GASTRONOMIA
Prato feito com sangue de frango ajuda chef a resgatar raízes familiares
Receita de frango ao molho pardo atravessa gerações na casa de uma família de Salvador
Por Aurélio Leal

Na casa de Dona Luzia de Jesus, avó do chef de cozinha Rafael Azevedo, localizada no bairro da Fazenda Grande do Retiro, em Salvador, o aroma que vem da cozinha carrega mais do que temperos, traz lembranças, histórias, saberes e afetos transmitidos entre gerações. Foi ali, entre panelas, risos e memórias, que Rafael reviveu uma das receitas mais simbólicas de sua família, o frango ao molho pardo.
Hoje, profissional da gastronomia, ele conta que cresceu cercado por mulheres que tinham, na culinária, uma forma de expressar amor, identidade e resistência.
“Desde sempre, a culinária esteve presente na minha família. É algo que foi passado de geração em geração pelas mulheres, especialmente pela minha avó, que sempre repassou esse ensinamento”, relembra.
Dona Luzia reforça esse legado com simplicidade e firmeza. “Aprendi a fazer esse frango com minha mãe, meus avós, e fui passando para minhas filhas”, afirma, enquanto acompanha o neto na preparação do prato.
Para Rafael, o frango ao molho pardo é mais do que uma receita caseira, ele simboliza a força da ancestralidade negra e o elo entre o passado e o presente.
A preparação é simples nos ingredientes, mas profunda em significado, leva alho, cebola, pimentão e, como elemento central, o sangue do próprio frango adicionado ao final do cozimento, dando origem ao molho espesso e escuro que dá nome ao prato.
“Não é uma comida sofisticada, mas é uma comida de verdade. Tem história, tem fundamento. É alimento que você não encontra em qualquer lugar”, explica.
Receita marca momento importante
O prato também marca um momento importante da vida do chef. Ainda criança, foi na cozinha da avó que ele provou, pela primeira vez, o frango ao molho pardo e, com ele, percebeu uma conexão profunda com sua identidade.

“Eu, enquanto homem preto, precisei, desde cedo, buscar entender quem eu sou e de onde venho, a culinária me trouxe para a minha realidade, me ajudou a reconectar com a minha ancestralidade. Hoje, trabalho com isso todos os dias e continuo aprendendo com a minha avó, com minha mãe, com minhas tias. Os passos que elas trilharam, hoje eu sigo”, conta.
Ao lado da avó, Rafael refaz o prato e também um caminho de pertencimento e reconhecimento.
No vídeo, disponível no A TARDE Play, ele compartilha o modo de preparo, os bastidores da relação familiar e a importância de manter viva a cultura alimentar herdada de seus ancestrais. Acesse o conteúdo completo através do QR Code.
Assista ao vídeo:
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