Opositor russo Navalny é condenado a mais 9 anos de prisão | A TARDE
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Opositor russo Navalny é condenado a mais 9 anos de prisão

Sentença, que acusa Alexei Navalny de fraude, inviabiliza sua candidatura nas próximas eleições da Rússia

Publicado terça-feira, 22 de março de 2022 às 21:51 h | Atualizado em 22/03/2022, 22:02 | Autor: AFP
A pena de nove anos do oponente anula e substitui os dois anos e meio que já cumpria e inclui o ano já cumprido
A pena de nove anos do oponente anula e substitui os dois anos e meio que já cumpria e inclui o ano já cumprido -

Uma juíza russa condenou nesta terça-feira, 22. Alexei Navalny a nove anos em uma colônia penitenciária de "regime estrito", intensificando a pressão contra o principal oponente do Kremlin em meio à ofensiva da Rússia na Ucrânia.

Paralelamente, o governo russo reforça seu arsenal jurídico para reprimir qualquer crítica ao governo.

O exemplo mais recente é a aprovação nesta terça-feira de uma lei que prevê sanções significativas para punir "informações enganosas" sobre as ações de instituições russas no exterior.

A pena de nove anos do oponente anula e substitui os dois anos e meio que já cumpria e inclui o ano já cumprido.

Os Estados Unidos condenaram esta última decisão, dizendo que ela busca "apagar" vozes dissidentes na Rússia e "esconder" a guerra na Ucrânia.

"A decisão simulada do tribunal é a mais recente de uma série de tentativas de silenciar Navalny", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

A União Europeia (UE) também condenou "firmemente" a nova sentença e denunciou um veredicto com "motivações políticas".

"Reiteramos nosso apelo às autoridades russas para sua libertação imediata e sem condição", afirmou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Navalny, preso no início de 2021, foi condenado por "fraude" e "desacato" a um juiz, acusações que considera políticas.

Salvo no caso de uma improvável vitória do recurso de apelação, ele terá de cumprir sua pena em uma "colônia penal de regime severo", ou seja, em lugar isolado com condições de detenção muito mais duras nas chamadas colônias "gerais". É o caso de Pokrov, onde está detido atualmente.

Foi nesta colônia penitenciária, 100 km ao leste de Moscou, onde o opositor estava sendo julgado desde meados de fevereiro em uma sala improvisada.

"Putin tem medo da verdade, eu sempre disse isso. A luta contra a censura, levando a verdade ao povo da Rússia, continua sendo nossa prioridade", tuitou Navalny, após o anúncio de sua condenação.

O ativista anticorrupção e ex-advogado, de 45 anos, compareceu à audiência com o uniforme de presidiário, com o rosto abatido, e ouviu o veredicto com as mãos nos bolsos, entre sorrisos e conversas com os advogados.

Após o veredicto, os advogados foram detidos brevemente, na saída da prisão, constatou um periodista da AFP no local. Sua detenção se deu depois que a polícia advertiu-os a deixarem a rua, no momento em que conversaram com os repórteres.

Uma centena de jornalistas puderam ver a transmissão em vídeo da audiência em uma sala instalada na colônia penitenciária.

Apenas um partidário do opositor se manifestou do lado de fora da prisão, afirmando que "Navalny é um herói (...) as pessoas ficam em casa, têm medo", disse Leonid Banionis.

Repressão

No caso julgado nesta terça-feira, os investigadores acusaram Navalny de desviar milhões de rublos em doações para suas organizações anticorrupção e de "desacato" durante um processo anterior. 

Navalny denunciou as acusações "fictícias" e "ordenadas pelo Kremlin" para mantê-lo na prisão o maior tempo possível.

Conhecido por suas investigações sobre a corrupção e o estilo de vida das elites russas, o ativista é alvo da repressão das autoridades há mais de dois anos.

Em agosto de 2020, ele ficou gravemente ferido na Sibéria, vítima de um envenenamento com um agente neurotóxico ordenado, segundo ele, pelo presidente russo. O Kremlin nega, mas as autoridades russas nunca investigaram a suposta tentativa de assassinato. 

Em seu retorno à Rússia, em janeiro de 2021, após cinco meses de convalescença, ele foi preso e condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de "fraude" de 2014 relacionado à empresa francesa Yves Rocher.

Em junho de 2021, suas organizações, que atuavam em toda Rússia, foram classificadas como "extremistas" e proibidas, o que levou muitos ativistas a partir para o exílio para evitar processos. Outros foram detidos e enfrentam duras penas de prisão. 

A repressão na Rússia foi acompanhada pela proibição dos mais recentes meios de comunicação e ONGs críticas ao Kremlin.

A este respeito, o Tribunal Supremo da Rússia rejeitou um pedido de suspensão da dissolução da ONG Memorial, confirmando seu desmantelamento.

De sua colônia penitenciária, Navalny continua a transmitir mensagens contra Vladimir Putin e a ofensiva na Ucrânia. Também continuou a convocar manifestações contra o conflito, apesar dos riscos envolvidos.

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