ESPORTES
Médico com lesão medular garante vaga paralímpica no remo

Por Juliana Lisboa

Quando Renê Pereira teve uma lesão medular, em 2006, que lhe restringiu os movimentos das pernas, resolveu colocar em prática o sonho que tinha adormecido desde que era adolescente: ser atleta profissional.
Médico por profissão, ele procurou inicialmente a natação como tratamento. Logo depois, decidiu investir como atleta. Até conseguiu uma medalha de bronze no campeonato Norte-Nordeste de 2007. Mas percebeu que não era onde ele deveria estar. Pelo seu biotipo, viu que se daria melhor no remo adaptado.
As previsões estavam corretas: em 2012, ano em que começou a competir profissionalmente, projetou que iria participar dos Jogos Paralímpicos do Rio - já que não teria tempo para os de Londres - e traçou metas para isso. A primeira foi se tornar o número 1 do país. A segunda ele conquistou na semana passada, em Chambery, na França, ao vencer a final B da categoria ASM do Mundial de Remo e garantir a vaga paralímpica.
"A sensação foi de que todo meu esforço valeu a pena, porque não é fácil. É um esporte que não conta com qualquer tipo de apoio. Não vou disputar a Paralimpíada de qualquer jeito, quero brigar por medalha. Dou o meu melhor, mas falta muita estrutura aqui", admite.
Autopatrocínio
Pereira, que é atleta do clube São Salvador, só agora conseguiu patrocínio do Faz Atleta. Antes disso, se virava apenas com a Bolsa Atleta estadual, no valor de R$ 960 mensais. Agora que conquistou a vaga olímpica, a Confederação Brasileira de Remo (CBR) prometeu entrar com o pedido para a Bolsa Pódio, que passaria a valer no ano que vem.
"Comprei um simulador de remo no ano passado para que eu não fique sem treinar quando não posso ir à Ribeira. E desde então consegui resultados mais expressivos. Aos poucos, consegui comprar mais equipamentos, mas é complicado, porque é tudo muito caro, ainda mais os adaptados. Tudo é diferente, a braçadeira, tem cordas... e tudo isso envolve custos", desabafa.
Para seguir melhorando, Pereira continua com a carreira de médico - residente em psiquiatria, ele equilibra dois treinos diários com plantões em hospitais. O dinheiro também serve para manter a família: ele é casado e tem um filho de seis anos. Mesmo com as dificuldades, o atleta de 35 anos se considera realizado. "Antes da lesão medular eu joguei tênis, fui faixa preta de karatê, joguei bola, mas achei que faltava alguma coisa. E foi quando eu tive a lesão que eu consegui preencher isso".
Ano que vem, quando a doença completa dez anos, Renê vai comemorar realizando o sonho de representar seu país na Paralimpíada. E, se suas previsões se mostrarem corretas mais uma vez, ainda volta para casa com medalha.
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