GUERRA EM ISRAEL
Negociações prosseguem no Catar em busca de uma trégua em Gaza
Hamas apresentou uma nova proposta para aceitar cessar-fogo de seis semanas
Por AFP
Os mediadores entre Israel e Hamas prosseguiam nesta terça-feira, 19, com os esforços para negociar uma trégua, após mais de cinco meses de uma guerra que devastou a Faixa de Gaza e deixou toda sua população sob a ameaça da fome.
Prestes a iniciar, na quarta-feira, a sexta viagem ao Oriente Médio desde o início do conflito, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que toda a população de Gaza enfrenta "níveis severos de insegurança alimentar aguda".
"É a primeira vez que uma população inteira é classificada desta maneira", disse o secretário de Estado, baseado nos dados de um relatório publicado pela ONU na segunda-feira.
A viagem de Blinken a Arábia Saudita e Egito servirá para abordar as negociações sobre uma eventual trégua em Gaza, que nos últimos dias parecem ter avançado um pouco.
Na semana passada, o Hamas apresentou uma nova proposta de acordo na qual aceitava um cessar-fogo de seis semanas, ao invés de uma trégua definitiva como exigia até então.
Na segunda-feira, o diretor do serviço de inteligência israelense, David Barnea, visitou Doha para uma reunião com autoridades egípcias e o primeiro-ministro do Catar.
O chefe do Mossad deixou Doha nesta terça-feira, mas as negociações prosseguem entre as equipes técnicas para examinar os detalhes de um potencial acordo, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari.
"Esperamos que uma contraproposta seja apresentada ao Hamas, mas esta não será a última etapa do processo", declarou.
"Não penso que podemos dizer que estamos perto de um acordo. Estamos prudentemente otimistas porque as negociações foram retomadas, mas é muito cedo para anunciar um sucesso", afirmou.
Operação em um hospital
Os combates persistem na Faixa, onde as tropas israelenses prosseguiram com a operação iniciada na véspera contra o hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza.
O Exército israelense afirmou na segunda-feira que "eliminou" mais de 40 "terroristas" dentro e nos arredores do complexo e que "mais de 200 supostos terroristas" foram detidos no hospital.
As informações obtidas pelos militares indicam que "dirigentes do Hamas" utilizavam o hospital, o maior da Faixa, que já havia sido alvo de um ataque israelense em 15 de novembro.
O Ministério da Saúde do Hamas informou nesta terça-feira que "dezenas de mártires e feridos" foram observados nos arredores do hospital, assim como em dois bairros da cidade.
Desde o início da guerra, os hospitais de Gaza são alvos recorrentes do Exército israelense, que acusa o movimento islamista Hamas de usar civis como escudos humanos.
O conflito começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas contra o sul de Israel, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Israel iniciou uma operação na Faixa de Gaza com o objetivo de "aniquilar" o Hamas, que governa o território desde 2007.
Os bombardeios aéreos e a incursão terrestre israelense deixaram 31.819 mortos até o momento, segundo o Ministério da Saúde do território.
Os milicianos islamistas também sequestram mais de 250 pessoas no ataque de outubro. O destino dos 130 que continuam em cativeiro em Gaza, incluindo 33 supostamente mortos, é um dos temas mais delicados das negociações para uma trégua.
"A fome como método de guerra"
Quase desde o início da guerra, Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza e controla o acesso da ajuda humanitária, que entra em grande parte do Egito e segue até a cidade de Rafah, no extremo sul do território.
A ajuda raramente chega ao norte do território, onde vivem quase 300.000 pessoas que, segundo o relatório divulgado na segunda-feira pela ONU, enfrentarão um cenário de fome até maio caso nenhuma medida seja adotada.
No mesmo relatório, as agências da ONU alertam que metade da população de Gaza enfrenta uma situação alimentar "catastrófica".
O alto comissário das Nações Unidas para os Direito Humanos, Volter Turk, advertiu que as restrições à entrada de ajuda em Gaza "podem equivaler a utilizar a fome como método de guerra, o que constitui um crime de guerra".
A situação pode piorar se Israel iniciar uma operação terrestre contra Rafah, a porta de entrada da maior parte da ajuda e refúgio de quase 1,5 milhão de pessoas.
Em uma ligação telefônica, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que envie uma delegação a Washington para discutir "formas de atacar o Hamas sem efetuar uma vasta ofensiva terrestre em Rafah".
Netanyahu reiterou ao aliado sua determinação de "alcançar todos os objetivos da guerra" em Gaza, incluindo a "eliminação do Hamas".
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