Maior time de todos os tempos, a Seleção do tri de 1970 marcou história | A TARDE
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Maior time de todos os tempos, a Seleção do tri de 1970 marcou história

Publicado domingo, 21 de junho de 2020 às 06:00 h | Atualizado em 21/06/2020, 08:31 | Autor: Rafael Teles
“A taça agora é brasileira”, escreveu o A TARDE | Foto: Arquivo A TARDE
“A taça agora é brasileira”, escreveu o A TARDE | Foto: Arquivo A TARDE -

Há 50 anos acontecia a maior final da história do futebol. Em campo o Brasil tinha Pelé, Jairzinho, Gérson e outros, no time que até hoje é considerado por muitos o maior de todos os tempos. Mas na primeira Copa transmitida pela TV, ao vivo, para todo o país, não foram só os craques nem o 4 a 1 para cima da Itália que eternizaram aquela decisão. O que faz do Estádio Azteca, no México, o palco da maior final da história é o que estava em disputa.

Lá em 1928, quando ficou combinado que o primeiro país a vencer a Copa do Mundo por três vezes ficaria em definitivo com a Taça Jules Rimet, ninguém no Congresso da Fifa deve ter imaginado que esse dia chegaria cercado de tanta expectativa.

Por 21 vezes dois países entraram em campo com a ambição de vencer a Copa do Mundo. Mas só em 70 as duas seleções disputavam também o direito de ficar em definitivo com a taça. Brasil e Itália eram bicampeões quando se colocaram como rivais no México.

Triunfar naquele jogo significava para os dois lados não só ganhar o torneio, mas se consolidar como o maior vencedor de Copas do Mundo e ainda reivindicar a taça para si.

No dia seguinte ao 4 a 1, o A TARDE chamou a Jules Rimet de “símbolo da supremacia do nosso futebol”, e disse que ela agora tinha “passaporte brasileiro irrevogável”. O tempo, no entanto, tratou de mostrar que o periódico estava equivocado.

Isso porque em 1983 a taça foi roubada do prédio da CBF, no Rio de Janeiro, e derretida. Assim, os quase 4 kg de ouro que um dia já foram a Jules Rimet, hoje podem estar em qualquer lugar, inclusive fora do Brasil.

Início conturbado

Problemas com a comissão técnica, com alguns jogadores e até mesmo com o presidente da época, o General Emílio Garrastazu Médici, derrubaram João Saldanha do posto de treinador da Seleção apenas 78 dias antes da Canarinho estrear na Copa. Até hoje há quem diga que o último fator foi o decisivo para a mudança de treinador. Afinal de contas, como poderia um comunista confesso comandar a Amarelinha em plena ditadura militar?

Certo é que, com a saída de Saldanha, as portas foram abertas para Mário Jorge Lobo Zagallo. Campeão como jogador em 1958 e 1962, Zagallo se tornou o primeiro a conseguir o feito também como técnico. Anos depois, Beckenbauer (Alemanha, 1990) e Deschamps (França, 2018) igualariam o brasileiro ao serem campeões como treinadores tendo erguido a taça antes durante suas carreiras de atleta.

A mudança de técnico não alterou o “Planejamento México”. Depois de sofrer fisicamente na fraca campanha da Copa de 1966, a delegação brasileira estava amparada em uma “preparação científica” para que os jogadores chegassem ao Mundial no auge de seus condicionamentos físicos.

A viagem para o país que recebeu a Copa de 70 aconteceu um mês antes da estreia. Com treinos e amistosos na altitude mexicana, a Seleção conseguiu se sobressair fisicamente aos adversários quando a bola rolou de forma definitiva na competição.

Camisas 10

Sob o comando de Zagallo, o Brasil de 70 ficou famoso por ser um time de camisas 10. Gérson (São Paulo), Rivellino (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Tostão (Cruzeiro) e Pelé (Santos) usavam o número em seus respectivos clubes. Na Seleção, a dúvida não era para saber quem ficaria com a mítica camisa, mas como distribuir os craques em campo.

