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Sem jogar, ex-craques ainda vivem do futebol

Publicado sábado, 19 de setembro de 2009 às 18:55 h | Atualizado em 19/09/2009, 19:03 | Autor: Diego Adans, do A TARDE

Aos 38 anos, o baiano Robert Silva Almeida acredita que poderia ter prolongado a carreira de jogador de futebol profissional por mais alguns anos. Problemas judiciais com clubes, no entanto, o fizeram antecipar o adeus aos gramados. A aposentadoria deixou saudade para o meia, principalmente dos momentos que considera inesquecíveis na carreira.

Para não se distanciar dos campos e garantir uma renda, Robert aguçou seu lado "garimpeiro" e engatou carreira como empresário de futebol graças aos benefícios da Lei Pelé. Promulgada em 24 de março de 1998, a legislação determinou o fim da lei passe, que determinava o clube como o “senhor” do atleta. A partir de 2001, a relação se estruturou como contrato de trabalho.

O começo de Robert como empresário não foi muito complicado. Tornou-se agente Fifa em 2007, apenas um ano após ser reprovado no primeiro teste. Integrante na lista dos 5.040 empresários com o aval da entidade, Robert percorre o mundo, sobretudo as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, em busca de novos talentos.

Por telefone, ele afirmou à reportagem do ATEC ser presença constante em competições entre garotos. “De Taça São Paulo a torneios de várzea pode ter certeza que estou lá observando”, disse. Na terça-feira, viaja para o Japão. Motivo? A abertura da janela de transferências no continente asiático.

Robert peneira seus clientes em clubes e diz que, no momento, quatro jogadores estão sob seus cuidados. Mas não revela nomes. Da mesma forma como não fala de ganhos com a atividade, precavendo-se dos inúmeros concorrentes.

“Não quero quantidade”, revela. “Quero qualidade. Escolhi esta carreira por conta de decepções. Queria ajudar meus companheiros e fazer o que o cara (empresário) não fazia”, explica de seu escritório no Rio.

Por mês, são 50 DVDs encaminhados ao ex-jogador contendo exibições de candidatos.  “O diferencial no mercado entre empresários é este: quem foi atleta tem um leque grande de contatos. Isso tem me ajudado muito”, ressalta Robert.

Situação semelhante é vivida pelo ex-goleiro Ronaldo Passos, de 48 anos. Campeão brasileiro pelo Bahia, em 1988, ele utiliza sua imagem para “assessorar novos jogadores”, como fez questão de explicar.

O número exato de assessorados, Ronaldo não divulga. A justificativa é um código de ética interno. “Hoje, tenho vários atletas. Dentro e fora da  Bahia. Mas não posso citar todos os nomes”, disse, para depois revelar: “Quem fez o primeiro contrato de Ávine fui eu. Intermediei negociações de Danilo Rios, Bruno César, Rafael Bastos, Josemar. No elenco atual do Bahia, tem o Williams...”

O interesse em atuar na área ocorreu ainda quando era jogador profissional, no final da década de 90. “Nunca precisei de ninguém. Quando eu jogava, resolvia meus problemas. Hoje, tento empregar e orientar meus amigos para que não cometam erros como os que  acontecem com vários atletas”, diz.

Concorrência - No ranking da Fifa, o Brasil é o terceiro país com maior números de empresários de jogadores associados. Ao todo são 316. Destes, 12 são baianos. Além de Robert, há apenas dois outros ex-jogadores que desenvolvem à atividade: Raudinei (44 anos) e Joel Zanata (52).

Zanata, ex-meia e ex-supervisor do Leão já é conhecido nacionalmente pela sua atuação fora das quatro linhas. Entre suas “crias” estão os meias Bida e Marquinhos (Palmeiras).  Ele relatou como iniciou na nova empreitada: “Como já tinha experiência na vida de atleta e de dirigente, virei empresário”.

Eterno ídolo tricolor (fez o gol do título do Bahia sobre o Vitória em 1994), Raudinei convive com árdua rotina da nova profissão. Como os demais, também evitou informar sobre detalhes de sua atividade, comentando que está no ramo desde 2001.

Há 10 anos atuando no ramo, o também agente Fifa, Márcio Rivellino, filho do ex-ídolo corintiano, não teme a concorrência. “Ser apenas ex-jogador não basta. É preciso estudar”, disse ele, que tem 28 jogadores e três técnicos (entre eles, Gallo e Muricy) ligados à sua empresa.

Colaborou Nelson Barros Neto*

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