Crocante e macio, o faláfel pode ser o "pai" do acarajé? | A TARDE
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Crocante e macio, o faláfel pode ser o "pai" do acarajé?

Nascida no Oriente Médio, a iguaria é feita de grão-de-bico, substituída pelos africanos por feijão-fradinho

Publicado sábado, 14 de maio de 2022 às 10:29 h | Atualizado em 14/05/2022, 14:48 | Autor: Isabel Oliveira
O faláfel é um bolinho feito de grão-de-bico
O faláfel é um bolinho feito de grão-de-bico -

O faláfel é um bolinho feito de grão-de-bico
O faláfel é um bolinho feito de grão-de-bico |  Foto: Divulgação/ Farid
 

Na nossa história cultural gastronômica, baseada no azeite de dendê, em que se destacam o acarajé, o vatapá, o caruru, como toda integração de culturas, há iguarias adaptadas dos povos africanos. Isso todo o mundo já sabe em verso e em prosa, na Bahia e pelo Brasil. . 

O acarajé é uma iguaria feita de massa de feijão-fradinho
O acarajé é uma iguaria feita de massa de feijão-fradinho |  Foto: Divulgação
  

Mas muita gente sequer sonha, nem mesmo de longe, que o nosso acarajé pode ter "parentesco", digamos assim, com o faláfel, um bolinho feito de grão-de-bico ou de fava, que tem origem no Oriente Médio, popularmente conhecido como uma iguaria de rua. E aí a história se aprofunda um pouco mais, pois há uma briga sobre quem pariu o faláfel por naquelas plagas. Mas a versão final pode ficar no mundo da disputa dos povos daquela região, muito distante da nossa. 

Vamos ao que realmente interessa e sempre é visto com muita curiosidade por aqueles que passam a conhecer um capítulo curioso envolvendo o acarajé baiano. Isso porque os povos descendentes do Oriente Médio que conhecem a iguaria baiana dizem que o bolinho de grão-de-bico é pai do acarajé! A história é, na verdade, muito interessante e curiosa, contada aqui e acolá, geralmente por descendentes daqueles povos. Quem revela é Marcos Almeida, gastrônomo e chefe de cozinha da rede de restaurantes Farid, especializada em comida árabe, que serve o famoso bolinho.

“Ele é um prato muito popular no Oriente Médio, que se expandiu alcançando a parte ocidental da África, onde entra o povo iorubá, que teve acesso ao faláfel. Este povo fez uma modificação substituindo o grão-de-bico pelo feijão-fradinho. Então, a gente entende que os portugueses colonizaram o Brasil e trouxeram os africanos escravizados, que produziam o faláfel, porém feito com o feijão-fradinho, chamando de acará. Por isso, essa familiaridade entre o faláfel e o acarajé. Por aqui o bolinho de feijão-fradinho também se adequou e passou por um processo, chegando ao formato atual que conhecemos hoje”, conta.

O faláfel é um prato muito popular no mundo do Oriente Médio
O faláfel é um prato muito popular no mundo do Oriente Médio |  Foto: Divulgação/ Farid
 

A narrativa encontra resistência entre alguns especialistas, mas não deixa de ser interessante cruzar algumas informações, como o fato de as invasões árabes, por exemplo, alcançaram diversas regiões da África Ocidental, chegando ao povo iorubá, que serve um bolinho muito parecido com o faláfel, substituindo o grão-de-bico pelo feijão-fradinho. O fato é que foram os iorubás que trouxeram o bolinho, na versão do feijão-fradinho, o acará, para terras brasileiras. 

Quem tratou de relacionar o bolinho de grão-de-bico ao acarajé baiano não se sabe, mas o caso é que os dois bolinhos guardam certa similaridade. São à base de leguminosas - grão-de-bico ou fava e feijão-fradinho - bem como são fritos e têm a textura bem parecida: crocante por fora e macio por dentro

A iguaria guarda  semelhança com o acarajé
A iguaria guarda semelhança com o acarajé |  Foto: Divulgação/ Farid
 

O assunto veio mais uma vez à tona com o Festival Gastronômico do Shopping da Bahia, que acontece até o dia 30 de maio e homenageia Lindinalva de Assis e Jaciara de Jesus, nomes das celebridades baianas Dinha e Cira do Acarajé, que deixaram um grande legado gastronômico e são marcas da Bahia.

