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Médicos do futebol detalham como salvar vidas de atletas em caso de mal súbito

Por Daniel Genonadio

19/06/2021 - 8:00 h | Atualizada em 19/06/2021 - 9:04
Meia Eriksen caiu desacordado e precisou ser reanimado em jogo da Uerocopa | Foto: Jonathan Nackstrand | AFP | POOL
Meia Eriksen caiu desacordado e precisou ser reanimado em jogo da Uerocopa | Foto: Jonathan Nackstrand | AFP | POOL -

Durante a partida entre Dinamarca e Finlândia no último sábado, 12, os fãs de futebol acompanharam apreensivos enquanto o famoso meia dinamarquês Christian Eriksen precisou ser ressucitado após sofrer um mal súbito e cair em campo desacordado.

Nos, aproximadamente, 15 minutos em que Eriksen foi atendido pelos médicos da Seleção Dinamarquesa e paramédicos designados para a partida, o público questionou os protocolos da UEFA e a utilização da ambulância como resgate. O meia saiu de campo em uma maca e só foi tranferido para o hospital minutos depois.

Mas o que é feito se um jogador sofrer algo parecido em uma partida realizada no Brasil? Quais os protocolos de atendimento? Existe instruções e treinamento para salvar essa vida? Para responder essas e outras questões, o Portal A TARDE conversou com o Presidente da Comissão Nacional de Médicos do Futebol da CBF (CNMF/CBF) Dr. Jorge Pagura, que apontou a qualificação profissional como o principal fator para salvar vidas em casos de possíveis incidentes.

"Em linhas gerais, realmente a gente tem um cuidado muito grande em cumprir o protocolo médico, e para isso buscamos a qualificação dos médicos. Tivemos em 2019, o último curso de educação continuada (é anual, mas foi cancelado em 2020 devido à pandemia) para todos os médicos do futebol, todos bancados pela CBF. Recebemos eles para dois dias de atualização e fazemos demonstração, sessões práticas, workshops com essa parte de ressucitação nas paradas cardíacas com bonecos monitorizados, para que eles possam prestar o atendimento adequado. No Brasil temos jogos de Série A, B, C, D, feminino, sub-20, aspirantes, entre outros. Então por isso que nós, nos últimos seis anos, temos os cursos, e a parada do tipo morte súbita é sempre um fator que a gente coloca", disse Pagura.

O presidente do CNMF/CBF também apontou o Desfribilador Automatizado Externo (DEA) como o principal equipamento para ressucitação. É obrigatório que cada equipe em qualquer jogo organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) conte com ao menos um.

"Existe no nosso regulamento a obrigatoriedade de ter o DEA. E a obrigatoriedade pelo regulamento de que as equipes tenham o DEA e não utilizem o DEA da ambulância, esse somente no último caso. A ambulância fica fora do local, no mínimo, duas ambulâncias, não há jogo sem ambulâncias. Em locais onde usam uma ambulância, se a ambulância sai, imediatamente para o jogo e espera a reposição", explicou.

Diferente dos jogos da FIFA e da UEFA, as partidas organizadas pela CBF não contam com a obrigatoriedade de socorristas ou paramédicos, com os primeiros socorros ficando sob responsabilidade de médicos do clube ou das ambulâncias que estejam disponíveis. Jorge Pagura detalhou como o médico deve proceder durante o primeiro atendimento.

"Quando chega o atendimento imediato, o importante é ter mais de uma pessoa para ajudar. Por isso que também é importante a ambulância, porque a ambulância pode entrar e o próprio pessoal auxiliar o médico que está realizado o atendimento. Nós não temos socorristas ou paramédicos, por isso que é obrigatório qualquer clube entrar no campo com médico. Isso está institucionalizado. Então, não pode ser só um médico para dois times, não tem isso, não permitimos", falou.

O Brasil já chorou a perda de um atleta em campo. Em 2004, o zagueiro Serginho, do São Caetano morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória, no Morumbi. Na época, não houve uso do DEA e o jogador não retornou após a massagem cardíaca. Segundo Jorge Pagura, o incidente serviu para CBF aprimorar os protocolos de atendimento emergencial das partidas realizadas no país.

"Aquilo foi um alerta, serviu pra aprimorar os protocolos. Infelizmente às vezes você aprende mais no erro do que no acerto. O ideal é que você aprenda com as coisas boas, mas sem dúvida que ele foi um marco porque perdemos um atleta em campo, exercendo sua profissão. Qualquer vida é importante, mas é altamente traumático além de tudo", contou o presidente do CNMF/CBF.

