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"O lado B da Máfia do Apito": escândalo de arbitragem completa 15 anos

Publicado quarta-feira, 23 de setembro de 2020 às 21:02 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Alex Torres*
Muitos jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon não foram remarcados | Foto: Reprodução
Muitos jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon não foram remarcados | Foto: Reprodução -

Há exatos 15 anos, no dia 23 de setembro de 2005, a capa da revista Veja escancarava um dos maiores escândalos já ocorridos dentro do futebol brasileiro: a Máfia do Apito. Assinado pelo, até então, repórter André Rizek, e a editora Thais Oyama, a matéria trazia como os principais personagens os árbitros Paulo José Danelon e Edilson Pereira de Carvalho.

A dupla, sob orientação do empresário Nagib Fayab, mais conhecido como 'Gibão', haviam apitado diversos jogos de competições diferentes, incluindo: Libertadores, Sul-Americana, Paulistão, além dos Brasileirões Séries A e B. O desfecho da história, muitos já conhecem. A principal divisão do futebol nacional teve 11 jogos anulados por suspeita de manipulação e o Corinthians terminou 'beneficiado' após a remarcação dos confrontos.

As demais partidas de outros torneios permaneceram da mesma forma. Um dos principais motivos, alegados na época pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), era de que os mesmos já haviam sido encerrados ou estavam em uma fase mais avançada, o que daria muito trabalho e seria inviável para remarcar e ver quem seriam as novas equipes classificadas.

No fim das contas, foi Edilson Pereira de Carvalho que mais estampou os noticiários da época. Responsável por apitar os 11 jogos da Série A, o juiz teve sua imagem diretamente relacionada ao título nacional conquistado naquele ano pelo Alvinegro paulista. No entanto, alguns jogos apitados por Danelon tiveram consequências ainda maiores para outras equipes brasileiras.

Vitória na Série C

A decisão do STJD em não anular partidas de outras competições, implicou diretamente em prejuízo para o Vitória, que disputava a Segundona e não vivia um bom momento naquela temporada. Ao fim da primeira fase da competição, o Leão era a primeira equipe dentro do Z-6 e acabou rebaixado, junto com o Bahia, para a terceira divisão do Brasileirão no ano seguinte.

Dentre os jogos da Série B, estavam quatro que tiveram o apito de Paulo José Danelon. Mesmo com nenhum desses tendo a participação direta do Rubro-Negro baiano, três duelos que envolviam o Paulista de Jundiaí (contra o Guarani) e o Ituano (contra Portuguesa e Marília) influenciaram indiretamente na parte debaixo da tabela.

Ambas equipes venceram seus jogos e terminaram acima do Vitória no certame. Caso os jogos fossem remarcados, os dois times ficariam atrás por dois pontos e empurrariam o Leão para o 15º lugar da classificação e com chances reais de permanência na Série B para o ano seguinte, o que não ocorreu e fez o time baiano amargar a Terceirona pela primeira vez em sua história.

Imagem ilustrativa da imagem "O lado B da Máfia do Apito": escândalo de arbitragem completa 15 anos
Tabela do Brasileirão Série B de 2005 | Foto: Reprodução

A sequência rubro-negra é bastante conhecida. O time disputou a Série C em 2006 e, logo no primeiro ano, conseguiu o acesso após ficar atrás apenas do Criciúma. De volta à Série B, em 2007, a equipe conseguiu mais um acesso, dessa vez em quarto lugar e voltou rapidamente à elite do futebol nacional em 2008.

Também a frente do Vitória na época do rebaixamento, em 2005, o atual presidente Paulo Carneiro foi procurado pela reportagem, mas preferiu não comentar acerca do assunto.

União São João

Tradicional equipe do interior paulista de Araras, o União São João viveu seus melhores anos durante as décadas de 80 e 90, tendo conseguido dois títulos brasileiros em 1988 (série C) e 1996 (série B), além de revelar grandes jogadores como o lateral-esquerdo da Seleção Brasileira Roberto Carlos.

Diferente do Vitória, a equipe paulista não obteve o mesmo êxito de conseguir se reerguer. Apesar de um bom início de década em 2000, sendo vice-campeã paulista em 2002, a Ararinha viveu o início de sua crise nos anos subsequentes. As diversas partidas apitas por Edilson e Danelon durante o Paulistão de 2005 culminaram em um imbróglio onde o União São João foi rebaixado por um ponto de diferença para o Rio Branco.

Caso as devidas partidas tivessem sido anuladas, União São João e União Barbarense brigariam ponto a ponto pela permanência, inclusive com um confronto direto entre eles que havia sido vencido pela equipe de Santa Bárbara d'Oeste. Outra hipótese também cogitada foi a do não-rebaixamento no estadual naquele ano, mas que logo foi descartada.

Imagem ilustrativa da imagem "O lado B da Máfia do Apito": escândalo de arbitragem completa 15 anos
Tabela do Campeonato Paulista de 2005 | Foto: Reprodução

Após o rebaixamento, o momento da Ararinha, que já não era dos melhores, se complicou ainda mais. Pela Série A2 do estadual, a equipe chegou a avançar à segunda fase algumas vezes, mas sempre ficando pelo caminho. Em 2012 e 2013, após péssimas campanhas, o União São João ainda sofreria dois rebaixamentos em sequência, para a série A3 e Segunda divisão do Campeonato Paulista (última divisão do certame).

Em 2015, através de carta aberta ao seu torcedor, a agremiação resolveu se licenciar da disputa da última divisão paulista e fechou suas portas. Na publicação, Entre os responsáveis pelo trágico fim do União São João, estaria o principal juiz envolvido no escândalo.

"Fomos rebaixados em 2005, da 1ª para a 2ª divisão, naquele fatídico jogo contra o já rebaixado União Barbarense (derrota por 3x1), aqui em Araras, dia 17 de abril. Meses depois veio à tona a Máfia do Apito no futebol paulista e brasileiro. O árbitro daquele jogo, Edilson Pereira de Carvalho, foi o principal envolvido no esquema e responsável por derrubar o União São João de Araras (gol impedido, pênalti e etc.), sem contar as expulsões e o 3º cartão no jogo anterior, contra o Inter de Limeira (derrota de 3x0)", concluiu a diretoria do clube.

*Sob a supervisão do editor Nelson Luis

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