PARIS-2024
'Neta Canoa': baiana é 1ª brasileira a se classificar na canoagem
Valdenice Conceição, de 34 anos, é de Itacaré vai aos Jogos de Paris
Por Larissa Falcão | Portal Massa!
Fazendo história, a canoísta baiana Valdenice Conceição, de 34 anos, conhecida como ‘Neta Canoa’, se tornou a primeira mulher brasileira a se classificar para os Jogos Olímpicos na canoagem feminina, modalidade que passou a existir na edição de 2020 das Olimpíadas.
Natural de Itacaré, na Bahia, a canoísta descobriu o amor pela modalidade desde muito cedo, ainda quando ajudava os pais, que são pescadores, a conduzir a canoa da família em dia de pesca. Em entrevista exclusiva ao Grupo A TARDE, Neta contou toda a sua história com a canoagem, que a levou à tão sonhada classificação olímpica.
“Foi amor à primeira vista. Eu já tinha essa familiarização com água, com canoa nativa. Minha mãe saía para pescar e acabava me levando, então a gente já nasceu praticamente na água. Quando minha mãe lavava roupa na cachoeira, todo final de semana a gente ia para a cachoeira de canoa, e eu já remando”, contou ao A TARDE.
A menina que ajudava a família nas atividades no rio, em Itacaré, passou a levar a canoagem a sério e, em menos de um mês, estará remando nas águas do Rio Sena, em Paris, na França, sede dos Jogos Olímpicos deste ano.
“Pra mim é muito gratificante, muito honroso, porque eu vinha lutando desde que eu me conheci por gente. Graças a Deus, no Pan-americano veio a classificação. Fui honrada com essa vaga e vou poder representar o Brasil e a Bahia, numa primeira edição de Jogos Olímpicos da minha vida. Vou estar representando todas as mulheres brasileiras, todas as mulheres baianas. Espero que um dia elas possam estar pensando neste feito também”, comemorou Neta.
De irmão para irmã
O amor pela canoagem foi de geração para geração. O grande responsável por apresentar a canoagem como um esporte a Valdenice foi seu próprio irmão, o canoísta Diego Nascimento, atleta da Associação de Canoagem de Itacaré, que foi medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cáli, em 2021.
Neta conta que viu em seu irmão um motivo para almejar um dia estar em uma edição da Olimpíada, após ver o carinho que ele recebeu da cidade, quando competiu pela primeira vez em um Pan-Americano.
“Eu almejei isso depois de 2007, quando meu irmão foi para os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, e foi medalhista de prata e de bronze. Aquilo ali me impactou tanto, porque impactou toda a cidade. Teve telão na rua, todo mundo ficou assistindo, gritando, e toda a cidade reconheceu que foi um momento único e histórico para a gente da família. Eu queria sentir aquilo também, para chegar e representar bem o Brasil e também a Bahia, a minha cidade, em um Pan-Americano, em uma Olimpíada”, revelou.
A carreira construída por Neta e Diego é motivo de orgulho para a família, que vive uma vida simples. O esporte proporcionou condições melhores para eles. “Para a família, é muito honroso e muito gratificante poder saber que a gente seguiu nossos sonhos e continuou lutando para que possamos dar condições para eles, para as crianças. Poder ajudar, poder mudar nossa história".
Pedras no caminho
Para se tornar a primeira mulher a representar o país na canoagem feminina, em uma Olimpíada, Neta precisou lidar com algumas 'pedras no caminho'. A modalidade, que só foi inclusa a partir dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, não contou com a presença da baiana, que por um erro de logística com sua estratégia, acabou não conseguindo a vaga.
No entanto, a vaga ficou esperando Valdenice, que conseguiu, quatro anos depois, com muita força e dificuldades no caminho, se tornar a primeira do Brasil na categoria.
"A minha vida sempre foi um desafio. Então, eu creio que minha mãe me preparou dessa forma para o mundo, porque nada é fácil, ainda mais para mulheres negras, como eu. A dificuldade ia sempre existir e depois de Tóquio, eu fiquei um pouco chateada, porque eu acreditava que tinha a chance de classificar, mas eu creio que ali foi um ponto pra que eu fosse mais forte. Nunca me deixei abalar e continuei treinando. Suportei mais quatro anos de treinamento, até que me tornei a primeira mulher a representar o Brasil nas Olimpíadas", contou, emocionada.
'Primeira brasileira' atingindo grandes feitos
Valdenice já foi a primeira brasileira a atingir outro grande feito. Nos Jogos Pan-Americanos de 2015, Neta foi a primeira mulher brasileira a subir no pódio da canoagem feminina, ao garantir a medalha de bronze na categoria C1 200 metros.
Ela seguiu fazendo história carregando o nome do país na categoria, e a grande e tão sonhada classificação para os Jogos Olímpicos de 2024 veio abril deste ano, no Pan-Americano de Canoagem Velocidade, em Sarasota, nos Estados Unidos, quando Valdenice levou a melhor na prova do C1 200 metros.
E a canoísta vai por mais, agora em busca de fazer história nas águas do Rio Sena, em Paris. 'Neta Canoa', que foi um apelido criado por sua avó, irá representar o país na modalidade, que será competida entre os dias 6 e 10 de agosto. "Conto com a torcida de todos, vou fazer de tudo para dar meu máximo e fazer uma boa prova, em busca dessa tão sonhada medalha que eu almejei ao longo da minha carreira", completou, ao A TARDE.
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