A partir das famosas baianas, o festival desafiou seis restaurantes, que criaram pratos exclusivos com os ingredientes presentes no tabuleiro das baianas de acarajé. Então, o restaurante Farid imediatamente adaptou o bolinho de grão-de-bico, feito no local, mas com adequação muito aproximada do acarajé, o “filho pródigo”, diriam os descendentes de árabes.

“Quando o Shopping da Bahia provocou este desafio, então imediatamente relacionamos a proposta ao faláfel, que tem essa familiaridade com o acarajé, e aí comecei a pensar em como fazer para que ele representasse o acarajé da culinária Ocidental, mas ao mesmo tempo a gente homenageasse o tabuleiro baiano. Aí veio essa ideia de fazer alusão ao acarajé com o faláfel”, conta. 

O chefe de cozinha emenda: “Pelo formato dos bolinhos e ao degustar e sentir o sabor, os clientes logo se familiarizam com a lembrança do acarajé”, diz. 

Almeida também provoca e conta como montar essa delícia das “Arábias”. “A gente incluiu uma pasta supergostosa, como o vatapá, uma pasta de grão-de-bico, o homus. Leva alho, sal, tahine, o sumo de limão batido, processado. A pasta é bem leve e gostosa de se comer, abre o apetite porque ela leva sumo de limão, então a acidez abre o apetite, estimula as papilas gustativas. Tentei fazer com que o prato fizesse essa homenagem, numa alusão ao acarajé. Então, a gente usa o bolinho de grão-de-bico, o faláfel, frita, fica bem crocante por fora, por dentro bem macio, recheia com a pasta de homus, faz a vinagrete um pouco mais rica e coloca o camarão fresco, salteado no alho e sal no lugar do camarão seco”, relata.

O faláfel está  participando do Festival Gastronômico do Shopping da Bahia
O faláfel está participando do Festival Gastronômico do Shopping da Bahia |  Foto: Divulgação/ Farid
  

Para homenagear as baianas Dinha e Cira, vamos aproveitar e saber como se faz essa delícia, independente ou não de ser ele o ”pai do acarajé”, como gostam de contar os descentes dos árabes. 

  • O grão-de-bico deve ficar de molho por no mínimo 24 horas
    O grão-de-bico deve ficar de molho por no mínimo 24 horas |
  • A massa deve ser misturada aos temperos em pó
    A massa deve ser misturada aos temperos em pó |
  • Os bolinhos devem ser modelados um a um
    Os bolinhos devem ser modelados um a um |
 

FALÁFEL

Rendimento: aproximadamente 10 unidades

Ingredientes:

150g de grão-de-bico 

12g de alho

24gde salsa

90g de cebola

90g de pimentão vermelho

15g de coentro

15g de gergelim

15g de sal

2g de bicarbonato de sódio 

1g de pimenta branca

1g de páprica picante

3g de cominho 

Modo de preparo:

Deixar o grão-de-bico de molho por no mínimo 24 horas. Escorrer os grãos. Cortar os legumes em cubos médios e processar junto com o grão-de-bico. Por último, misturar a massa com os temperos em pó. Modelar os bolinhos um a um. Fritar em gordura vegetal ou óleo a 180°C.

Validade:

Congelado, 30 dias

Refrigerado, 3 dias

HOMUS

Ingredientes:

150g de grão de bico cozido

20g de sumo de limão

1g alho

2g de sal

17g de tahine

VINAGRETE TRADICIONAL

Ingredientes:

Cebola

Tomate

Cheiro-verde

Sal

Azeite de oliva

CAMARÕES AO ALHO E ÓLEO 

100g de camarão fresco sem cabeça e sem casca.

Refogar no alho e óleo. E colocar três camarões em cada bolinho. 

NOTAS HISTÓRIAS & SABORES

Casa Chálabi oferece experiência ao ar livre
Casa Chálabi oferece experiência ao ar livre |  Foto: Divulgação/ Pasta em Casa
 

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