ELEIÇÕES NO RUBRO-NEGRO
Mota faz balanço da gestão e projeta: "Série A em até três anos"
Presidente falou sobre motivação em permanecer no clube e ainda criticou adversários
Salários atrasados, bloqueio na Fifa, inúmeras dívidas e, na ocasião, com um rebaixamento praticamente encaminhado à Série C. O cenário do Vitória assumido pelo presidente em exercício, Fábio Rios Mota, pode tranquilamente ser classificado como um dos piores possíveis para se gerir um clube de futebol.
Inicialmente visto como um 'mandato de transição', entre o afastamento do ex-presidente Paulo Carneiro e as eleições que serão realizadas neste sábado, 17 de setembro, Mota focou muito da sua gestão em organizar as finanças e equilibrar as dívidas de curto e médio prazo do clube.
Em entrevista concedida ao Portal A TARDE, o atual presidente rubro-negro fez um balanço dos meses de gestão, falou sobre a motivação para lançar a candidatura e permanecer no cargo, e ainda teceu críticas a adversários que disputam a presidência e o Conselho Deliberativo.
Nas palavras de Mota, em caso de reeleição, o foco principal é levar o Vitória de volta à Série A até a conclusão dos três anos de mandato "e não sair mais" da elite do futebol nacional. Confira:
1 - Você assumiu o Vitória em uma situação extremamente turbulenta, a pior dos últimos anos e talvez da história. Qual o balanço que você faz desse período que esteve a frente do clube?
Assumi realmente na pior fase da história do clube. Na terceira divisão, com inúmeras dívidas, as contas bloqueadas, com a punição da Fifa, onde tínhamos apenas 14 dias para montar uma equipe de futebol. Jogadores e funcionários com salários atrasados, estádio e CT com a estrutura comprometida, categorias de base com bolsa auxílio atrasada e alimentação precária... As dívidas inviabilizavam o clube, o bloqueio de contas era dia sim, dia não. Esse foi o quadro que recebi o Vitória. Tivemos que fazer alguns ajustes, algumas demissões para colocar o clube dentro da nossa realidade. Negociamos e parcelamos as dívidas. Trouxemos 16 patrocinadores, que resultaram em R$ 8,5 milhões e isso permitiu que a gente saldasse todos os salários. Vitória está com salário de jogadores, funcionários em dia.
2 - Até pouco tempo atrás, seu período no clube era visto como um momento de transição, entre a saída do presidente afastado e a nova gestão que seria definida nas eleições. Qual foi o motivo que te fez se colocar à disposição para esse pleito?
Entramos no clube e conhecemos a realidade. Eu não tinha a exata dimensão do desastre que entregaram. Posso dizer que já fui gestor de diversas áreas na cidade, secretário municipal, estadual e nacional... Nunca peguei um desafio tão grande, foi o maior da minha vida. Eu enfrentei, busquei soluções e avancei muito. O Vitória hoje não tem nem comparação com o que eu peguei há 10 meses, em todos os níveis. Organizamos finanças e patrimônio. Tudo isso estando na Série C. Minha candidatura vem para dar sequência ao projeto que estou executando. Inicialmente, o que me motivou nisso foi o apelo da torcida e, em seguida, sendo bem sincero, não vejo condições nos outros candidatos de comandar um projeto tão audacioso como é o do Vitória de retornar à Série A. Para ser presidente do clube hoje, não basta apenas ser bem intencionado. Precisa ter relações com a sociedade civil, com entes federativos, com as federações esportivas que possam ajudar a manter a instituição. Tudo isso me fez querer permanecer. Apenas para encerrar, eu larguei a secretaria de Cultura e Turismo para me dedicar exclusivamente ao Vitória.
3 - O senhor tem a exata dimensão do quanto o acesso é importante para o Vitória neste momento. Colocando uma situação que isso não ocorra, como fica a previsão orçamentária do clube?
Na Série C, a cota é de R$ 400 mil e o Vitória tem uma despesa no mês de R$ 2,5 milhões. Esse valor é quando você pega o parcelamento das dívidas que fizemos, entre as outras despesas. Hoje o clube tem todas as certidões dos entes federativos. Esse valor é o mínimo necessário para o clube sobreviver. Estamos hoje com uma realidade para a Série C. A realidade na Série B melhora bastante, porque passa a ter cota de televisão. Conseguiríamos equilibrar as contas com a receita da segunda divisão. Acreditamos muito que vamos subir, então não pensamos em outra alternativa. A gente vive e conhece a realidade da Série C, com esse esforço imenso que estamos fazendo para manter a instituição.
4 - Atualmente, o clube tem dois débitos de curtíssimo prazo para serem quitados (Boca Jrs e Jordy Caicedo). Como sanar esses débitos e poder inscever em 2023?
O Vitória deve 320 mil dólares referentes ao Boca Jrs, pelo empréstimo de Walter Bou. Conseguimos pagara a dívida referente ao jogador, mas ainda falta pagar o clube que tinha o passe do atleta. E o Vitória ainda deve em torno de 500 mil dólares da dívida com Universidad Católica, que era dono do passe de Caicedo. Parcelamos a dívida com o jogador e estamos pagando, mas do clube ainda não temos recursos. Com relação ao Boca, a punição já chegou e o clube não pode fazer inscrição. Vai valer a partir do ano que vem, porque esse ano não tem mais inscrição para ser feita. Mas já fizemos uma proposta ao Boca Jrs, para darmos 30% do valor e dividirmos o resto. Os recursos são provenientes do patrocínio do Bitci, que tem a plataforma de Token e lançamos para o Vitória. Em duas horas na plataforma, vendemos R$ 2 milhões e o Vitória tem direito a 50%. Quanto a dívida com o Universidad Católica, ainda não fomos punidos, mas estamos trabalhando para que essa punição chegue.
