LONGEVIDADE E RESILIÊNCIA
Travessia Mar Grande-Salvador: Recordistas de participações buscam superação
Recordista feminina em participações, Desirée fez a prova 27 vezes
Por Luiz Teles
Tradicional, bela e desafiadora são provavelmente as três características mais marcantes da Travessia Mar Grande/Salvador, presente no discurso de quase todos os nadadores da prova. Para dois atletas, em especial, esses adjetivos ganham uma dimensão ainda maior e significativa. Recordistas em participações do evento, que neste domingo alcança sua 54ª edição, Desirée Dália, 69, e Renato Barros, 66, voltam a disputar a travessia não apenas para ampliar suas já impressionantes marcas, mas também como um ponto de resiliência em suas vidas, superando recentes cirurgias que puseram em risco a continuidade de suas longevas carreiras no esporte.
Recordista feminina em participações, Desirée fez a prova 27 vezes, sendo campeã em sua categoria em 20 oportunidades. Já Renato cumpriu 30 vezes os 12 km da Praia do Duro, em Itaparica, ao Porto da Barra, em Salvador, e confessou à reportagem que “perdeu a conta” de quantas vezes foi ao pódio. “O mais importante para mim sempre foi chegar bem, me desafiar e estar cercado de pessoas que compartilham comigo os mesmos valores no esporte e na vida”, conta ele, que é formado em educação física e tem há anos uma oficina automotiva (a RM Veículos), cujos clientes são 100% de pessoas ligadas ao mundo da natação.
Já Desirée, economista de formação e que trabalhou no ramo de tecnologia da informação nos anos 1990, largou tudo para abrir sua própria academia de natação, a Dalia Acqua Sport & Fitness, localizada no Costa Azul e que é uma referência no ramo em Salvador. “Tive minha formação, mas sempre, desde criança, fui atleta. Joguei tênis, críquete, fiz hipismo, corrida de rua... até que um dia a natação apareceu e nunca mais parei. Fiz dela a minha vida. Me formei depois em Educação Física porque amo ensinar também. Ainda gosto muito de correr e também faço ciclismo. Sou triatleta! Mas é no nado que mais me encontro”, conta.
Desirée e Renato são amigos de longa data e dividem elogios e conquistas. “Ela é uma pessoa incrível. Todo mundo ama a Desirée”, relata Renato, que por outro lado é carinhosamente chamado pela amiga de ‘Lobo do Mar’. E se repartem com a mesma paixão o amor pelas águas e recordes, eles também compartilharão histórias de superação pessoais nessa 54ª edição da Mar Grande/Salvador. Tanto Renato quanto Desirée passaram por cirurgias recentes e se recuperaram a tempo de treinar para a prova com confiança de finalizá-la.
Superação
Renato Barros sentia fortes dores no ombro por conta de uma calcificação, problema que só seria solucionado com cirurgia, realizada em 2024 e que o fez perder a prova do ano passado. “Não foi uma recuperação fácil e cheguei apensar que talvez não pudesse voltar a nadar, mas o esporte me impulsiona sempre a superar meus limites. Ter sido homenageado no ano passado pela organização e ter trabalhado como guia foi muito motivador. Aos poucos fui ganhando confiança e estou treinando já há 9 meses [na Arena Aquática, em Salvador, com o treinador André Santos]. Voltar a nadar a Mar Grande/Salvador é uma emoção muito grande para mim. Estou muito feliz”.
A história de resiliência de Desirée é ainda mais impressionante. Durante um treino de ciclismo no bairro do Rio Vermelho, em 11 de fevereiro, ela foi assaltada e derrubada da bicicleta. Na queda, teve fraturas no pulso e na clavícula, além de ter levado pontos no ombro e na cabeça. “Foi um trauma muito grande e sentia muita dor. Mas como tudo que faço na vida, tenho muito foco. Meu médico, Dr. Rafael Gusmão, me encorajou demais e disse: ‘acredito que vai voltar a nadar porque é você’. Juntei minhas forças e toda minha resiliência para me dedicar à fisioterapia e alguns meses depois já estava treinando de novo. No ano passado, quando nadei a prova com 68 anos, achava que aquela tinha sido a mais emocionante da minha vida. Agora, tenho certeza que por tudo que passei, será a deste domingo a mais inesquecível”.
Como Renato Barros disse em sua entrevista à reportagem: “É como o Aleixo Belov fala. Tenho que compartilhar minha história, meus esforços e meu conhecimento. Ele fez um belo museu e escreveu livros, enquanto eu sigo nadando e treinando para dar exemplo”. Que seja assim, para ele e Desirée: que sigam quebrando recordes e dividindo suas maravilhosas experiências com o mundo.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes