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Ícone de política no futebol, Sócrates é lembrado por torcidas 10 anos após sua morte

Publicado quarta-feira, 01 de dezembro de 2021 às 12:09 h | Atualizado em 01/12/2021, 12:25 | Autor: Lucas Franco
Sócrates fez parte do movimento "Democracia Corinthiana" I Imagem: Reprodução
Sócrates fez parte do movimento "Democracia Corinthiana" I Imagem: Reprodução -

Neste sábado, 4, completam-se dez anos da morte de Sócrates Brasileiro, ídolo do Corinthians e ícone de posicionamento político no futebol brasileiro. O legado do ex-meia, que também foi médico, transcendeu o clubismo e provoca admiração em torcidas antifascistas (chamadas de antifas) em todo o país, inclusive em Salvador.

“Não apenas nós, torcedores do Bahia, que também lutamos pela democracia por aqui, mas todos os torcedores progressistas o têm como uma das maiores referências quando o tema é futebol e luta de classes”, disse um dos fundadores da Bahia Antifa, Bruno Tito.

Os rubro-negros concordam. “Todos os atletas que já estiveram nesse espaço de contestação, principalmente na época da Ditadura Militar, merecem ser lembrados por esses feitos”, escreveu a Brigada Marighella (antifa rubro-negra) através do seu porta-voz, que preferiu não se identificar.

Sócrates fez parte, na década de 1980, de um movimento chamado "Democracia Corinthiana", que tinha como uma de suas principais bandeiras o fim da ditadura militar no Brasil. Na ocasião, o clube paulista passou a ser gerido de uma forma que dava aos jogadores e funcionários do clube o poder de voto em decisões do dia a dia, que iam de escalação a regras internas da instituição.

Tanto a Bahia Antifa como a Brigada Marighella, que atuam juntas em protestos contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), foram fundadas depois da morte de Sócrates. Para seus membros, não é fácil lidar com a escassez de atletas que se posicionem do lado esquerdo do espectro político.

“Em 2018, vimos lamentavelmente o meia Yago reverenciar Bolsonaro em um jogo em que ele [Bolsonaro] estava torcendo contra o nosso clube e em que o Vitória já estava rebaixado [Palmeiras-3x2-Vitória, em 02/12/18, no Allianz Parque, em São Paulo]. Isso com certeza não condiz com o perfil da torcida rubro-negra, que por ter um caráter bastante popular, é por si só uma oposição a tudo que esse governo prega”.

Representantes da Brigada Marighella, no entanto, entendem que o clube, no passado e no presente, tem representantes das pautas defendidas pelo grupo. “Recentemente, vimos atletas como Petkovic, que enquanto jogador rubro-negro era até uma referência na época falando sobre questões como a Guerra Civil Iugoslava, ou também Marinho, que atualmente tem ganhado destaque com falas importantes contra o racismo. O nosso capitão Wallace é uma figura que já leu inclusive a biografia de Carlos Marighella”, contextualiza.

Do lado tricolor, Bruno Tito não destaca um jogador do clube da atualidade, mas entende que os posicionamentos institucionais e gestos de jogadores têm colaborado para passar uma mensagem.

“Foi muito importante ver os jogadores ajoelhados e com os punhos erguidos em protesto contra o racismo no último jogo [na Fonte Nova]. Quando falamos de posicionamento de clubes, o Bahia é destaque no Brasil e no mundo, por conta da sua política permanente de ações afirmativas. Esse posicionamento é de suma importância, principalmente num contexto de avanço do conservadorismo durante o Governo Bolsonaro”, disse Bruno Tito, que além de fazer parte da direção da Bahia Antifa, é conselheiro e secretário do Conselho Deliberativo do Bahia.

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