Projeto em Águas Claras transforma a vida de crianças

A força que emana das periferias é fruto de quem acredita nela. Há quase 40 anos, a Talles Boxe tem levado o esporte como ferramenta de transformação para a vida de crianças e adolescentes que encontraram na prática esportiva uma oportunidade.

É o bairro de Águas Claras que abriga o projeto do professor Kidinho, que com o apoio de sua esposa, a professora Rita, e o seu filho Roniel dão conta de cerca de 80 crianças nas aulas de boxe, levando pra elas não só a técnica, mas também uma opção de lazer - um direito que muitas vezes é negado a quem vive nas favelas.

“Isso tudo começou no quintal de minha casa, quando eu ainda tinha 17 anos”, conta o professor, que estendeu as aulas para um espaço maior, cedido por uma igreja no bairro, e vem lutando pelo o que ainda é o seu sonho.

“Eu durmo e acordo pensando no dia em que vai ser num espaço que é meu”, revela.

O projeto é gratuito e cumpre um papel muito importante na vida das crianças e das famílias da comunidade, como explica Roniel. “O esporte de graça, com pessoas sérias, tem muito a acrescentar. O que ensinamos aqui torna essas crianças adultos responsáveis”, disse.

O acolhimento na Talles Boxe ultrapassa as barreiras do esporte, criando um espaço de confiança e conforto para os alunos, cumprindo um papel de suma importância na educação deles. “Aqui nós cobramos um bom comportamento em casa e na escola, nós ouvimos e conversamos coisas com eles que muitas vezes eles não têm a oportunidade de dizer em casa”, conta Rita.

Ao longo desses 40 anos de atividade, Kidinho se doou, e muito, para fazer a Talles Boxe acontecer. “Isso aqui é a minha vida, esses alunos são a minha aposentadoria. Seja só para treinar ou para se tornar um atleta, eles aqui têm a chance de sair do caminho das drogas, de aprender a ter disciplina e compromisso na vida”, ressalta.

Wesley Reis, de 11 anos, acredita que o “boxe é uma coisa que realmente muda a gente”; assim como Juliana Marques, de 10 anos, que sabe que “além de ser bom pra saúde, o boxe é bom para o corpo e para a alma”.

Respeito é uma máxima

“Têm duas coisas que são tudo na minha vida: o boxe e o meu axé”, conta Kidinho. É curioso o fato de que o projeto dele, que professa a sua fé através de uma religião de matriz africana, funciona num espaço dentro de uma igreja católica. Mas basta uma conversa rápida para compreender como isso nunca foi um problema.

“Eu não escondo a minha religião de ninguém. Nós estamos aqui dentro porque não tem preconceito e respeitamos a todos. Eu olho o respeito que eu tenho por eles, eles por mim e a amizade que nós construímos. O meu treino é pra todo mundo porque é o do amor”, defende.