EC.VITÓRIA
Marinho revela sacrifício para se recuperar da lesão

Por Ricardo Palmeira

O ânimo do Vitória na luta contra o rebaixamento está renovado. Afinal, seu melhor jogador está de volta. A lesão muscular de Marinho havia virado drama. Sem o atacante, o Leão perdeu quatro jogos seguidos sem marcar um gol sequer. O retorno ocorreu há oito dias, no 2 a 2 contra o Fluminense no Maracanã. Marinho deu o passe para o primeiro gol e marcou o segundo. No domingo, 6, ele é presença certa contra o Atlético-PR, no Barradão. Nesta entrevista, em que recebeu o A TARDE em sua residência, descreveu todo o sacrifício que fez para se recuperar o mais rápido possível e agradeceu às manifestações de carinho. Em vídeo, Marinho convoca torcida para jogo decisivo diante do Furacão (assista abaixo).
Você se considera esse salvador da pátria que a torcida diz?
Me considero importante sim, mas como os outros jogadores, cada um na sua função. Claro que o torcedor fala muito sobre o que ele vê e ouve. Mas, as derrotas sem mim em campo foram coincidência. Muitas vezes, eu estive no jogo e o time perdeu. A questão é que, antes, o Vitória vinha bem acertado. Eram três ou quatro partidas seguidas com a mesma equipe. Então, quando sai uma peça, a equipe sente a diferença.
Mas, a torcida diz que você “é o cara do Vitória”. Fica feliz com as manifestações?
São muito bacanas, o torcedor é emotivo. Quando eu vou ao mercado, escuto: “cara, eu não ia ao estádio, mas, como você vai jogar, agora eu vou”. Tem um amigo meu, aqui onde moro, que diz: “Você não tem noção da responsabilidade que possui”. Eu respondo: “Minha responsabilidade é a mesma dos outros. O Vitória é um grupo e tem vários atletas qualificados”. Ouço dos torcedores: “Mas, Marinho, o Vitória depende de você”. Eu digo: “Mas, se o Vitória depende de mim, eu dependo muito do meu time. Sem meus companheiros, eu não sou nada”. É com a força coletiva que nós vamos sair dessa situação difícil.
Houve alguma manifestação que te marcou em específico?
Foram várias. Todo dia que eu saia de casa, ouvia: “você tem que voltar logo, estamos sentindo sua falta”. Ouvi de muito torcedor: “Tenha certeza que o que não estão faltando são orações para que você se recupere logo. Estamos orando muito”. Essa situação acontecia todos os dias. Foram duas para três semanas assim. Foi um período muito desgastante para mim, pois eu queria me recuperar logo. Ia para o clube em dois turnos. Às vezes, nem voltava em casa para almoçar, pois, eu tinha que sair para fazer exame. Foi o sacrifício da recuperação. Tenho que agradecer ao pessoal da fisioterapia, que batalhou junto comigo. Fiz uns 10 exames, um monte de tratamento... Teve um que era uma câmara hiperbárica. Fiz três sessões. Foi uma luta conjunta. Às vezes, as pessoas pensam que ficar lesionado significa passar um tempinho no departamento médico e a maioria do tempo em casa. Mas, não é assim. Nesta minha recuperação, muitas vezes eu chegava tarde em casa, cansado, e ainda continuava o tratamento. Trazia uma máquina do clube para me tratar em casa.
Como era essa máquina?
Era uma máquina de gelo, que mantinha a temperada baixa. Você coloca a perna ali e recebe o ar na temperatura certa para acelerar a recuperação. É diferente de uma bolsa de gelo, que vai esquentando e derretendo. Eu passava a noite toda com a perna ali, na máquina, recuperando.
E o tratamento na câmara hiperbárica, como foi?