O mais impactado foi Tostão, que vestiu o número 9 e se sacrificou na função de abrir espaço para os companheiros de ataque. O jogador foi de fato o menos brilhante dos ‘camisas 10’ brasileiros.

Um pouco atrás de Tostão, como peça central no esquema ofensivo, estava Pelé com a camisa 10 de fato. O Rei tinha o apoio de Jairzinho (7) pela direita e Rivellino (11) pela esquerda. Com a 8, Gerson fazia o papel de armador. Assim a Canarinho desfilou por gramados mexicanos e emplacou seis vitórias em seis jogos no caminho ao tri.

Espetáculo

Quase todos os 19 gols marcados pelo Brasil em solo mexicano tiveram algo de espetacular. Parecia que havia um combinado entre os jogadores: “Nessa Copa só vale golaço”. A estreia contra a Tchecoslováquia é a representação desse ‘acordo’.

Depois de sair atrás do placar, Rivellino empatou com um chutaço em cobrança de falta. Na sequência, Gérson entrou em ação com seus lançamentos que pareciam teleguiados. No primeiro, Pelé dominou no peito com uma invejável facilidade e chutou de forma indefensável. Mais tarde Jairzinho teve a frieza de encobrir o goleiro antes de balançar as redes. O camisa 7 fechou o placar de 4 a 1 ao driblar três marcadores e chutar cruzado no canto do arqueiro.

Esse jogo ainda ficou marcado pelo “gol que Pelé não fez”, quando o camisa 10 tentou, do meio de campo, encobrir o goleiro adversário. Em 1970, o A TARDE contou assim o lance: “(Pelé) quase marca o gol mais sensacional, quando, num relance, percebeu, do meio de campo, que o arqueiro Viktor estava adiantado. Foi um momento de intensa emoção, porque a bola ia para a meta e o arqueiro retrocedia aflito. Por bem poucos centímetros Guadalajara perdeu a oportunidade de ver um gol histórico”.

A primeira fase teve ainda vitória por 1 a 0 contra a Inglaterra, atual campeã do mundo, em mais um jogo que ficou marcado por uma bola que não balançou as redes. Gordon Banks fez a “defesa do século” no “jogo do século” ao espalmar de forma incrível uma cabeçada de Pelé.

Na sequência, o Brasil venceu a Romênia por 3 a 2, e nas quartas de final despachou o Peru, por 4 a 2. A penúltima vítima foi o Uruguai, superado por 3 a 1 após 90 minutos de forte marcação e muitas faltas. A mais famosa delas sofrida por Pelé, em lance que, na verdade, foi o camisa 10 quem agrediu o adversário. O Rei disparava em direção à linha de fundo e, quando percebeu a chegada do marcador, que o caçou durante todo o jogo, aplicou uma cotovelada e abusou da malandragem ao cair para a frente. O árbitro foi na dele e marcou infração a favor da Seleção.

O título

A final contra a Itália foi a consagração de uma equipe que dominou a Copa do Mundo e que teve seu ápice transformado em gol pelo capitão Carlos Alberto Torres, aos 42 minutos do segundo tempo, diante de 107.412 pessoas presentes no Estádio Azteca.

A jogada começou com uma recuperação de bola de Tostão, o centroavante, no campo de defesa. Depois a redonda passou por seis jogadores de verde e amarelo até o ‘Capita’ receber passe primoroso de Pelé e acertar um balaço.

Além da jogada com a marca da coletividade, o A TARDE publicado após o tricampeonato chamou atenção para a “maravilhosa capacidade individual dos brasileiros”.

Assim como fez nos outros cinco jogos, Jairzinho, o Furacão da Copa, deixou o dele na final. Gérson também balançou as redes da Itália.

A partida teve ainda uma atuação de gala de Pelé, eleito melhor jogador daquele Mundial. O Rei se despediu de Copas do Mundo com um gol e duas assistências. O título conquistado em 1970 foi o terceiro do camisa 10, feito ainda não igualado por nenhum atleta.

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