5 - Dentro dessa situação das contratações, o senhor já declarou em outras oportunidades que o contexto que assumiu o clube, com o prazo para contratar antes do transfer-ban da Fifa, prejudicou o planejamento para a temporada. Com a possibilidade de isso tornar a acontecer, quais as experiências de 2021 que você não gostaria de repetir em 2022?
Já recebemos o clube punido. Quando estamos nessa situação, não tem muito como planejar o elenco. O grande problema no início do Baianão foi esse, tivemos 14 dias apenas para inscrever atletas e, por conta disso, houveram erros e contratações que não eram para serem feitas, mas foi decorrente deste contexto. O que precisamos fazer é seguir levantando recursos para pagar as punições que foram herdadas das gestões anteriores. A diferença hoje, pelo menos, é que já temos uma comissão técnica e uma base de jogadores. Se eu for eleito, o treinador é esse (João Burse) o diretor é esse (Edgard Montemor) e a comissão é essa. Então fica mais fácil. Temos um elenco, uma base para melhorarmos na próxima temporada.
6 - Qual a sua posição em relação a composição de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Esse modelo é algo que o senhor estuda para os próximos anos, caso seja eleito?
A SAF é uma tendência para todo o futebol mundial, mas, antes da SAF, precisamos reestruturar o clube. Todas essas ações que estamos fazendo de equacionamento das finanças e saneamento fiscal... Tudo isso valoriza a instituição. O clube está na Série C e, por estar nessa situação, a marca está desvalorizada. Precisamos que o Vitória volte à Série B ou A. Apenas assim, poderemos iniciar uma conversa com o conselho e os sócios, e ver se o caminho será a SAF.
7 - Falando em projetos, uma das grandes marcas do Vitória, sem sombra de dúvidas, é a base do clube. Como você enxerga a 'Fábrica de Talentos' rubro-negra e quais mudanças gostaria de poder realizar sendo presidente?
Não podemos falar em base sem as condições mínimas. Cheguei com bolsa auxílio atrasada e condições precárias. Precisamos também melhorar o nível da base. Quando assumi, o Vitória tinha base a partir do sub-13, hoje temos a partir do sub-9 e vai até o sub-20. Até a refeição hoje é mais adequada, com nutricionista específico para a base, podendo ter condições iguais a outros grandes clubes. Voltamos a fazer peneiras, aumentamos o quadro de olheiros. Ainda queremos fazer cinco núcleos de base do clube nas cinco maiores cidades da Bahia. Outro projeto é patentear a base, fazendo convênio com as prefeituras e que possamos expandir a marca do Vitória. Acredito muita nas divisões de base. Existem duas soluções para o clube sair dessa situação, a torcida, que tem abraçado nos últimos jogos, e as divisões de base.
8 - Com o senhor na presidência, o Vitória anunciou o retorno do basquete, do futebol feminino e a criação da equipe de futevôlei. Qual a importância das demais modalidades para o clube? Existem mais novidades para serem implementadas?
A instituição é muito grande. Como dizem os torcedores, o Vitória é colossal. O clube foi criado com o remo e ele estava acabado, reformulamos a modalidade e voltamos a ser campeão. O basquete é uma tradição do clube e trouxemos de volta. O futebol feminino também. No futevôlei, que criamos recentemente, já estamos na liga nacional, com transmissão no Sportv e na Globo. Isso tudo é importante porque agrada o patrocinador, por conta da visibilidade, além de mostrar o tamanho do clube. Estamos ajustando um convênio com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para termos modalidades em todas as nossas áreas esportivas, essa é a ideia e está bastante avançado. Trouxemos e equipamos a TV Vitória para que ela seja nosso maior canal de divulgação, transmitindo todas as categorias de base do clube e o basquete.
9 - Alguns dos seus concorrentes alegam que o senhor não presidirá o clube, caso ACM Neto seja eleito governador. O senhor tem algo que possa falar acerca dessas acusações?
Tenho, tenho sim. Isso é um único concorrente e esse cara é prefeito de uma cidade no interior. Ele quer ser presidente do Conselho do clube. Ou seja, quer presidir por correspondência. Veja que se ele amasse realmente o clube, renunciaria ao cargo de prefeito. Enquanto isso, eu larguei a secretaria de Cultura e Turismo para me dedicar ao Vitória. Então se eu for eleito, irei continuar pelo tempo do meu mandato, sem nenhum risco de eu renunciar.
10 - Qual recado que você deixa para o torcedor do Vitória para os próximos anos em caso de vitória nas eleições?
Primeiro a gente precisa que o torcedor vá para o estádio no domingo. É o jogo mais importante dos últimos sete anos. Tem sete anos que o Vitória não disputa um acesso e vamos precisar muito desse apoio para subirmos à Série B. Agora, se eu me reeleger, eu tenho uma série de projetos. No entanto, o mais importante é voltarmos de forma forte para a Série A. Eu tenho três anos para conseguir levar o clube de volta à Série A e nunca mais sair de lá. Apenas assim, conseguiremos buscar horizontes maiores.
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