Imagem ilustrativa da imagem Médicos do futebol detalham como salvar vidas de atletas em caso de mal súbito
| Foto: Lucas Figueiredo | CBF
CNMF/CBF promove cursos anuais para os médicos que atuam no futebol brasileiro | Foto:Lucas Figueiredo | CBF

Casos em 2021

Pouco frequentes, os casos de parada cardíaca entre jogadores de futebol chamam a atenção. Somente em 2021, além de Eriksen, contra a Finlândia, o brasileiro Alex Apolinário também teve um mal súbito em partida disputada pela terceira divisão de Portugal, em janeiro deste ano, mas infelizmente com menos sorte. Apolinário chegou a ser estabilizado e tranferido para um hospital, mas teve morte cerebral.

Por isso, a questão cardíaca é hoje a principal preocupação do CNMF/CBF, já que causa risco de morte se não for resolvida em outros minutos. A comissão também tem protocolos específicos para casos de concussão e lesões ortopédicas graves. Além disso, de acordo com Jorge Pagura, os casos recentes acendem um alerta para o aprimoramento dos protocolos.

Para o presidente do CNMF/CBF, os casos de mal súbito em um ano de calendário apertado após meses de paralisação do futebol devido a pandemia não podem ser considerados um indício de que o excesso de jogos influencie em problemas cardiovasculares dos jogadores de futebol.

"Para isso temos que fazer uma boa avaliação estatística e a gente teria que responder muito mais com base científica. Com a sequência de jogos é muito mais fácil o atleta ter outros tipos de lesão muscular do que problemas cardiológicos. Quando não jogam, eles tão sendo submetidos a esforços praticamente diários da mesma forma. Eles são muito bem preparados", opinou Pagura.

Exames pós-covid em atletas

A covid-19 impôs uma nova realidade ao futebol brasileiro. Estádios vazios, testes constantes e... jogadores infectados. Somente na última Série A, de acordo com um estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 302 jogadores testaram positivo para a doença, o que representa 48% dos atletas inscritos no campeonato.

Desde o início dos campeonatos nacionais válidos pelo ano de 2020, a CBF exige que os clubes apresentem resultados de exames específicos após a infecção de um atleta por covid-19. Entre eles, exames voltados para a saúde do coração.

"Hoje a gente tem tomado muitos cuidados. Há necessidade de ficar atento a miocardiopatia pós-covid. Para um atleta retornar depois da covid, a gente exige um atestado médico e põe alguns exames que a gente sugere de competência cardiológicas e pulmonares. Isso, a gente já tem desde o ano passado como diretriz", revelou Jorge Pagura.

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| Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia
Dr. Luiz Sapucaia, chefe do departamento médico do Bahia | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia

Cuidado dos clubes

A reportagem do Portal A TARDE buscou informações a respeito dos protocolos de saúde dos dois maiores clubes baianos. O Vitória, no entanto, não deu retorno aos questionamentos.

O Bahia, por sua vez, informou que conta com oito médicos no quadro divididos entre profissional, divisão de base e futebol feminino. O clube não tem um cardiologista na equipe, mas alegou ter o apoio e acompanhamento médico de um plano de saúde.

De acordo com o coordenador do departamento médico do clube, Dr. Luiz Sapucaia, todas as atividades no CT Evaristo de Macedo, a Cidade Tricolor, são acompanhadas por um profissional médico, todos com o treinamento para o uso do DEA, para utilização em caso de necessidade.

"Durante os jogos é o mesmo protocolo utilizado por todos os médicos, em todos os clubes, todos nós levamos juntos o DEA. Nos acompanha em todos os jogos, durante o tempo integral, no campo, nos hotéis, nos transportes tanto aéreo quanto terrestre. Nós temos nos campos os protocolos da CBF com UTI móvel nos estádios e os médicos acompanham e seguem todo o protocolo no caso de uma emergência do tipo", disse Sapucaia.

Para o coordenador, casos como o do meia Eriksen são praticamente indetectáveis e manter os exames em dia é a melhor forma de prevenção.

"Coisas desse tipo, não são previsíveis, né? A morte súbita, ela pode acontecer em atletas de alto rendimento e não são previsíveis. Minimizar esses riscos é o que nós já fazemos com os exames regulares, acompanhamento médico por todos os atletas em tempo integral. E em caso de qualquer desconforto que possa nos levar a uma suspeita de qualquer patologia cardíaca, imediatamente nós os encaminhamos aos médicos especialistas, no caso os cardiologistas", explicou.

Eriksen recuperado

Após o enorme susto que passou no último sábado, Christian Eriksen se recuperou bem e recebeu alta do hospital após quase uma semana internado. O dinamarquês, passou por uma bateria de exames e logo depois por uma cirurgia para implantação de um cadiodesfibrilador implantável (CDI), que deverá impedir um outro mal súbito.

"Obrigado a todos pelas saudações. Foi incrível ver e sentir tudo isso. A cirurgia foi bem e estou bem, considerando as circunstâncias", falou o jogador.

Eriksen agora segue sua recuperação em casa, mas ainda não sabe se poderá voltar a atuar como jogador de futebol.

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