. Quanto mais o Vitória perde, menos valor ele tem.
7 - O Marcus Sarmento é um gestor, empresário, mas sem experiencia prévia no futebol. Voce irá se cercar de profissionais experientes dentro do meio?
Conhecimento de gestão e futebol eu tenho. Faço parte da gestão do Redenção já há algum tempo, mas não no nível de Vitória e sim divulgação de meninos para outros clubes. Os meus amigos sempre foram do mundo da bola, essa galera toda sempre participou do meu dia a dia e serão peças no Vitória. Acho que o clube precisa de pessoas que reforcem a nossa Fábrica de Talentos, que foi esquecida, e resgatem a gana e a vontade de ganhar.
É preocupante a forma como as coisas são conduzidas hoje. O Vitória tem um diretor de divisão de base (Thiago Noronha), que nunca trabalhou com futebol. Está no clube apenas por conchavo político, apenas para que todos os grupos se acomodassem dentro do Vitória. Isso tem que acabar. Ou profissionaliza ou não vai.
8 - Nas últimas semanas, o seu grupo, o Raiz Rubro-Negra anunciou uma parceria com o Vitória Autêntico, liderado pelo ex-jogador Ricky. No entanto, pouco depois o acordo foi desfeito por conta de exigências financeiras. O que aconteceu?
Eu divulguei o contrato e minhas conversas com Ricky. Nós tínhamos fechado uma parceria há 15 dias atrás com o Vitória Autêntico, no qual falamos sobre o bem do clube. A gente teria um evento no sábado e em toda a semana foram mandados modelos visuais para o evento. Pessoas de Ricky estiveram na reunião e nunca, em nenhum momento, foi tratado sobre algum contrato.
Para surpresa nossa, na última quinta-feira, Ricky pela manhã disse que só poderia usar a imagem dele após o contrato assinado. O que eu tinha entendido na reunião, é que ele iria ajudar no futebol com um projeto de jogadores africanos. Eu ainda respondi via áudio: 'Irmão, vindo de você esse contrato eu assino qualquer coisa'. No mesmo dia eu recebi do advogado dele um contato com cláusulas incrédulas para o Vitória. Então respondi que estava fora disso.
Mandei a mensagem e disse a ele que ele não ama o Vitória, só quer resolver a sua vida financeira através do Vitória. Divulguei para mostrar quem ama o Vitória ou não. O nosso grupo não faz conchavo financeiro com ninguém. O Vitória não precisa de quem precisa do Vitória. O clube está no momento de ser fortalecido e não sugado. Candidatos oportunistas, pessoas que com todo respeito, se um ônibus quebrar na BR não tem dinheiro pra comprar um diesel ou consertar. Esses vão fazer como para gerir um clube com milhões de dívidas? Só pelo ego de ser presidente? Não estou recriminando quem não tem condições, mas é a realidade de um clube falido.
9 - Você tem conversado com outros grupos que tem candidaturas ao cargo de presidente do Vitória?
Conversei com o vice de Jailson Reis, converso muito com a Frente Popular, sou fã deles, acho que é o grupo que mais se organizou nesse tempo. Conversei com Ângelo. Tivemos uma reunião há poucas semanas com todos os grupos de oposição e Vitor Mendes sempre se colocando como não ceder o cargo de presidente. Ele só senta para conversar se ele for o candidato a presidente. Para mim não adianta esse diálogo. Ele acha que o nome dele é o mais preparado e a eleição está ganha para ele, segundo ele próprio.
10 - O atual presidente Fábio Mota anunciou a sua candidatura. Qual a sua avaliação da gestão atual?
Fábio Mota nunca relutou (em anunciar a candidatura), ele sempre quis ser presidente do Vitória, apenas não dizia isso em público. São 40 jogadores em um ano e pouco de mandato. Quantos deram certo? Quantos meninos da base poderiam ter sido utilizados? Quanto vai ficar de passivo trabalhista? A gestão é pífia. É muito ruim. Graças a deus, o Vitória se classificou na Série C, mas tecnicamente na gestão é difícil achar algo positivo.
11 - Qual recado que você deixa para o torcedor do Vitória para os próximos anos em caso de vitória?
Deixar claro ao torcedor rubro-negro que a candidatura nunca será minha, será da torcida e do grupo de oposição. O meu nome não é imposto e nunca será imposto. Acho que a oposição tem que se unir para zerar o clube, tirar os cardeais do clube e colocar gente profissional. Sem isso a gente não vai para lugar nenhum. Se eleito formos, assim como fiz nos meus negócios e na cidade de Itanagra, farei no Vitória. Pesquisem o nome de cada pré-candidato e vejam o que cada um já fez na sua história, na sua vida. Você eleger quem nunca construiu nada é um risco que o Vitória não pode correr mais, está na hora do Vitória ser profissionalizado e encarado de maneira séria e honesta.
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