Foi difícil. Até que ponto me ajudou, não sei exatamente, mas confiei muito nos médicos. Então, eu fui. A câmara era tipo um túnel de ferro de uns cinco metros de comprimento. Nele, vai entrando ar. Então, você entra na câmara, senta numa poltroninha e parece uma pressão de avião. Aí, você coloca uma máscara de ar. Dava agonia. Eu saia enjoado, com dor de cabeça e ânsia de vômito (o tratamento é feito através da inalação de oxigênio puro em pressão ambiente aumentada. Nas sessões, que duram de uma a duas horas, ocorre aumento de até 20 vezes na quantidade de oxigênio dissolvido nos tecidos, o que acelera a recuperação da lesão).
Mas, o importante é que você voltou 100%, né?
Na verdade, não. A lesão estava curada, mas eu não estava 100% fisicamente. Tem jogadores que sentem quanto ficam uma ou duas semanas sem treinar. Graças a Deus, eu não sinto tanto. Mas, mesmo assim, eu senti um pouco. No final do jogo contra o Fluminense, estava com câimbras. A perna pesava.
Antes ou depois do gol?
Comecei a sentir antes do gol (Marinho anotou o empate aos 42 minutos do segundo tempo). Mas, depois do gol, deu uma animada e eu até melhorei (risos). Logo depois, a câimbra voltou muito forte.
Quando Euller cruzou a bola, você, por estar com a perna pesada e principio de câimbra, temeu não fazer o gol?
Quando a bola veio, eu decidi dominar para dentro da área. Deu tudo certo e vi que Gum (zagueiro do Fluminense) não ia dividir a bola comigo por medo de fazer o pênalti. Então, eu pensei: “é agora! É só soltar o pé”. Não ia ter dor certa, não ia ter perna pesada. Era a chance do jogo. Soltei o pé e aí foi lindo (risos).
Como está o clima no elenco?
Eu olhava para a fisionomia de funcionários e jogadores e os sentia tristes. Eu também fico muito triste com a fase recente do Vitória. Mas, é bola para frente! É preciso alegria para fazer o seu melhor. Então, a cada dia que eu chegava ao clube, falava: “opa, ninguém pode ficar assim, não”. Na véspera do jogo com o Fluminense, estávamos no ônibus, já no Rio de Janeiro, eu liguei o som, animei o pessoal todo. Chego com som alto mesmo. Falei: “a gente não caiu, não, velho! Parece até que já caiu”. Graças a Deus, nos últimos dias, o clima está mais otimista, saudável e alegre. Coisa boa atrai coisa boa. É preciso alegria para as coisas fluírem dentro de campo.
Por volta de julho, começaram comentários externos que haveria ciúmes dentro do elenco por você ser o jogador que mais se destacava mais. Falavam que você e Kieza não se davam bem. Aqueles comentários te deixaram chateado?
Até demais. Poxa, eu, Kieza, Kanu, Caíque... Andamos juntos, somos muito amigos. Na final da Copa do Nordeste do ano passado (Marinho defendia o Ceará e foi campeão em cima do Bahia, na época de Kieza), eu falei a Kieza: “Neguinho, um dia nós ainda vamos jogar juntos. Você joga demais!”. Quando ele chegou ao Vitória (Marinho chegou em janeiro; Kieza, em março), eu falei: “Pô, agora eu tenho um cara com quem jogar na frente, um cara que eu gosto para c...”. Tenho admiração enorme por ele. Ele é meu amigo. Falavam por aí coisas que não tinham nada a ver, que eu não tocava a bola para ele... Eu dizia a ele: “Pô, neguinho, de onde surgiram esses comentários de que eu e você não nos gostamos?”. Logo na estreia dele, eu fiz uma jogada, passei por dois, poderia ter feito o gol, mas toquei para ele, que marcou (foi o terceiro gol no 3 a 0 sobre o Flamengo de Guanambi pelo Campeonato Baiano). Aquilo foi uma forma de fazer Kieza se sentir acolhido pelo elenco, de mostrar que o grupo estava com ele. Agora, queria dar um recado: minha amizade com Kieza vai continuar, independente do que as pessoas falem por aí.
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